Com o cenário econômico global repleto de incertezas, construir estratégias de investimento de longo prazo tornou-se um desafio. O perfil do investidor brasileiro se tornou mais conservador, com preferência pela segurança do CDI. Foi nesse contexto que o Bradesco identificou uma oportunidade: oferecer acesso a um segmento menos suscetível às oscilações macroeconômicas e com potencial de alto retorno.
A Bradesco Asset lançou seu primeiro fundo de fundos dedicado a special situations e o primeiro do segmento oferecido por um grande banco brasileiro. O Bradesco Explorer Discovery Special Situations FIC FIM é destinado a clientes private e investidores institucionais (fundos de pensão e seguradoras).
O fundo foi estruturado para investir em oito a 12 fundos de special situations com foco no mercado brasileiro. A meta de retorno líquido, já descontadas as taxas, é de CDI + 8% a 10% ao ano. E o veículo agradou: a captação atingiu R$ 215 milhões, acima da meta inicial pretendida de R$ 200 milhões.
Quase metade do capital já está alocado em quatro gestoras: Lumina, Prisma Capital, IG4 Capital e SPS Capital (Vinci Partners). Os gestores têm prazo de três anos para concluir o restante das alocações.
"Estamos vivendo um momento único em que o investidor também se sofisticou no mercado de crédito e compreende melhor produtos mais complexos como este", afirma Adilson Ferrarezi, head de soluções de investimento da Bradesco Asset, em entrevista ao NeoFeed.
"Não só os juros altos aumentam a necessidade dessa solução, como a indústria ganhou maturidade, com a nova lei de recuperação judicial e inovação nos instrumentos de estruturação de crédito. E, na outra ponta, o investidor busca retornos descorrelacionados, sendo o momento ideal para facilitar o acesso", complementa.
Os fundos de special situations investem em ativos que apresentam riscos específicos ou oportunidades únicas, tanto em crédito estruturado quanto em ações.
A estratégia se divide em capital solutions, que busca soluções para capitalizar empresas rapidamente, via emissão de crédito estruturado, financiamento ou negociação no mercado secundário de dívida; ativos judiciais, que envolve créditos referentes a processos judiciais e financiamento de litígios; e distressed equity, que foca na aquisição de participação em empresas ou ativos imobiliários com complexidades específicas, sejam societárias, operacionais ou financeiras.
Por norma, o fundo do Bradesco manterá de 50% a 70% do capital em capital solutions, de 20% a 40% em ativos judiciais e até 15% em distressed equity. Essas estratégias têm duração média de quatro anos.
Apesar das estruturas de proteção com garantias e colaterais, são investimentos de risco que demandam avaliação criteriosa. Por isso, o Bradesco optou por oferecer uma seleção profissional em carteira diversificada — especialmente porque o tíquete mínimo para muitas dessas estratégias supera R$ 5 milhões.

"O investidor pessoa física não conseguiria fazer uma diversificação tão ampla considerando os mínimos exigidos. Além disso, como grande player institucional, conseguimos acessar operações restritas e negociar melhores condições, com rebates sendo devolvidos ao valor do fundo para os cotistas", diz Luiz Eugenio Junqueira, head de investimentos alternativos da Bradesco Asset.
O valor mínimo de investimento foi estabelecido em R$ 10 mil para pessoas físicas e R$ 1 milhão para institucionais.
Mercado em expansão
A entrada do Bradesco neste segmento evidencia a maturidade alcançada pelo mercado. Na última década, o número de fundos dedicados a situações especiais cresceu exponencialmente no Brasil — de apenas cinco há dez anos para 48 gestoras mapeadas pela Bradesco Asset atualmente, incluindo nomes como Jive, Strata, Quadra Capital, JGP, Root Capital e BlueOak.
Se antes o foco estava em empresas com dificuldades financeiras, como aquelas em recuperação judicial, agora o mercado diversificou suas subestratégias, com notável crescimento nos segmentos de precatórios e crédito estruturado para empresas com complexidades específicas.
"Vemos um pipeline robusto pela frente. O volume de empresas em recuperação judicial cresceu 40% em 2024 e não deve arrefecer, gerando oportunidades para especialistas em reestruturação, com empresas buscando desalavancar", diz Ferrarezi.
No mercado global de gestão de ativos, o segmento de alternativos mantém trajetória ascendente. De acordo com relatório da Preqin, após atingir US$ 16,78 trilhões em 2023, esse mercado deve alcançar US$ 30 trilhões em 2030. Dentro desse universo, o segmento de special situations movimentou aproximadamente US$ 500 bilhões em 2023, com projeção de dobrar até 2026.
No Brasil, observa-se movimento similar, com expansão significativa dos segmentos de infraestrutura, imobiliário e special situations, conquistando espaço antes dominado por private equity e venture capital.
"Manter uma carteira de alternativos é essencial, mas entendemos que o investidor está avesso a estratégias de prazo mais longo, como private equity, devido às incertezas atuais. Com duração menor e maior familiaridade do cliente com o mercado de crédito, este segmento tende a ganhar relevância na composição da carteira de alternativos", diz Junqueira.
O fundo de fundos de special situations integra a estratégia do Bradesco para ampliação da oferta de produtos alternativos, iniciada em 2020. Em 2023, o banco lançou o FoF de private equity e venture capital, que captou R$ 250 milhões e investiu em 21 gestores focados no Brasil e América Latina, e também deu acesso a um fundo da Riverwoods. No ano seguinte, foi a vez do fundo de fundos de hedge funds. Novos lançamentos estão previstos para o público private e de alta renda.