Recentemente, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, declarou que o empréstimo pessoal com garantia de imóvel, o famoso home equity, pode liberar R$ 500 bilhões na economia brasileira.
É um oceano imenso diante da gota que essa modalidade representa: não chega a R$ 12 bilhões nos dias de hoje. E é justamente por conta deste enorme potencial que o BC pretende destravar esse setor.
Quem aguarda ansiosamente pelas medidas é uma fintech nascida a partir de uma costela do banco paranaense Barigui. Trata-se da Bcredi, fundada em 2017 pela empreendedora Maria Teresa Fornea, conhecida como Tetê.
Mas ela não espera sentada pelo boom que pode inundar o mercado. Nos últimos meses, a startup iniciou alguns movimentos que têm mudado radicalmente o seu resultado.
Entre eles estão, sobretudo, parcerias com terceiros para vender o produto de home equity. “‘Qual é a nossa ideia? Pluga na gente e vamos oferecer tudo isso aqui para o seu cliente’”, explica Fornea ao NeoFeed.
É o conceito de software as a service ou, como ela prefere dizer, credit as a service. E, nesse modelo, já costurou parcerias com empresas como Stone, GuiaBolso, Loft, Serasa, entre outras.
São negócios nos quais as empresas oferecem o produto da Bcredi ou vendem como um produto white label. “Desenhamos o produto, fazemos as análises jurídica e de risco de crédito, e gerenciamos a carteira”, diz Fornea.
Ao que parece, a estratégia tem mexido com o ponteiro da fintech. Se, em 2018, a Bcredi emprestou R$ 35 milhões, neste ano deve fechar com R$ 100 milhões. “No próximo ano, a meta é atingir R$ 500 milhões de empréstimos e R$ 2 bilhões de gestão de carteira”, diz Fornea.
Se, em 2018, a Bcredi emprestou R$ 35 milhões, neste ano deve fechar com R$ 100 milhões
Atualmente, quase 50% de todo o crédito originado vem das parcerias. “Começamos isso sete meses atrás e vem crescendo muito”, diz Fornea. “No começo do ano, estávamos originando R$ 4 milhões por mês, em outubro foram R$ 15 milhões.”
O modelo de remuneração dos parceiros pode ser tanto uma comissão de 0,5% a 2% sobre cada empréstimo originado ou a empresa parceira pode participar do funding da operação, o que gera mais risco, porém mais resultado. “Pode render 20% ao ano”, diz Fornea.
O GuiaBolso, aplicativo de aconselhamento de finanças pessoais que tem se transformado em uma espécie de marketplace de produtos financeiros, conta com o home equity da Bcredi em sua plataforma. E ganha comissão sobre cada empréstimo originado em sua plataforma.
“Achamos mais interessante a pessoa pegar esse tipo de crédito do que se endividar no cheque especial ou rotativo do cartão de crédito, por exemplo”, diz Benjamin Gleason, fundador e diretor de novos produtos e parcerias do GuiaBolso, ao NeoFeed.
Ele explica que, com base em informações do perfil médio mapeados pela Bcredi, o GuiaBolso faz a segmentação da oferta em sua plataforma. “Se o usuário se interessar, clica na oferta e é direcionado ao ambiente da Bcredi para fechar o negócio”, diz Gleason.
Os empréstimos da Bcredi atrelados a imóveis contam com uma taxa de juros média de 1,24% ao mês e Fornea diz que o nível de perda é baixíssimo, na casa de 0,17% - o que torna esse negócio atraente para as empresas.
Indústria em expansão
Outro dado atraente é o número de imóveis quitados que poderiam ser transformados em dinheiro. “O Brasil tem 71 milhões de imóveis e, destes, 50 milhões são quitados”, diz Fornea.
Não à toa, grandes instituições financeiras como o Banco do Brasil e o Itaú passaram a olhar esse segmento com mais atenção. Outros bancos como o Inter também intensificaram a atuação nesse nicho de mercado.
Mas o maior expoente desse setor, pelo menos em termos de visibilidade e imagem, é a Creditas, de Sergio Furio, que recentemente recebeu uma injeção de US$ 231 milhões em um aporte liderado pelo Softbank.
Para ganhar a mesma visibilidade da Creditas e impulsionar seu negócio, a ideia de Fornea é fazer com que a Bcredi seja vista como uma plataforma completa neste segmento. E já tem desenhado um plano de crescimento para conseguir ganhar escala.
Ela já tem conversado com alguns fundos de venture capital para trazer mais dinheiro para a operação. A empresária não revela os nomes dos prováveis investidores, mas diz que os aportes devem ser anunciados em breve.
Com mais dinheiro em caixa, a BCredi sairia dos atuais 130 funcionários – a maioria instalada em Curitiba – e contrataria mais 300 em um curto espaço de tempo. Será preciso bastante gente para pôr em prática os planos desenhados por Fornea e sua equipe.
A empresária estuda, por exemplo, aumentar a oferta de crédito e também deve injetar mais dinheiro em financiamento de imóveis, algo que ainda representa menos de 10% em seus negócios atualmente.
A startup também deve entrar com um pedido junto ao Banco Central para virar uma Sociedade de Crédito Direto
A startup também deve entrar com um pedido junto ao Banco Central para virar uma Sociedade de Crédito Direto, o que lhe permitiria operar como uma instituição financeira e emitir os próprios contratos. “Vamos dar entrada com o processo no início de 2020”, diz Fornea.
Outro projeto que está sendo analisado pela equipe da fintech é a criação de um cartão de crédito Bcredi. Mas não seria um cartão como outro qualquer. Teria o mesmo conceito de todos os produtos da empresa, sempre atrelados a imóveis como garantia.
“Você tem um imóvel que vale R$ 1 milhão, posso te oferecer um cartão de crédito com limite de R$ 300 mil atrelado à garantia” diz Fornea. E prossegue. “Com isso, o cliente tem um limite muito maior e uma taxa menor.”
Apesar de ser jovem, Fornea, de 34 anos, grávida de cinco meses, tem uma grande bagagem no segmento. Sua família tem participação no Banco Barigui e, desde cedo, ela trabalhou lá, ajudando a montar a companhia hipotecária da instituição financeira.
Em 2013, foi para Chicago cursar um MBA na prestigiosa universidade de Kellogg e focou em temas como real estate, finanças e empreendedorismo. “Fui muito direcionada para isso”, diz ela.
Lá, trabalhou na Equity International, do bilionário americano Sam Zell, conhecido por seus investimentos na área imobiliária. “Foi uma experiência muito enriquecedora. Fiquei muito exposta à estratégia de investimento, ao mundo de real estate, me deu muita bagagem.”
Ao voltar para o Brasil, em 2015, continuou no grupo Barigui, mas entendeu que o melhor caminho seria uma spin-off para montar a Bcredi. Pedro Sirotsky Melzer, CEO e fundador do fundo de venture capital e.Bricks, ajudou Fornea nesse processo.
“Quando ela voltou dos Estados Unidos, me procurou e ajudei no processo de construir o alinhamento de interesses entre os fundadores”, diz Melzer ao NeoFeed.
Depois desse processo, o e.Bricks investiu na BCredi e se tornou acionista ao lado de Fornea e do grupo Barigui. “Ela é uma empreendedora que entende muito do negócio dela e o setor vai crescer muito”, diz Melzer.
“A Bcredi tem um potencial imenso. Vejo essa empresa originando bilhões nos próximos anos”, afirma o investidor. E as parcerias com outras fintechs, diz ele, farão a startup ganhar mercado. “Ela vai acelerar nesse mercado.”
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