A última década foi particularmente boa para os bilionários. Mas quando se olha para os próximos dez anos, questões como a situação fiscal dos países e as tensões geopolíticas tornam o futuro incerto para eles – ainda que não difícil.

Essa é a conclusão da décima edição do relatório Billionaire Ambitions, levantamento produzido pelo UBS Wealth Management (UBS WM) que acompanha a evolução da riqueza de mais de 2,5 mil bilionários pelo mundo.

Segundo o relatório, entre 2015 e o acumulado até o momento em 2024, a riqueza total desse grupo aumentou 121% globalmente, passando de US$ 6,3 trilhões para US$ 14 trilhões. O resultado superou o desempenho acumulado pelo índice MSCI AC World, que acompanha uma cesta de mais de 8 mil ações de grandes e médias empresas em países emergentes e avançados, no mesmo intervalo, de alta de 73%.

Na comparação entre 2023 e 2024, o patrimônio dos bilionários registrou uma valorização de 16,5%, enquanto o MSCI AC World viu uma alta acumulada de 15,5%.

Ao longo de dez anos, o mundo viu um forte crescimento na quantidade daqueles que passaram a ter um patrimônio bilionário – alta de 50%, com esse “clube” passando a totalizar 2,7 mil pessoas. Mas, entre 2023 e 2024, houve um aumento de “apenas” 5,4%.

Quando se olha para a composição de bilionários, em termos de área de atuação, quem viu seu patrimônio subir mais na última década foram as pessoas ligadas ao mundo da tecnologia. O relatório do UBS WM mostra que, em dez anos, a riqueza total desse pessoal triplicou entre 2015 e 2024, para US$ 2,4 trilhões.

Segundo o UBS WM, os bilionários de tech da primeira metade da década foram aqueles que se beneficiaram da busca dos investidores por temas como e-commerce, redes sociais e pagamentos digitais. Quem mais se beneficiou na segunda metade foram aqueles ligados aos segmentos de inteligência artificial generativa, cibersegurança, fintechs, impressão 3D e robótica.

Já aqueles indivíduos cujos patrimônios são oriundos de atividades classificadas como industriais tiveram um aumento de 2,7 vezes de riqueza, para US$ 1,3 trilhão. O crescimento foi alavancado por investimentos estratégicos de países que buscavam fortalecer sua competitividade, apostando especialmente na economia verde, para enfrentar os desafios demográficos e apoiar a tendência econômica da relocalização industrial.

O relatório aponta ainda uma dinâmica inusitada a respeito dos bilionários da China. Entre 2015 e 2020, o patrimônio agregado cresceu a um ritmo médio de 20%. Mas nos últimos anos, ele tem apresentado queda anual de cerca de 5%.

O crescimento nos primeiros cinco anos, marcados por investimentos em real estate e criação de grandes nomes do e-commerce mundial, acabou afetado pelas restrições e intervenções econômicas feitas pelo governo da China, que pesaram sobre as Bolsas locais.

A consequência foi uma estagnação na quantidade de bilionários chineses nos últimos anos – depois de uma alta de 46% entre 2015 e 2020, para 496, a quantidade de bilionários chegou a 501.

Se o cenário dos últimos dez anos foi de altos e baixos aos chineses, para os bilionários da América do Norte, o crescimento do patrimônio foi ao “alto e adiante”, avançando 52,7%, para US$ 3,8 trilhões. Na Europa Ocidental, acumulação de patrimônio desacelerou a partir de 2020 – entre 2015 e 2020, o crescimento foi de 43,6%, antes de passar a avançar 29% até este ano, chegando a US$ 2,7 trilhões.

Sobre o Brasil, o relatório do UBS trouxe apenas a comparação entre 2023 e 2024. E o que se viu no período foi a chegada de 19 novos indivíduos no clube dos bilionários, para 60. Esse foi o segundo maior aumento visto nas Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, que ganharam 101 novos bilionários.

O patrimônio acumulado dos bilionários brasileiros aumentou 37,7% entre o ano passado e este ano, para US$ 154,9 bilhões. Foi o maior aumento percentual visto no continente.

Preocupação com o futuro

O relatório do UBS traz também ainda as principais preocupações dos bilionários para a próxima década. Em meio a um cenário de contas públicas desequilibradas após o forte esforço fiscal para combater a pandemia, mais a eclosão de guerras pelo mundo, os bilionários olham para o cenário a frente com um pouco de cautela.

A maior preocupação é com a eclosão de um grande conflito geopolítico, segundo levantamento feito com um grupo de 82 bilionários. Segundo o UBS, essa é a principal preocupação para os próximos 12 meses (resposta de 61% dos entrevistados) e para os próximos cinco anos (53%).

Mesmo com a queda da inflação nas principais economias globais, o tema segue no radar de 39% dos entrevistados para os próximos 12 meses, seguido por uma crise financeira (31%). No prazo de cinco anos, as preocupações também são com uma recessão (53%), juros altos (46%) e uma crise de dívida (46%).

Este cenário não deve impedir uma maior tomada de risco. Conforme mostrou a pesquisa, nos próximos 12 meses, 43% dos bilionários pretendem aumentar a sua exposição a imóveis e 42% a ações de mercados desenvolvidos.

Apesar disso, os bilionários estão reforçando os investimentos em ativos considerados seguros. A pesquisa revelou que 40% planejam aumentar sua exposição ao ouro e metais preciosos nos próximos 12 meses e 31% indicam intenção de ampliar as alocações em dinheiro.