A fintech Bloxs, que iniciou as suas atividades em 2018 como plataforma de crowdfunding B2C, lança nesta segunda-feira, 16 de outubro, uma plataforma para o mercado de capitais para emissões de operações estruturadas, como como CRI/CRA, FIDCs e recebíveis, no small e middle market.

Este tipo de empresas está longe dos grandes bancos de investimento, mas cada vez ganha mais espaço com agentes do mercado financeiro adentrando o país e originando produtos, e gestores procurando por eles.

O lançamento da plataforma foi possível graças às resoluções 88 e 160 da CVM, de julho de 2022, que permitiu que uma instituição não-financeira pudesse coordenar uma oferta pública, dando a possibilidade de fazer o chamado open capital market, na linguagem do mercado.

“O regulador está cada vez mais trazendo a possibilidade do open capital market, descentralizando o mercado dos grandes bancos", afirma Felipe Souto, fundador e CEO da Bloxs, em entrevista exclusiva ao NeoFeed. "Assim como o Nubank se tornou um grande banco, sem ser banco, para atender um público ignorado, nós queremos ser um investment banking, sem ser banco, para as pequenas operações estruturadas.”

Antes, o grupo Bloxs estava focado em fazer crowdfunding em project finance para pequenas e médias empresas. Desde 2018, já passaram pelos sistemas da Bloxs mais de R$ 19 bilhões em operações de 5 mil empresas cadastradas.

A plataforma conta com mais de 1,3 mil parceiros originadores de negócios, com presença física em todo o Brasil, e possui 35 mil investidores individuais com perfil qualificado e cerca de 300 investidores institucionais com perfil profissional. Em 2020, a empresa recebeu um aporte de R$ 3 milhões da gestora de fundos venture capital DOMO Invest.

Com o tempo, essas empresas foram crescendo e necessitando de outras soluções de financiamento, o que levou a empresa a operar como securitizadora e a desenvolver outras unidades de negócios e soluções para o B2B e B2B2C. E depois a entender que existia um gap nesse mercado que precisava ser solucionado.

"Marketplace" de operações estruturadas

A solução, uma plataforma online com tecnologia proprietária, reúne um ecossistema dedicado àqueles que atuam com operações estruturadas entre R$ 1 milhão e R$ 150 milhões, através da oferta de soluções modulares para todo o mercado, customizadas de acordo com a jornada de cada perfil de usuário.

Organizado em quatro verticais principais (Originação, Estruturação, Distribuição e Acompanhamento), o CONNECT, nome dado à nova plataforma da Bloxs, é formado por módulos e soluções.

Elas foram desenvolvidas para atender às demandas específicas para cada etapa do ciclo de uma operação estruturada, com possibilidades de usos para diferentes perfis de usuários como gestoras de recursos, hubs de inovação, marketplaces, boutiques de investment banking e fintechs.

A proposta é que a tecnologia otimize um trabalho que é feito muito manualmente em ofertas primárias estruturadas no mercado de capitais (como CRI/CRA, FIDCs e recebíveis), que é encontrar potenciais interessados em emissões de dívidas, e deixar todas as partes necessárias para a sua estruturação em comum acordo com as condições da oferta e sua remuneração.

A ausência de padronização para as operações estruturadas no Brasil onera e dificulta o acesso ao mercado, principalmente para as operações de menor porte. O tempo perdido com idas e vindas de documentos entre as partes são um bom exemplo de ineficiência que pode ser reduzido com a tecnologia.

Dessa forma, a plataforma atua quase como um marketplace de potenciais deals para um clube de gestores institucionais que procuram esses produtos, permitindo que a parte vendedora e compradora deem um match nos requisitos do produto, como tamanho da captação, remuneração, a securitizadora e o escritório de advocacia que serão usados e outros detalhes.

“Hoje, há muitas boutiques de investment banking pelo Brasil, braços de muitas assessorias de investimentos ou de outras empresas de investimentos, que encontram a oportunidade de originar pequenos deals. Mas achar os investidores para eles demanda tempo e recursos que acabam impossibilitando a sua estruturação”, diz Souto.

De acordo com Souto, a proposta da Bloxs é que com a plataforma qualquer um possa originar um deal, e encontrar a demanda no mercado para essa originação. "E, assim, nasça uma estruturação padronizada e já com a escala necessária entre as partes”, afirma.

As primeiras integrações, ainda em fase beta, reúnem serviços especializados como tokenização e securitização as a service, bancarização de operações, escrituração, custódia, liquidação, diligência legal, além de ‘servicers’ dedicadas ao monitoramento das operações.

A plataforma já começa a operar com mais de 1.500 CNPJs parceiros, originadores, e cerca de 200 gestores de ativos plugados para procurarem os deals.

A Bloxs tem uma securitizadora, uma boutique de investment banking e outros players desse ecossistema, CNPJs que estão plugados a plataforma como opção dos clientes junto à terceiros já parceiros. E a arquitetura é aberta, permitindo o convite a uma empresa para compor o negócio, caso o usuário seja por outro parceiro ainda não integrado à plataforma.

Os players são remunerados pela estruturação da dívida após a emissão, como normalmente acontece no mercado de capitais. E, de início, o uso da plataforma será gratuito, mas depois será cobrada uma assinatura para o seu uso.

Na visão do fundador e CEO da Bloxs, o fato de menos de 1% das empresas brasileiras ativas terem acessado o mercado de capitais de alguma forma é explicado pela falta de padrão, deficiência de dados, pouca digitalização dos processos e, até pouco tempo, arcabouço regulatório defasado. Ambiente que agora a tecnologia e a regulação permitem mudar.