Um laboratório portátil que, a partir de três gotas de sangue, e da conexão com uma central e recursos de inteligência artificial, fornece laudos em minutos, no celular do paciente.
Com esse modelo, a Hi Technologies reduziu o custo e o tempo de entrega de mais de 20 tipos de exames, entre eles HIV, dengue e zika, e incomodou laboratórios tradicionais, em uma disputa que chegou à Justiça.
Agora, a healthtech paranaense, fundada em 2004, acaba de mudar de nome. Vai deixar de se chamar Hi Technologies para adotar a marca do serviço de análises clínicas que lançou em 2017 e lhe deu fama: Hilab.
Mais que um simples movimento, a mudança marca os avanços da companhia em 2020. E abre caminho para uma nova etapa de expansão da empresa, que projeta um aporte de R$ 100 milhões em 2021, destinado à ampliação do portfólio, a aquisições e a um projeto de expansão internacional.
“Temos caixa, tecnologia, clientes e quebramos barreiras importantes neste ano”, diz Marcus Figueredo, cofundador e CEO da agora rebatizada Hilab, ao NeoFeed. “A Covid-19 permitiu que respondêssemos a muitos receios do mercado e que antecipássemos nossas projeções em dois anos.”
Um passo dado, na época, e que só agora está sendo divulgado foi essencial para a startup nessa jornada. Em fevereiro, um mês antes da escalada da pandemia no País, a Hilab concluiu a captação de um investimento de US$ 10 milhões.
Com o aporte, a Península, gestora do empresário Abilio Diniz, e a Endeavor Catalyst passaram a integrar o quadro de acionistas da empresa. O trio formado por Positivo, Monashees e Qualcomm Ventures, que já compunha o time de investidores, acompanhou a rodada.
“O momento foi perfeito, porque nos ajudou na preparação para acompanhar as demandas geradas pela Covid-19”, diz Figueredo. “A rodada foi como um gatilho para consolidar um crescimento exponencial, em um intervalo muito curto, e acabou se pagando rapidamente.”
Parte desse retorno também é explicada pela velocidade com que a empresa respondeu ao coronavírus. Em 16 de março, a companhia passou a oferecer um teste rápido para a Covid-19, capaz de emitir um diagnóstico em apenas dez minutos.
Com a escassez de opções no mercado, a empresa acelerou a entrada em espaços nos quais encontrava resistência ou contava apenas com pequenos projetos piloto. Entre eles, clínicas populares, o setor público e, inclusive, laboratórios tradicionais. Até então, sua presença estava mais restrita às redes de farmácias, como a Pague Menos e a Panvel.
A partir de campanhas com governos e prefeituras, os testes foram aplicados em locais como favelas de São Paulo e junto a todo o efetivo das polícias do Estado; na favela da Rocinha (RJ); em presídios e até mesmo em aldeias indígenas.
A startup também desenvolveu parcerias com o Serviço Social da Indústria (Sesi) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para a realização de testes na indústria. Outro projeto, em associação com a Porto Seguro, envolveu o uso do Hilab nas rodovias de São Paulo.
Como saldo, o serviço da Hilab chegou a cerca de mil municípios, contra 250 em 2019. Em doze meses, contados a partir de outubro de 2019, o volume de exames realizados cresceu 50 vezes e, em 2020, ultrapassou a marca de dois milhões. A projeção é chegar a 5 milhões no primeiro trimestre de 2021.
Para acompanhar esse salto, a companhia contratou mais de 100 profissionais, o que incluiu a chegada de executivos de farmacêuticas como as americanas Pfizer e Abbott, e o reforço na operação de sua fábrica instalada em Curitiba (PR). Como resultado, a Hilab superou a barreira dos R$ 100 milhões em receita, além de projetar fechar 2020 com um faturamento superior a R$ 200 milhões.
Dose dupla
A massa crítica no volume de exames também serviu como ponto de partida para o desenvolvimento de uma ferramenta para o controle de epidemias, que já está sendo usada por planos de saúde e secretarias em todo o País, entre elas, órgãos de uma série de prefeituras no Estado de São Paulo.
A partir de dados anônimos coletados em suas análises, a plataforma permite, por exemplo, identificar as regiões de uma cidade com maior prevalência de uma determinada doença. Outros filtros, como classe social, sexo e profissão, podem ser aplicados, de acordo com a necessidade.
“Começamos com foco na Covid-19, mas já estamos estendendo a outras enfermidades, como a dengue”, explica Figueredo. “Nossos pacientes vão desde o CEO de uma multinacional até um paciente no presídio. A ideia é oferecer uma visão macro da saúde.”
Gustavo Araújo, cofundador e CEO do Distrito, destaca outras vantagens nessa abordagem. “Além do banco de dados que eles construíram, essa oferta vai sendo aprimorada à medida que os algoritmos vão sendo treinados e alimentados por mais informações”, afirma.
Em uma segunda vertente, a empresa está ampliando seu portfólio de análises clínicas. Nesta semana, a healthtech lança um pacote de testes moleculares, com métodos menos invasivos, como as amostras de saliva.
A empresa projeta fechar 2020 com uma receita de aproximadamente R$ 200 milhões
O primeiro deles será voltado à Covid-19 e, até o fim do ano, serão lançadas versões para HIV e hepatite. Em linha com o seu modelo, o plano é fornecer os resultados em menos tempo e com menor preço quando comparado aos testes similares no mercado.
“No caso do teste molecular para o coronavírus, vamos dar o diagnóstico em cerca de 30 minutos, contra 48 horas no método tradicional”, diz Figueredo. “E o preço sugerido ficará abaixo de R$ 200, ante uma média de R$ 250 a R$ 400 na rede privada.”
Novas fronteiras
O modelo praticado pela Hilab e o forte desempenho na pandemia fizeram com que a empresa antecipasse outras duas metas previstas para serem alcançadas em dois anos. A primeira delas, foi atingir o break even da operação. A segunda é captar um novo aporte, ainda sem valor definido.
“Nós sempre buscamos o sócio antes do tamanho do cheque”, explica Figueredo, que cita o que os últimos investidores trouxeram para operação. “A Península nos ensinou mais sobre varejo, consumidor e logística. Já a Endeavor Catalyst, trouxe um networking que foi extremamente importante.”
Agora, a companhia busca acionistas com conhecimentos e experiência para dar velocidade em dois outros caminhos. De um lado, a Hilab vai começar a investir em aquisições, com foco em healthtechs que possam aprimorar e complementar seu arsenal de tecnologias para o setor.
A guinada vai movimentar ainda mais um segmento que já está extremamente aquecido. Segundo o Distrito, de janeiro a outubro, entre aquisições e rodadas captadas, as startups de saúde do País atraíram US$ 62,6 milhões, em 43 acordos, um salto de 49% sobre igual período de 2019.
“Boa parte das healthtechs brasileiras foi criada a partir de 2016 e já está madura para um acordo”, afirma Araújo, do Distrito. “E a Hilab, que está há mais tempo no mercado, tem capital e know how para ser uma das líderes dessa consolidação.”
De janeiro a outubro, entre aquisições e rodadas captadas, as startups de saúde do País atraíram US$ 62,6 milhões, um salto de 49% sobre igual período de 2019
O olhar da Hilab não está restrito, no entanto, ao mercado brasileiro. E a segunda premissa por trás do seu apetite por aquisições está ligado a outra vertente que irá guiar a busca por novos investidores: o interesse em ativos que possam acelerar sua entrada em mercados fora do Brasil.
A expansão internacional pode incluir outros modelos, alguns dos quais já estão sendo testados. Em um dos formatos, a empresa mantém um piloto com um laboratório parceiro, de nome não revelado, na África.
O continente não é o único ponto no mapa a ser explorado pela companhia, que também já tem projetos em países da América Latina, como a Colômbia e o México. Com a evolução mostrada em 2020, a Hilab decidiu ampliar seu horizonte e avalia uma incursão nos Estados Unidos.
“Esse ano nos permitiu sonhar grande. Em 2017, nosso desejo era fazer exames da Avenida Paulista à Favela da Rocinha e hoje isso é realidade”, diz Figueredo. “Seria incrível fechar 2021 com o Hilab também na Quinta Avenida.”
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