A Honey Island Capital, empresa de venture capital criada por Wagner Ruiz, João Del Valle e Alphonse Voigt, fundadores do unicórnio de pagamentos Ebanx, está estruturando um fundo de investimento em participações com a 4UM Investimentos, gestora de recursos controlada pelos sócios do Paraná Banco.
O novo veículo que une as duas empresas paranaenses vai captar R$ 100 milhões para investir em até 15 empresas, no prazo de quatro anos. No radar estão as fintechs, além de startups B2B de software como serviço (SaaS), integradas a esse ecossistema financeiro.
“Pelo background das duas empresas, entendemos que fazia sentido focar nos serviços financeiros”, diz Mariana Foresti, sócia da Honey Island Capital, ao NeoFeed. CEO da 4UM Investimentos, Leonardo Boguszewski acrescenta: “Queremos pôr a mão onde sabemos que podemos fazer diferença.”
O foco estará nas startups em estágio inicial e nas rodadas pré-seed e seed. Os cheques irão variar entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões, com a possibilidade de seguir outros investidores que liderarem aportes série A e B. A previsão é reservar cerca de 40% do valor captado para esses follow ons.
“A ideia é acompanhar esse empreendedor em toda a sua jornada”, diz Mariana. “Desde o início até uma rodada de growth ou, eventualmente, um IPO.”
A tese mira as áreas de pagamentos, crédito, investimentos, seguros e todo o escopo de ofertas financeiras. No caso das startups de SaaS, o plano é investir em companhias donas de sistemas que conectem os diferentes elos dessa cadeia, como tomadores de crédito e provedores desse funding.
O perfil dos empreendedores e as startups que já tenham um produto com alguma tração inicial no mercado serão alguns dos outros critérios que irão guiar os investimentos do fundo.
Além dos recursos aportados, a intenção é acompanhar de perto cada startup. Isso inclui desde o diálogo com os sócios dos dois grupos e as empresas investidas dos seus respectivos portfólios até a conexão com uma rede de mentores formada, em boa parte, por profissionais do mercado financeiro.
“Nosso mote é ser um fundo formado por e para empreendedores”, diz Boguszewski. “O setor é bastante regulado e é importante ter ajuda de quem já compartilhou essa dor. Até mesmo para saber que nem sempre faz sentido assumir determinados riscos.”
Diante da febre de aportes em fintechs, os sócios do fundo entendem que esse conhecimento acumulado será essencial para atrair os empreendedores e separar o joio do trigo. Ou seja, distinguir as startups com bons fundamentos, ainda não tão valorizadas, das que apenas estão surfando essa onda.
No mercado brasileiro, o Honey Island by 4UM não é o único a dedicar seu olhar exclusivamente para as fintechs. Com a meta de captar R$ 200 milhões, o Revolut é mais um nome a mirar unicamente as startups financeiras, a partir de cheques entre R$ 10 milhões e R$ 30 milhões.
Capitaneado pela gestora Volt Partners, o fundo já levantou R$ 70 milhões e atraiu investidores de peso como o empresário Jorge Paulo Lemann, da 3G Capital, Guilherme Weege, CEO do grupo Malwee, e o multifamily office Mercury Gestão, de Armando Marracini (ex-J.P. Morgan), que representa mais de 20 famílias.
Segundo o hub de inovação Distrito, as fintechs captaram US$ 3 bilhões no período de janeiro a setembro deste ano, alta de 66% sobre o montante destinado a essas empresas em todo o ano de 2020.
Terceira fase
Em fase final de captação e com a participação dos sócios dos dois grupos, o Honey Island by 4UM está levantando recursos via instrução 476, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O formato consiste na oferta restrita a 75 investidores profissionais, dos quais, apenas 50 podem concluir o investimento.
O veículo marca, nas palavras de Mariana, o início de uma terceira fase para a Honey Island. A primeira, cumprida entre 2015 e 2018, envolvia os investimentos-anjo dos fundadores da Ebanx. Já a segunda, a partir de 2018, vieram no formato de holding, mais estruturado e com a entrada de outros investidores.
Com os dois fundos relativos a essas duas etapas iniciais, a Honey Island somou uma captação de R$ 15 milhões, que resultou em um portfólio de 15 startups. A relação de investidas inclui nomes como Kyte, Troc, Omnichat e Juno, essa última, comprada recentemente pela Ebanx.
“Queríamos uma estrutura mais profissional, com maior governança e transparência”, diz Mariana, sobre a decisão de captar recursos via um fundo de investimento em participações. “E já éramos próximos da 4UM, que tem muito know how em mercado de capitais, o que tornou natural a parceria.”
Com mais de R$ 5 bilhões sob gestão e especializada em fundos de ações, a 4UM, por sua vez, enxergou na bagagem da parceira um atalho para acessar o ecossistema de startups e diversificar sua carteira com a entrada definitiva no mercado de venture capital.
Até então, nessa seara, a gestora, em parceria com a Monashees, havia investido em startups como a Rebel, fintech de crédito que, em março desse ano, se fundiu com a Geru, do mesmo segmento, para criar a Open Co.
“Nosso racional principal é entender quais empresas representam uma ameaça para as companhias listadas”, afirma Boguszewski, sobre a aposta da gestora em venture capital. “Assim como identificar, antecipadamente, quem serão as próximas a acessar o mercado de capitais.”
Honey Island e 4UM já vislumbram outras possibilidades. “Primeiro, vamos focar na execução desse primeiro fundo”, diz Boguszewski. “Na sequência, podemos expandir, por exemplo, para um veículo semelhante, para estágios mais avançados. As possiblidades estão na mesa.”