A febre de investimentos de fintechs está ganhando um novo fundo de venture capital. É o Revolut, que está nascendo para investir exclusivamente em startups financeiras e com o cheque de investidores de peso.

Com a meta de captar R$ 200 milhões, o Revolut já tem R$ 70 milhões compromissados de investidores como o empresário Jorge Paulo Lemann, da 3G Capital, dono de empresas como AB Inbev, Restaurants Brands (Burger King e Tim Hortons), Kraft Heinz, entre muitas outras.

João Paulo Diniz (da Componente), Marcelo Lacerda (ex-CEO do Terra e um dos primeiros empreendedores da internet brasileira) e Guilherme Weege (CEO do grupo têxtil Malwee) estão também apostando no Revolut, assim como o multlifamily office Mercury Gestão, de Armando Marracini (ex-JP Morgan Chase e Banco Garantia), que representa mais 20 famílias.

Por trás do Revolut está Marcelo Peano, fundador da Volt Partners, gestora que vai cuidar do novo fundo. Peano é um ex-sócio da GP e da Lanx Capital, que geria o dinheiro de Lemann na antiga Utor Investimentos. Através de outro fundo que administra, o Pier 18 Capital, ele investiu também com Lemann na Usend, fintech dos EUA, comprada pelo Banco Inter, no fim de agosto.

“Vamos investir em fintechs maduras, que tenham receita, clientes e um modelo de negócio pronto”, diz Peano, ao NeoFeed. “Queremos acelerá-las não só com dinheiro, mas também com competência na gestão.”

Faz parte do time de managing partners do Revolut Marcia Mello e Jader Rossetto. Os dois, ao lado de Peano, vão comandar os investimentos nas fintechs da carteira. Os primeiros aporte devem começar a acontecer a partir de dezembro, quando o trio pretende fazer o primeiro fechamento do fundo. Três startups já estão no pipeline.

Marcia é uma profissional com passagens por diversas empresas de pagamentos como Cielo e Global Payments. Atualmente, é membro independente do conselho de administração da PagSeguro e preside o conselho do banco digital LetsBank.

Rossetto, por sua vez, é um publicitário premiado que, nos últimos anos, atuou na construção das marcas de diversas empresas do segmento financeiro, como XP, Clear, Nubank, Genial Investimentos (que antes se chamava Geração Futuro), Magnetis, Acordo Certo, entre outras.

Os sócios da Revolut: Marcia Melo, Marcelo Peano (centro) e Jader Rossetto

O Revolut pretende fazer cheques que variam de R$ 10 milhões a R$ 30 milhões, em rodadas séries A. O objetivo é montar um portfólio concentrado com até oito fintechs. O plano é dar um retorno rápido aos investidores, saindo rapidamente dos investimentos – o fundo, por exemplo, é de até seis anos.

A Usend exemplifica a maneira como o Revolut quer atuar. A Pier 18 Capital fez um cheque de R$ 20 milhões com Lemann há dois anos. Na época, a fintech americana já contava com 80 mil clientes e tinha uma receita de até US$ 8 milhões.

“Queremos ajudar a crescer, apertando os parafusos”, brinca Peano. “Ajudamos a contratar gente de tecnologia e de marketing e resolvemos outras questões relacionados a gestão.”

Em pouco mais de dois anos, a Pier 18 Capital saiu do negócio. Quando foi comprado pelo Banco Inter, por valor não revelado, a Usend contava com mais de 150 mil clientes e era regulada em mais de 40 estados americanos

Nesse sentido, o Revolut vai ficar de fora de grandes aportes que movimentaram o mercado brasileiros nos últimos tempos, como bancos digitais e fintechs de pagamentos que atuam de forma horizontal, atendendo diversos setores da economia.

“Temos preocupação de não entrar no oba-oba do mercado e fugir do mar aberto. Não vamos participar de rodadas de R$ 200 milhões”, diz Marcia. “Vamos escolher algumas áreas que são essenciais e precisam de inovação e serviços financeiros.”

O objetivo é olhar serviços financeiros com base em tecnologia em verticais de agronegócio, educação, saúde e logística, bem como tecnologias como blockchain. “O diferencial do fundo não é o dinheiro. Vamos levar experiência para dentro da empresa e ter um olhar verticalizado”, afirma Rossetto.

A missão do Revolut para encontrar ativos que ainda não foram tão valorizados será difícil, dado ao intenso apetite dos investidores. Os investimentos em fintechs estão em patamares recordes do mercado brasileiro. Até setembro deste ano, as startups financeiras receberam aportes de US$ 3 bilhões, volume 66% acima de todo o ano de 2020, segundo dados do Distrito.

O maior aporte em fintechs no Brasil, em 2021, aconteceu no Nubank, que captou em US$ 1,15 bilhão em duas rodadas de investimentos. A última delas, em junho deste ano, foi feita pela Berkshire Hathaway, do investidor Warren Buffett, que avaliou a empresa em US$ 30 bilhões. O banco digital, agora, prepara-se para abrir o capital nos Estados Unidos, buscando uma avaliação acima de US$ 50 bilhões.

A  criação do Revolut reforça também uma tendência que está cada vez mais ganhando corpo no mercado brasileiro de venture capital: os fundos setoriais. A lógica dessa estratégica é simples. À medida que o capital se torna uma commodity, o diferencial para fechar um negócio deixa de ser o dinheiro. Com isso, passa a contar fatores intangíveis, como o melhor conhecimento do setor e a capacidade de conexão ao ecossistema da área.

Não há ainda tantos exemplos no mercado brasileiro de fundos setoriais, mas a tendência é de que eles vão ganhar corpo nos próximos anos. Na área de varejo, por exemplo, há o HiPartners, que está dando também os seus primeiros passos. Em real estate, um nome de destaque é a Terracota Ventures.

O agronegócio conta com, pelo menos, dois fundos especializados no Brasil, como a SP Ventures, de Francisco Jardim, e a Mandi Ventures, de Antonio Moreira Salles e Julio Benetti. A Techtools Ventures, de Jeff Plentz, é focada em healthtechs, assim como a Aggir Ventures, um VC liderado por Nádia Armelin, uma ex-executiva da Oxiteno e da Dow Chemical.