Em outubro do ano passado, a Sotran passou a adotar oficialmente o nome Tmov, antes usado apenas na plataforma de marketplace criada pela companhia para conectar caminhoneiros com embarcadores de carga (principalmente do agronegócio).

Desde então, é justo, e quase perdoável, dizer que a companhia vem realizando um “caminhão” de mudanças para diversificar seu negócio e seu público. Sob o novo nome, a companhia que previa faturar R$ 2 bilhões neste ano passou a olhar para novos mercados.

Nesta quinta-feira, 10 de novembro, a empresa comandada pelo americano Charlie Conner consolidou a mudança ao criar uma joint venture com a Lenarge, transportadora especializada em mineração, siderurgia e construção civil.

“Nascemos no agro, mas sempre buscamos novos horizontes e queríamos trabalhar com cargas que fizessem sentido para o caminhoneiro”, diz Charlie Conner, CEO da Tmov em entrevista ao NeoFeed. “O mercado mais óbvio era esse de mineração e siderurgia e onde a Lenarge é muito atuante.”

Fundada em 1998, a Lenarge é uma das maiores empresas de transporte de cargas de mineração, siderurgia e construção civil e tem atuação em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Pará e região Nordeste. Em 2021, a companhia transportou 10 milhões de toneladas e registrou receita de RS 1 bilhão. A previsão para este ano é crescer 20%.

“Investir em tecnologia não é barato e demanda muito tempo. Estávamos monitorando este mercado há três ou quatro anos”, diz Márcio Afonso de Moraes, sócio e diretor-presidente da Lenarge. “Estamos no mercado há alguns anos e sabemos que, inevitavelmente, não há como seguir em frente sem ter tecnologia dentro do nosso negócio.”

A união de forças entre os dois negócios dá vida a uma nova empresa, ainda sem nome definido, e que já nasce com uma frota de 1 mil caminhões que são usados para atender clientes como ValeArcelorMittal, Gerdau e CSN.

Em termos financeiros, o novo negócio tem previsão gerar um faturamento adicional de R$ 500 milhões neste ano. A previsão é de crescimento de 20% na receita desta operação para 2023.

Os empreendedores explicam que enquanto a Lenarge entra com uma frota robusta que opera em um novo mercado, a Tmov embarca a tecnologia dentro do negócio. O trabalho da companhia de Conner será digitalizar as ofertas de frete da transportador e expandir as possibilidades de atuação da transportadora com o uso da plataforma.

A parceria com a Lenarge pode ser a primeira de uma série de outros movimentos semelhantes que a Tmov poderá fazer nos próximos meses. “Estamos em conversas o tempo todo e temos vários modelos. Não precisa ser um abraço societário como este que fizemos agora”, diz Conner. O executivo diz que tem no radar outros segmentos de alimentação e insumos.

Márcio Afonso de Moraes, sócio e diretor-presidente da Lenarge

Sem revelar outros números, Conner diz que a empresa já nasceu gerando caixa e que hoje tem “um Ebitda muito considerável”.

Em fevereiro do ano passado, a Tmov levantou R$ 100 milhões em um aporte realizado pelo grupo brasileiro FitPart, que já investiu em empresas como Unidas e Stone, e pelo fundo de private equity americano Arlon Group – no qual Conner atuava com head antes de se dedicar a operação da logtech.

O dinheiro vem sendo usado no desenvolvimento da plataforma de marketplace que hoje já atende 100 mil usuários por mês e conta com 900 empresas embarcadoras cadastradas e que utilizam o serviço, entre elas estão gigantes como BRF, JBS e Cargill.

A Tmov planeja intensificar sua plataforma de serviços para oferecer mais benefícios para quem está atrás do volante dos caminhões. Desde o ano passado a empresa oferece uma carteira digital e soluções de crédito para os caminhoneiros.

O microcrédito oferecido atualmente é de até R$ 5 mil e vem do próprio balanço da empresa. A intenção é dar mais escala ao negócio. Para isso, Conner afirma que a companhia vai analisar, no ano que vem, a possibilidade de firmar parcerias com empresas do setor financeiro e o uso do instrumento de FIDC.

Na disputa por este mercado estão companhias como Frete.com (criada com a união da CargoX e a Fretebras) e TruckPad.

A primeira, comandada pelo argentino Federico Veja, atingiu o patamar de unicórnio no ano passado e já transportou mais de R$ 2,5 trilhões em mercadoria. A companhia também está ativa no mercado de M&As. Em julho, Vega afirmou ao NeoFeed que a empresa tinha R$ 300 milhões para comprar startups de logística.

A TruckPad, por sua vez, foi incorporada à operação da JSL, do Grupo Simpar, em março deste ano em um acordo de aquisição no valor de R$ 10 milhões e no qual a nova proprietária assumiria as dívidas do negócio. Na época, a startup contava com cerca de 800 mil motoristas, sendo 70 mil ativos, e 30 mil transportadoras de pequeno e médio porte.