A Agrolend, um banco digital que financia produtores rurais, captou R$ 300 milhões em uma rodada série C liderada pelo fundo de private equity Creation Investments, gestora global de Chicago com foco em empresas de serviços financeiros em mercados emergentes, e pelo braço de corporate venture capital (CVC) da gigante americana de insumos agrícolas Syngenta.

O aporte é um dos maiores já feitos em uma agtech brasileira, ficando atrás apenas da rodada da Solinftec, startup especializada em tecnologias para monitoramento de safra, que captou US$ 60 milhões em 2022, segundo dados do Sling Hub – em dólar, a captação da Agrolend é de US$ 53 milhões.

Participaram também da rodada outros investidores estratégicos, como a L4 Ventures, da B3, a Vivo Ventures e o banco japonês Norinchukin Bank (Nochu Bank), focado no agronegócio e que tem aproximadamente US$ 1 trilhão de ativos. Os atuais investidores, como a Valor Capital, Lightrock, Yara Growth Ventures, Provence Capital, SP Ventures e Barn Invest, seguiram o aporte.

“É uma rodada diversificada, quase um mini-IPO que fechamos sozinhos”, diz Andre Glezer, cofundador e CEO da Agrolend, ao NeoFeed. “O agro está passando por um momento difícil. Levantar capital dessa forma e pronto para atender o setor, neste momento, é uma oportunidade.”

A negociação do aporte durou um ano e teve demanda para US$ 70 milhões, de acordo com Alan Glezer, o CFO da Agrolend. A agtech não abriu o valuation, mas diz que é bem superior ao da última rodada, de novembro de 2022, quando levantou R$ 145 milhões, em aporte liderado pela Lightrock

No fim da rodada, a agtech fundada por Andre, Alan, Valéria Bonadio, Leopoldo Vettor e Carlos Fagundes conseguiu escolher a base de acionistas que acreditava que fazia sentido estratégico aos seus planos de expansão.

A Creation Investments, por exemplo, faz seu primeiro aporte em uma empresa brasileira – a gestora tem investimentos no México e no Peru na América Latina. E, com a Syngenta, a Agrolend traz um importante nome do setor de insumos para dentro de seu cap table.

A entrada Nochu Bank dá acesso a um banco focado no agronegócio e a investidores japoneses. E os CVCs de B3 e Vivo são estratégicos. O primeiro, por conta de operações da Agrolend que são feitas na bolsa brasileira – a agtech levanta funding através de LCAs. E a segunda tem planos de crescer no agronegócio.

Quase 100% da rodada é primária – em torno de 5% é secundária e vai dar saída para investidores-anjo. Os recursos serão usados para reforçar o balanço da Agrolend e ampliar a sua base de capital para aproximadamente R$ 500 milhões.

Com isso, a agtech poderá aumentar a sua alavancagem. O objetivo é expandir a carteira de crédito para R$ 3 bilhões, servindo aproximadamente 10 mil produtores rurais de pequeno e médio porte em todo Brasil.

Outro efeito do aporte é a ampliação da oferta de crédito da Agrolend, que pretende, agora, fazer cheques maiores. A agtech atende produtores rurais de pequeno e médio porte para compra de  insumos agrícolas, como sementes, defensivos e fertilizantes com cheques, em média, de R$ 350 mil e de duration, médio, de oito meses.

Os fundadores da Agrolend (da esq. à dir.): Carlos Fagundes, Leopoldo Vettor, Valéria Bonadio, Andre Glezer e Alan Glezer

Agora, o plano é atender o atacado (revendas e a indústria), em operações maiores, que podem variar de R$ 5 milhões a R$ 50 milhões. “Estamos, agora, trabalhando numa operação de crédito de R$ 10 milhões”, afirma Alan Glezer.

Com uma plataforma 100% digital, a Agrolend tem uma licença de Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimento, autorizada pelo Banco Central do Brasil. O empréstimo é formalizado via a emissão de emissão de uma CPR-F, assinada via WhatsApp do produtor. Hoje, o banco digital tem mais de 12 mil depositantes e já forneceu R$ 1,2 bilhão em crédito.

A agtech trabalha com taxas, nas operações mais baratas, entre 14% e 15% ao ano. Nas esticadas, o juro fica entre 18% e 20%. “Depende do modelo de garantias, do prazo e do tamanho da operação”, afirma Alan Glezer.

A taxa de inadimplência, que estava perto de zero em 2023, subiu para aproximadamente 4% neste ano, com os problemas enfrentados pelo setor agrícola – o caso mais notório é a recuperação judicial da Agrogalaxy, rede de venda de insumos do fundo de private equity Aqua Capital.

A rodada da Agrolend é a maior rodada em um agtech no Brasil em 2024 e uma das maiores deste ano, um sinal de que o capital para growth está voltando, mas de forma cautelosa.

O maior aporte de 2024 é na Órigo Energia (US$ 400 milhões), segundo a Sling Hub. Na sequência vem a Asaas (US$ 150 milhões), Celcoin (US$ 125 milhões), CRMBonus (77 milhões) e Cayena (US$ 55 milhões).

As startups que conseguiram levantam capital são aquelas que sobreviveram à seca de recursos e estão com as suas finanças em ordem. No ano passado, a Agrolend, por exemplo, diz que teve um lucro de R$ 10 milhões antes do imposto de renda.