Em 2016, o termo ESG (Environmental, social and corporate governance) ainda não tinha conquistado o coração e a mente dos investidores. E o venture capital era um terreno com mato alto, em que poucos “aventureiros” se arriscavam a apostar.
Foi nesse cenário que surgiu a Positive Ventures, fundada por Andrea Oliveira, Bruna Constantino e Fábio Kestenbaum. Os primeiros investimentos foram na forma de club deals. Em 2019, a gestora captou seu primeiro fundo de R$ 55 milhões. E atraiu investidores de peso e renome.
Entre eles, Candido Bracher, ex-CEO do Itaú Unibanco e atualmente no conselho de administração da instituição financeira, e sua mulher, a ambientalista Teresa Bracher, além de Luis Stuhlberger, CEO do Verde Asset. Faz parte também da lista LPs (limited partners) Fabio Barbosa, ex-CEO do Santander e conselheiro de Ambev e Natura, e Marcelo Barbará, sócio da Lanx Capital e da Cambuhy Investimentos.
Agora, a Positive Ventures está em “campanha” de captação de seu segundo fundo, que deve ficar entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões. “Já temos o commitment de quase toda a nossa base de investidores”, afirma Andrea Oliveira, cofundadora e managing partner da Positive Ventures, ao NeoFeed. “É um capital que vai muito além do mercado financeiro. É um capital intelectual e relacional intangível.”
No novo fundo, a ideia da Positive Ventures é investir entre 15 e 20 startups. Os cheques vão ficar na faixa de R$ 2 milhões a R$ 5 milhões para investir em rodadas seed e série A. A tese seguirá a mesma: startups que causem impacto social e ambiental. E que tragam retorno financeiro.
O primeiro fundo, que está praticamente 100% investido (daí a necessidade de a roda girar, como diz Oliveira, referindo-se ao segundo fundo), investiu até agora em 12 startups, incluindo os aportes realizados no formato de club deals. O retorno, até o momento, é de 43% anual em dólar, segundo a cofundadora da Positive Ventures.
Faz parte do portfólio a Labi Exames, laboratório de análises clínicas de baixo custo fundado por Marcelo Noll Barboza, ex-CEO da Dasa. Em dezembro, a Raia Drogasil (RD) liderou um aporte na companhia, seguido pela Positive Ventures. “Será potencialmente um dos primeiros retornos de capital que vamos entregar aos nossos LPs e com um múltiplo interessante”, afirma Oliveira.
Outro investimento da Positive Ventures é a Eureciclo, startup que certifica logística reversa de embalagens pós-consumo. “A empresa desenvolve a cadeia de reciclagem, gerando mais empregos para cooperativas. Ao mesmo tempo, eleva a taxa de reciclagem”, diz Oliveira. “É um impacto social e ambiental óbvio.”
Desde que a Positive Ventures investiu na Eureciclo, em 2017, a startup já ajudou a reciclar mais de 400 mil toneladas de resíduos e destinou R$ 22 milhões para operadoras e cooperativas de reciclagem. Ao mesmo tempo, a companhia viu seu faturamento triplicar a cada ano.
A meta é chegar a uma receita de R$ 60 milhões em 2022. Atualmente, a Eureciclo conta com mais de 6 mil clientes, como Danone, Hering e iFood. O próximo passo, segundo Oliveira, é fazer uma captação série B. A relação com a startup está também extrapolando o aporte. Thiago Pinto, cofundador e CEO da Eureciclo, fará parte do comitê de investimentos do segundo fundo da Positive Ventures.
Os investimentos da Positive Ventures não estão restritos ao Brasil. A gestora conta também com um escritório no Vale do Silício, tocado pelo sócio Murilo Menezes. A ideia é se conectar com as principais tendências tecnológicas e investir em empresas dos Estados Unidos, como a biotech OccamzRazor e a edtech de idiomas Slang.
Mas o principal campo de atuação da Positive Ventures é a América Latina. “A região latino-americana é uma das mais desiguais do planeta e um celeiro para fazer investimentos de impacto”, afirma Oliveira.
Entre os investimentos da Positive Ventures em startups da América Latina está a Pachama, fundada pelo argentino Diego Saez-Gil, em 2018. A empresa usa inteligência artificial e uma combinação de imagens de satélites e drones para calcular a quantidade de carbono que as árvores armazenam para criar um marketplace de créditos de carbono.
Vários investidores embarcaram nessa ideia, além da Positive Venture. Entre eles, Bill Gates, Jeff Bezos e a tenista Serena Williams.
Outro exemplo é a startup peruana Favo, cofundada por Alejandro Ponce e pela brasileira Marina Proença, que vende online e integra itens de supermercado por meio de revendedores parceiros.
A startup captou R$ 141 milhões em um rodada séria A, anunciada em outubro do ano passado, liderada pela Tiger Global. O aporte contou com a participação de diversos fundos. Além da Positive Ventures, entraram também GFC, MSA Capital, Elevar Equity, FJ Labs e H2O, além de David Vélez, fundador do Nubank.
O portfólio da Positive Ventures conta ainda com as fintechs Good Money e Provi, a empresa de educação Letrus, as healthtechs NeoMed e Oya Care, e a de empregos Worc.
Antes pouco comum, os investimentos de impacto cresceram e estão cada vez mais atraindo capital. O pioneiro Vox Capital, de Daniel Izzo, por exemplo, acabou de captar seu terceiro fundo de R$ 500 milhões. A GK Ventures, de Eduardo Mufarej, levantou também R$ 400 milhões para investir nessa tese.
Nesta entrevista, Oliveira fala também sobre como tem feito para aumentar a diversidade do portfólio das empresas em que investe e conta ainda sobre sua trajetória profissional. Ela é formada em arquitetura, mas com MBA em administração.
Assista a mais um episódio do Café com Investidor no vídeo abaixo: