Câmbio depreciado, inflação elevada, juros em alta e atividade econômica mais fraca. Esse é o cenário que se desenha para o ano, impondo doses de cautela ao mercado financeiro e sugerindo um período desafiador para as empresas brasileiras.
Prevendo “águas turbulentas”, o UBS realizou um amplo ajuste para baixo de suas projeções para os resultados das principais companhias de consumo doméstico.
As estimativas médias de lucro para este ano e o próximo foram revisadas para baixo em 19%. Os analistas também reduziram as previsões de vendas em 1% e de Ebitda em 4%. Com essas novas premissas, o banco cortou em 24% o preço-alvo das ações do setor.
O UBS destacou o nível de endividamento e as posições de caixa como “temas-chave” para as empresas do segmento, diante da Selic projetada em 15%.
O relatório aponta que, embora muitas empresas tenham aproveitado a exuberância do crédito privado no último ano para reduzir spreads, alongar dívidas e melhorar a eficiência do custo de capital, taxas de juros mais elevadas deverão impactar significativamente a lucratividade das companhias mais endividadas.
Apesar da melhora na eficiência financeira, os analistas cortaram a projeção de lucro para 2025 do Magazine Luiza em dois terços, para R$ 146 milhões. O preço-alvo da varejista foi reduzido de R$ 14 para R$ 7,50, frente à cotação de R$ 6,37. A recomendação para a ação foi mantida como neutra.
“A esperada desaceleração do consumo, as condições de crédito mais restritivas e um cenário desafiador para o e-commerce devem prejudicar os resultados operacionais. Enquanto isso, taxas de juros mais altas devem aumentar a pressão sobre a rentabilidade líquida”, escreveram.
A visão também é negativa para as grandes redes de hipermercados, que estão entre as mais sensíveis à alta de juros, na avaliação do UBS. No caso do Grupo Pão de Açúcar, o banco rebaixou a recomendação para venda, com um preço-alvo de R$ 2,50, contra R$ 2,87 no último pregão.
O UBS projeta que o GPA encerrará 2025 com um prejuízo líquido de R$ 560 milhões (ante R$ 470 milhões previstos anteriormente) e 2026 com perdas de R$ 271 milhões (contra a projeção anterior de R$ 9 milhões).
Já Assaí e Carrefour devem registrar lucro, mas abaixo do esperado. No caso do Carrefour, que teve o preço-alvo cortado de R$ 9,50 para R$ 6,50, o lucro previsto para 2025 foi reduzido em 20%, para R$ 1,2 bilhão, e em 23% para 2026, para R$ 1,7 bilhão. Já as estimativas de lucro do Assaí foram cortadas em 33%, para R$ 655 milhões em 2025 e R$ 960 milhões em 2026.
Entre os destaques positivos, o Grupo Mateus deve sentir um impacto menor, devido à sua forte operação no Nordeste e à menor concorrência em suas principais regiões. O UBS projeta que a varejista manterá um crescimento acelerado, com CARG superior a 17% entre 2024 e 2028.
“O Grupo Mateus deve colher os frutos da eficiência de custos e da diluição dos investimentos logísticos realizados nos últimos anos”, aponta o relatório. A expectativa é de um aumento de 7,2% nas vendas em mesmas lojas e um lucro líquido de R$ 1,486 bilhão em 2025.
As ações do Grupo Mateus figuram entre as principais recomendações do UBS no setor, ao lado de C&A e Smart Fit, com preço-alvo de R$ 8. Para C&A e SmartFit, cujos preços-alvos são de R$ 12,50 e R$ 24, respectivamente, os analistas esperam expansão de lojas e ganhos de market share, impulsionados pela maior fraqueza de competidores.
Nos planos da Smart Fit está a abertura de mais de 300 academias neste ano, superando a marca de 2.000 unidades, como detalhou Diogo Corona, chief operating office (COO) da companhia, em entrevista recente ao NeoFeed.
Já a C&A se prepara para um novo ciclo de crescimento. O volume de investimento foi de R$ 172,1 milhões nos três primeiros trimestres de 2024. E, para 2025, a empresa espera aumentar o valor dos cheques.