Um ano ainda marcado pelos impactos da Covid-19 e por pressões de custo por conta do câmbio e pelos preços das commodities. A combinação desses e outros elementos não impediu, porém, que a Ambev reportasse indicadores recorde ao divulgar seu balanço referente ao quarto trimestre e ao ano de 2021.

Os marcos vieram na receita líquida do ano, que cresceu 24,8%, para R$ 72,8 bilhões. E em volume, com um total de 180,3 milhões de hectolitros no período, um desempenho 8,8% superior ao que foi registrado em 2020.

Partindo desses novos patamares, o grupo entende que tem condições de entregar uma evolução no resultado da operação em 2022. Mesmo com a manutenção de alguns componentes desafiadores no cenário previsto para o ano.

“Estamos mais bem estruturados para começar 2022 do que estávamos há um ano”, disse Jean Jereissati, CEO da Ambev, a analistas no início da tarde desta quinta-feira. “Nosso portfólio está mais forte e saudável e iniciamos o ano com 1,6 milhão de consumidores a mais em nossas marcas.”

Como parte desse pacote que fundamenta a perspectiva para o ano, o executivo citou ainda datas e eventos que, tradicionalmente, impulsionam o consumo de cerveja. E com algumas diferenças que podem turbinar ainda mais essa demanda.

Neste ano, a Copa do Mundo será realizada entre novembro e dezembro, próximo ao verão no Brasil. E o Carnaval, que foi fraco para a categoria em 2021, será dividido em duas datas esse ano, em muitas regiões do País, por conta das restrições da Covid-19. Apesar desse cenário, Jereissati reforçou:

“Muita coisa mudou, mas temos que seguir atentos e com a guarda alta”, destacou. “A Covid-19 ainda está entre nós, vamos ver muita volatilidade na indústria, a inflação pressionando negativamente a renda e uma pressão nos custos que vem de um aumento sem precedentes nas commodities.”

No saldo dessas perspectivas, a Ambev projeta que o CPV (custo do produto vendido) por hectolitro da cerveja no Brasil cresça de 16% a 19% no ano. Ao mesmo tempo, a empresa acredita que a questão do preço na ponta já está equacionada, a partir de reajustes feitos recentemente.

“Estamos confiantes na melhoria do nosso mix ao longo do ano”, disse Jereissati, destacando o desempenho das marcas do grupo em segmentos como core plus, mainstream e premium. “O que tem sido mais impactado são as marcas de preços mais baixo e que não têm tanta força no mercado.”

Sob essa orientação, o executivo ressaltou que a projeção de que a Ambev entregue um Ebitda consolidado acima do reportado em 2021. E que o Ebitda ajustado da cerveja no País, que recuou 13,6% no ano passado, para R$ 9,5 bilhões, volte a crescer.

Resultado

No quarto trimestre de 2021, o lucro líquido da Ambev recuou 45,6%, para R$ 3,7 bilhões. A companhia atribuiu boa parte do desempenho a créditos fiscais não recorrentes. Já no resultado consolidado do ano, a última linha do balanço mostrou um crescimento de 11,9%, para R$ 13,1 bilhões.

Entre outubro e dezembro, a receita líquida foi de R$ 22 bilhões, um desempenho 18,6% superior ao registrado um ano antes. Em todo o ano, a receita líquida da operação brasileira cresceu 17,8%, para R$ 35,8 bilhões.

No trimestre, o Ebitda ajustado da operação como um todo registrou queda de 24,1%, para R$ 6,7 bilhões. Enquanto, no ano, o crescimento nessa linha foi de 10,9%, para R$ 22,8 bilhões.

O volume de produção foi um dos pontos destacados em relatório da XP sobre o balanço que, na visão dos analistas, trouxe resultados positivos, apesar de ressaltar alguns fatores de atenção no horizonte da empresa.

“Esperamos um ano desafiador pela frente, com pressão de custos em todas as operações e inflação persistente, mas continuamos otimistas e impressionados com a rapidez com que uma empresa com mais de 100 anos conseguiu mudar durante a pior crise de todos os tempos”, escreveram os analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca.

A dupla da XP manteve a recomendação de compra para a ação da Ambev, com um preço-alvo de R$ 18,8.

Por volta das 14h50, as ações da Ambev recuavam 1,96%, para R$ 14,52. Em 2022, os papéis da empresa, avaliada em R$ 228,8 bilhões, acumulam uma queda de 7,3%, tendo como referência o preço de fechamento do pregão de ontem na B3.