O fim da primeira semana de quarentena se aproximava. Naquela sexta-feira, 20 de março, Eduardo Carone, CEO e fundador da Atlas Governance, entendeu que era o momento de proteger a startup.

Responsável por uma plataforma digital de gestão de reuniões de conselhos de administração, a empresa, assim como boa parte das companhias, estava exposta aos prováveis impactos do Covid-19.

O empreendedor decidiu recorrer aos 21 investidores da novata. No fim de 2018, o grupo, que inclui nomes como Leonardo Pereira, ex-presidente da CVM, e Paulo Camargo, CEO do McDonald’s, já havia aportado R$ 1,5 milhão na operação. Uma semana depois de fazer essa conexão, a Atlas captou uma nova rodada de R$ 1 milhão e ganhou fôlego para enfrentar a crise.

“Fui conselheiro de 23 empresas. Nelas, passei por três recuperações judiciais e vivi muitas crises”, afirma Carone. “Eu sei o que precisa ser feito em momentos como esse: caixa.”

Ele só não contava com uma das poucas facetas já conhecidas da pandemia: a imprevisibilidade. “O cenário mudou em quinze dias. O que está acontecendo é o inverso”, conta Carone. “Agora, corremos um bom risco de superar a nossa meta de fechar 2020 com 300 novos contratos.”

Fundada em 2016, a partir de um investimento de R$ 1,5 milhão do próprio bolso de Carone, a Atlas Governance oferece um software de gestão que cobre todo o ciclo das reuniões de conselhos de administração.

Do agendamento ao acompanhamento da implementação de projetos aprovados pelos boards. O acesso ao sistema pode ser feito a partir de qualquer dispositivo.

No modelo de negócios da companhia, o plano básico de acesso à plataforma inclui 25 usuários, ao custo anual de R$ 1 mil por pessoa. Atualmente, o sistema tem cerca de 3,1 mil usuários, entre conselheiros e profissionais de governança. E uma base de 115 clientes, com empresas como Riachuelo, Cyrela, Beneficência Portuguesa, Eletrobras, Cemig e Sabesp.

Com 115 clientes, a carteira da Atlas inclui empresas como Riachuelo, Cyrela, Eletrobras e Cemig

Com a quarentena no País, o uso do sistema por essa carteira ganhou tração. Em março, o número de reuniões subiu 30% e o de votações 50%. No período, o volume de usuários cresceu 10%.

“É um termômetro da crise. Os conselhos estão se reunindo com maior frequência”, diz Carone. “E as empresas estão estendendo o acesso a outros comitês, em áreas como finanças, auditoria e RH.”

Esse contexto também começa a se refletir na ampliação da carteira. Em março, foram apenas oito novos clientes, abaixo da meta estipulada de 18 contratos. Carone atribui o número ao fato de que as empresas ainda estavam se adaptando à situação.

O mês de abril mostra, no entanto, um aquecimento nas vendas. Em uma semana, seis companhias passaram a adotar o sistema. A lista inclui nomes como Hering, Banco do Nordeste e Hospital Santa Catarina.

“Vamos sair bem maiores dessa crise”, afirma Carone, que enxerga um mercado potencial no Brasil de 120 mil CNPJs. Ele entende que parte dessa demanda pelas reuniões remotas será sustentada mesmo após a pandemia ser controlada.

“Quando algum serviço físico está indisponível, a transformação digital se acelera. E uma parcela dos usuários nunca mais volta ao tradicional.”

Expansão

Mesmo com o crescimento da plataforma e a perspectiva de manutenção da demanda, Carone adota certa cautela, dadas as incertezas geradas pelo Covid-19. A princípio, o reforço no caixa ficará como uma reserva no caso de qualquer mudança nesse cenário.

A expectativa, no entanto, é de que o montante seja aplicado como parte de um plano de internacionalização que a startup já havia traçado antes da crise. Até então, a ideia era captar R$ 5 milhões no fim do primeiro semestre para investir na abertura de operações no Chile e na Argentina, ainda em 2020.

O plano da startup é iniciar sua expansão internacional com a abertura de operações no Chile e na Argentina

Os dois mercados foram escolhidos como pontapé dessa expansão a partir da análise de indicadores como número de companhias listadas em bolsa, facilidade para fazer negócios e controle de corrupção.

A Atlas já mantinha negociações com dois family offices nesses países, que entrariam como sócios dessas operações, com uma participação de até 25%.

“Com o aporte, vamos precisar de uma rodada menor”, diz Carone. Otimista, ele entende que será possível manter o plano original de consolidar esses projetos no início do segundo semestre. “Não mudamos nosso planejamento. Quando os aeroportos e países reabrirem, vamos captar o que falta e começar a trabalhar.”

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