Os últimos dias foram agitados na sede administrativa da Unipar no Itaim Bibi, em São Paulo. O CEO da petroquímica, Mauricio Russomanno, o diretor financeiro, Antonio Marco Campos Rabello, e o presidente do board, Bruno Soares Uchino, comandaram um trabalho complexo que pode mexer com o setor nacional e internacional de derivados de óleo e gás: uma proposta de aquisição pela Braskem, a líder no mercado de resinas termoplásticas (polietileno, polipropileno e PVC) das Américas.

Pouco antes da virada de sábado para domingo, 11 de junho, a companhia publicou um fato relevante confirmando a proposta não vinculante de aquisição de controle da Braskem. A operação prevê o pagamento parcial dos bancos credores e uma renegociação para o saldo da dívida remanescente. A proposta não vinculante é de R$ 10 bilhões.

Pelas condições de aquisição indireta proposta à Novonor, com quem a Unipar tem negociado diretamente, a petroquímica estabeleceu as condições de tratar, também, com Petrobras e bancos credores, além de uma possibilidade de refinanciamento do endividamento da Braskem. A ideia é trocar parte da dívida por debêntures.

A estrutura societária da Braskem é dividida entre Novonor, com 38,3% do capital total, Petrobras, com 36,1% e acionistas minoritários com os 25,6% restantes. Ao todo, são 451,67 milhões de ações ordinárias emitidas. Na sexta-feira, 9 de junho, o valor de mercado da companhia era de R$ 20,4 bilhões.

“A companhia lançará uma oferta pública de aquisição de ações (OPA) por alienação de controle da Braskem para a aquisição de ações ordinárias e das ações preferenciais classe A e classe B de titularidade dos acionistas minoritários da Braskem e uma tender offer (oferta pública para fechar o capital na bolsa de valores) para aquisição de até a totalidade das ações preferenciais classe A representadas por ADRs e listadas no New York Stock Exchange”, informa o comunicado da Unipar.

E complementa: “No momento adequado, a companhia negociará com a Petrobras sua participação nos termos da Operação, de forma satisfatória a todas as partes envolvidas, que poderá eventualmente incluir a renegociação do atual Acordo de Acionistas, dentre outros aspectos relevantes, para sua adequação à nova estrutura de capital da Braskem”.

No fim do primeiro trimestre, a dívida bruta da Braskem era de US$ 2,2 bilhões e a dívida líquida de US$ 1,8 bilhão, o que dá uma relação de 12x a geração de caixa da empresa. Com liquidez de US$ 355 milhões, o que garante os pagamentos pelos próximos dois anos, o prazo médio do endividamento era de cerca de 7,6 anos, com 93% de vencimento após 2029.

“A nossa proposta prevê um equilíbrio entre os interesses e necessidades da Novonor, Petrobras, acionistas minoritários e bancos credores da Braskem”, diz Uchino, presidente do conselho da Unipar, em nota oficial.

A Unipar não é a única interessada nos ativos da Braskem. No ano passado, a holding J&F, dos irmãos Batista, donos da JBS, demonstraram intenção de adquirir apenas a parte da Novonor e manter a sociedade com a Petrobras.

Já a estatal de petróleo Adnoc, de Abu Dhabi, e o fundo de private equity americano Apollo fizeram uma proposta de, aproximadamente, US$ 7,2 bilhões pela Braskem, mas as acionistas controladoras não se interessaram em dar prosseguimento às conversas.

O que dá confiança à Unipar nessa tratativa é o seu último balanço. A receita líquida somou R$ 7,3 bilhões em 2022, alta de 15,6% em base anual, sendo o maior montante da história, e o lucro líquido consolidado foi de R$ 1,3 bilhão. A petroquímica encerrou o ano passado com dívida líquida negativa: R$ 1,3 bilhão de dívida bruta e R$ 1,4 bilhão em caixa.

“A proposta de aquisição da Braskem está consistente e aderente com o direcionamento estratégico comunicado ao mercado”, disse Russomano.

Na bolsa, a ação ordinária da Unipar está em queda de 13,2% no ano e recua 8,1% em 12 meses. Já o papel da Braskem sobe 1,5% em 2023, mas cai 41,3% em 52 semanas.