No meio de um mercado ainda difícil para investir em startups, Leonardo Tonini, ex-CMO da Mondelez, e Eduardo Moraes, fundador da Latinex Brands, companhia adquirida, em 2021, pela M. Dias Branco por até R$ 272 milhões, estão criando uma casa de investimentos.

A Emerge Ventures nasce com capital próprio da dupla e a tese de investir em marcas emergentes de bens de consumo, uma área que não tem tanto apelo para fundos de venture capital (VC), que focam seus aportes em companhias com uma pegada tecnológica.

“Olhamos para o Brasil e percebemos uma oportunidade imensa”, diz Tonini, com exclusividade, ao NeoFeed. “Poucas marcas de consumo atravessam o vale da morte. A maioria delas faturam entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões e não passam desse patamar.”

O alvo da Emerge Ventures serão empresas de bens de consumo de giro rápido nas verticais de alimentos, bebidas, suplementos, cosméticos e pets e que faturem de R$ 10 milhões a R$ 50 milhões ao ano. Na visão de Tonini, são companhias que já têm produto testado e, ao menos, um canal de vendas tracionando.

A tática de investimento será a de private equity, pois a Emerge Ventures quer ter uma posição majoritária do negócio ou uma participação relevante, atuando ativamente na gestão da companhia.

Os cheques, no entanto, serão próximos de fundos de venture capital que investem em startups iniciantes e podem chegar a até R$ 10 milhões. Neste ano, o plano é fazer cinco investimentos. “O modelo de execução é o do private equity, mas adaptamos para o venture capital”, afirma Tonini.

O objetivo da Emerge Ventures, quando investir em uma empresa, será o de atuar na área de marketing, distribuição e finanças. No ato do aporte, Tonini e seu sócio já avaliam também qual poderá ser a saída. Pelo perfil de empresas que apostam, fundos de private equity ou estratégicos serão os alvos.

A ideia é replicar a estratégia da Vhita, empresa de suplementos focada em saúde preventiva para o público adulto, que recebeu investimento da dupla no ano passado, no que foi considerado um teste para a criação da Emerge Ventures.

Neste caso, a nova casa de investimentos comprou uma fatia majoritária da Vhita e entrou de cabeça na gestão da companhia, estruturando os canais de aquisição, a gestão de publicidade e a contratação de profissionais.

De acordo com Tonini, o investimento foi feito quando a companhia faturava menos de R$ 10 milhões. E, em um ano, a empresa triplicou a receita. “Ela já passou do patamar de R$ 10 milhões”, diz o fundador da Emerge Ventures.

O trabalho foi o de estruturar a área financeira e criar uma máquina de ads. Foram desenvolvidos centenas de anúncios por mês, que são publicados em mídias pagas como Google e Facebook, mas que se adaptam aos públicos-alvo.

Leonardo Tonini (à esq.) e Eduardo Moraes, sócios da Emerge Ventures
Leonardo Tonini (à esq.) e Eduardo Moraes, fundadores da Emerge Ventures

Tonini é um executivo que atuou por mais de 20 anos na Mondelez, gigante americana que é dona de marcas como Trident, Bis, Oreo, Lacta, Tang e Club Social e faturou US$ 36 bilhões em 2023.

Ele diz ter sentido na pele as dificuldades que essas empresas gigantes do setor de alimentação têm para inovar e renovar suas marcas.

Por outro lado, marcas pequenas, que trabalham em setores nichados, surgem o tempo inteiro, mas não conseguem escalar.

Seu sócio na Emerge Ventures, Eduardo Moraes, é um exemplo de um empreendedor que conseguiu romper essa barreira com a Latinex Brands, empresa de snacks doces e salgados, temperos e condimentos.

A companhia foi vendida em 2021 para M. Dias Branco por R$ 180 milhões, com o negócio podendo chegar a R$ 272 milhões, dependendo de cumprir determinadas metas de desempenho.

No Brasil, poucos fundos de venture capital atuam com o varejo "puro sangue". Em geral, optam por investir nas chamadas retails tech, como é o caso da HiPartners, cujos sócios são Walter Sabini Jr., Eduardo Terra, Alberto Serrentino e Germán Quiroga.

A G2D, gestora ligada à GP Investments, também aposta em companhias de consumo via a The Craftory, gestora britânica na qual detém participação. Mas os aportes são em marcas globais de bens de consumo, ativas digitalmente e com propósitos fortes.

O portfólio da The Craftory inclui a foodtech de produtos à base de plantas NotCo, a fabricante de cápsulas biodegradáveis de detergente Dropps e a produtora de fraldas infantis sustentáveis à base de bambu Dyper.