O público da Fórmula 1 rejuvenesceu desde que a Liberty Media assumiu o comando da principal categoria do automobilismo mundial. Hoje, mais de um quinto é de jovens de até 25 anos. Quem sentou também nesse cockpit foi a Heineken, que faz das pistas ao redor do mundo a principal estratégia para acelerar a sua cerveja zero álcool.
No Brasil, a cervejaria holandesa está investindo este ano R$ 80 milhões para aumentar a produção da Heineken 0.0, sua cerveja zero álcool. A maior parte desse recurso está sendo destinada para a fábrica de Araraquara, no interior de São Paulo, que tem uma posição logística privilegiada de distribuição.
“Essa categoria é a maior surpresa. Porque assim que entramos nesse mercado, que já existia, ele voltou a crescer. E duplo dígito”, diz Mauricio Giamellaro, CEO da Heineken no Brasil, em entrevista ao programa Números Falam, do NeoFeed.
Ele complementa: “Qual é o tamanho dessa oportunidade? A gente não sabe, mas é o que dá a magia de fazer esse investimento. Mas acreditamos que o segmento de zero zero vai crescer muito”.
De acordo com a Euromonitor, a categoria de cerveja zero álcool deve encerrar este ano com crescimento de 24% no País. E a bebida vem ganhando espaço no copo dos consumidores brasileiros. O consumo aumentou de 2,5% para 3% do total do mercado de cervejas em 12 meses.
Para Giamellaro, a Heineken foi a responsável por mudar a categoria ao “colocar uma cerveja com gosto de cerveja”, mesmo sem álcool. Para que isso acontecesse, a cervejaria holandesa investiu em tecnologia para que todo o processo de fabricação da bebida fosse igual. No fim é que o álcool é extraído para não prejudicar cor e sabor.
“É tecnologia e processo produtivo. Custa mais, sim, e essa é a grande diferença. O meio é tão importante quanto o fim”, afirma o CEO da Heineken no Brasil.
A Ambev, que durante muito tempo navegou sozinha nessa categoria com a Brahma zero, lançou há pouco mais de um ano a Bud Zero para competir com o produto da concorrente.
Nessa competição pela preferência do consumidor, a Heineken vem investindo pesado no Brasil. Nos últimos anos, a cervejaria aportou R$ 4,5 bilhões no País em diferentes tipos de projetos. O capítulo final dessa fase se encerra em meados de 2025 com a construção da 15ª cervejaria na cidade mineira de Passos.
Com 14 cervejarias no País, a nova unidade está localizada estrategicamente a menos de 400 quilômetros de Belo Horizonte e da capital paulista. Será uma das maiores e mais tecnológicas fábricas da companhia no mundo.
Processo semelhante está acontecendo na ampliação da unidade no município pernambucano de Igarassu. Anunciada no primeiro trimestre deste ano, a fábrica está recebendo um investimento de R$ 1,2 bilhão. A ideia é buscar eficiência no processo produtivo que impactará todo o processo.
O investimento em Igarassu triplicará a capacidade produtiva das marcas Amstel e Devassa, além de incrementar em 45% a operação de linhas de embalagens retornáveis.
Se a produção de embalagens é a parte mais óbvia em razão da mecanização, a cervejaria contará com a ajuda da inteligência artificial para reduzir o consumo de água (que é a principal matéria-prima da cerveja) e “calibrar” a dosagem de outros ingredientes como malte e lúpulo. A cor da cerveja também está nesse processo.
“A operação do Brasil hoje é a maior da Heineken no mundo. Éramos a 17ª há dez anos. Essa é a importância do investimento tendo retorno”, afirma Giamellaro. O CEO da Heineken no Brasil acrescenta: “Se a gente precisar [de mais capital], não existe nenhuma restrição ou dúvida de que vamos investir mais”.
Vibes versus Beats
Para o verão de 2024, a Heineken vai estrear em uma outra categoria em que a Ambev está praticamente sozinha com a Skol Beats: a ready-to-drink. Batizada de Amstel Vibes, a bebida tem teor alcoólico de 7,9% e sabores de limão e morango com melancia.
“O verão promete ser quente e, para nós, também promete com um portfólio bem posicionado”, diz o executivo.
Neste início, a distribuição ficará concentrada na região Sudeste e Giamellaro não revela os dados de produção e expectativa de venda.
Além de Heineken, Amstel e Devassa, a cervejaria holandesa é dona de marcas como Kaiser, Bavaria, Eisenbahn, Baden Baden entre outras e tem um share no mercado total de cervejas de 29%. A Ambev, com Brahma, Skol, Stella Artois e Spaten, é a líder com 58% - um crescimento de 3 pontos percentuais no fim do primeiro semestre, de acordo relatório do Bank of America (BofA).
Quando se pega apenas o segmento de cervejas premium, porém, o resultado é o oposto. Em relatório, o UBS BB destacou a liderança da Heineken no segmento premium de cervejas, 45% de share ante 28% da Ambev. “A Heineken também está crescendo mais rápido, com uma alta de 20,8% em 2022 em comparação aos 10,5% da Ambev”, destaca um trecho do relatório.
Essa categoria é uma das que mais cresce no setor de bebidas. Em aproximadamente uma década, a chamada “premiunização” aumentou sua participação no volume total de vendas de cerveja de 4% para 20%.