Muito além do mercado de capitais, onde foi a responsável pela escalada nas ações de companhias como a americana Nvidia, a inteligência artificial foi o grande motor para que uma série de startups também entrasse no radar dos investidores no decorrer de 2023.
Tal corrida trouxe, porém, uma mudança importante nas assinaturas dos cheques destinados a essas novatas. No lugar das tradicionais gestoras de venture capital, quem dominou amplamente os investimentos nesse espaço foi o trio formado por Microsoft, Google e Amazon.
Segundo dados compilados pela consultoria americana Pitchbook, as startups de inteligência artificial atraíram um volume total de US$ 27 bilhões em aportes nesse ano, superando, de longe, o recorde de US$ 11 bilhões registrado em 2021. E as três big techs responderam por dois terços desse montante.
Essa conta foi turbinada por grandes rodadas lideradas pelo trio. A começar pela Microsoft, que, em janeiro, injetou US$ 10 bilhões na americana OpenAI, dona do ChatGPT e a grande vedete do setor. Antes, em 2019, a gigante de Redmond já havia investido US$ 1 bilhão na operação.
Em 2023, a empresa também foi um dos nomes por trás do investimento de US$ 1,3 bilhão captado pela californiana Inflection, no mês de junho. A rodada contou ainda com a participação da Nvidia, além de Bill Gates, Eric Schmidt e Reid Hoffman.
Outra empresa que ajudou a engrossar esses números foi a também americana Anthropic. A startup atraiu dois aportes do Google em 2023. O primeiro, em fevereiro, de US$ 300 milhões. Já o segundo veio em outubro e bem mais polpudo, com um cheque de US$ 2 bilhões.
Um mês antes a empresa de São Francisco, na Califórnia, já havia recebido um investimento de US$ 4 bilhões da Amazon, em troca de uma fatia minoritária. No total, desde a sua fundação, em 2021, a companhia já captou US$ 7,6 bilhões em nove rodadas.
Entre as gestoras de venture capital, o apetite menor por aportes se explica, em boa parte, pelo fato desses investidores terem sido forçados a colocar o pé no freio em suas rodadas diante das taxas de juros mais elevadas e da queda nos valuations das empresas dos seus portfólios ao longo de 2023.
Na contramão desse cenário, Microsoft, Amazon e Google, essa última, via Alphabet, sua holding, viram suas ações acumularem uma grande valorização durante o ano. Os papéis da Amazon, por exemplo, registram alta superior a 82% em 2023.
Ao mesmo tempo, um outro componente reforça o poder de atração do trio. Desenvolver e treinar ferramentas de inteligência artificial demanda grandes somas e um enorme poder computacional e infraestrutura.
Além de fornecerem um atalho para essas capacidades, o fato de as startups do setor necessitarem de recursos desse porte só inflou suas avaliações e, por consequência, dificultou o acesso dos fundos de venture capital a essas oportunidades.
“Mesmo os maiores investidores de risco do mundo, com dezenas de bilhões sob gestão, não podem competir para manter essas empresas de IA independentes e criar novos desafiantes para as big techs”, afirmou Patrick Murphy, sócio da Tapestry VC, empresa de venture capital, ao jornal Financial Times.