Os family offices estão cada vez mais propensos a diversificarem os seus portfólios e os investimentos alternativos têm ganho protagonismo. É o que mostra um estudo do Bank of America Private Bank, em que 90% dos family offices acreditam que tem uma carteira diversificada, mas mais de 40% pretendem diversificar ainda mais nos próximos dois anos.
O banco ouviu 335 tomadores de decisão de family offices na América do Norte, em sua maioria executivos C-level, em um levantamento on-line realizado entre maio e junho de 2025. A amostra engloba estruturas que administram de US$ 25 milhões a mais de US$ 5 bilhões, com 60% controlando pelo menos US$ 500 milhões.
Apesar desse apetite por risco selecionado, o discurso dominante ainda é de cautela. O relatório mostra que cerca de dois terços dos family offices se descrevem como conservadores, mas, na prática, a fotografia das carteiras é bem menos tímida. Em média, os portfólios ficam equilibrados entre ativos líquidos e alternativos, com a fatia de liquidez maior entre os escritórios com menos de US$ 500 milhões, e a de alternativos predominando entre aqueles com US$ 500 milhões ou mais.
A leitura é reforçada quando o estudo pergunta sobre o cenário adiante. Sessenta por cento dos respondentes estão otimistas com a direção de bolsa americana, com private equity e com M&As para os próximos 12 meses. Entre os escritórios com US$ 500 milhões ou mais, mais da metade acredita que o PIB dos EUA vai acelerar nesse período.
Entre os investimentos em que se vê mais oportunidade no momento, o private equity aparece na liderança, com 43% dos votos, seguido por investimento direto em empresas (40%), e investimento em real estate (33%).
Na sequência aparecem ações americanas (24%), ações internacionais de mercados desenvolvidos (22%), criptoativos (21%), private credit (19%), ações de emergentes (18%), fundos e empresas com foco em impacto ESG (18%). Apenas 14% enxergam o negócio da família como o melhor investimento daqui para frente e 12% escolhem ativos tangíveis.
Por trás desse desenho de carteira, há um elemento estrutural: a origem da riqueza. Sessenta por cento dos family offices foram financiados, ao menos em parte, por lucros e participação acionária em negócios próprios, e 29% citam a venda de uma empresa como fonte relevante de patrimônio.
Um wealth management mais tecnológico
Ao mesmo tempo, o estudo mostra que essa busca por diversificação acontece em um ambiente de complexidade operacional crescente. Muitos family offices hoje se parecem menos com um “escritório da família” e mais com uma combinação de backoffice bancário e gestora institucional. Um terço gerencia 50 ou mais contas bancárias, e mais de 40% administram mais de 50 contas de investimento – chegando, nos maiores, a mais de 100 contas em cada frente.
É nesse contexto que tecnologia e automação deixam de ser um luxo e passam a ser infraestrutura necessária. Em média, os family offices usam duas plataformas de wealth management e elencam a integração de sistemas como prioridade. Cerca de três quartos consideram importante automatizar processos relacionados a análise de investimentos alternativos, modelagem de portfólio e projeção de caixa.
Na fotografia captada pelo Bank of America, a Inteligência Artificial (IA) já saiu da fase de teste. O estudo mostra que 57% dos family offices já usaram IA em alguma etapa da pesquisa de investimentos, e a maioria relata uma experiência positiva. Os dados também indicam que os maiores escritórios são os early adopters, com mais ativos, mais funcionários e, em geral, estruturas mais maduras de governança e tecnologia.
Quando se pergunta para que usar IA, o foco está em apoio à decisão – não em substituir o gestor. Entre os family offices que já usam ou planejam usar a tecnologia, as três aplicações mais citadas são: pesquisar empresas ou tendências de mercado; comparar diferentes estratégias de investimento; e aprender melhores práticas de gestão de patrimônio.
A régua de expectativa é alta: quase nove em cada dez respondentes concordam que a IA tem potencial de melhorar os retornos dos investimentos. Ao mesmo tempo, o ceticismo também é expressivo. Cerca de dois terços dizem se preocupar com a possibilidade de a IA gerar informações incorretas e representar risco à privacidade e à segurança de dados, um ponto especialmente sensível em estruturas que concentram informações financeiras, societárias e pessoais das famílias.
O pano de fundo dessa preocupação é concreto. Quase um terço dos family offices ou das famílias que eles atendem já sofreu algum tipo de ataque cibernético, e 40% dos casos tiveram impacto moderado a extremamente significativo sobre os ativos familiares. Phishing, malware e vazamento de dados estão entre as ocorrências mais comuns, com incidência maior entre escritórios que atendem mais membros da família ou que têm equipes maiores.
Apesar disso, a percepção é de que a próxima geração da indústria de wealth vai acelerar o uso da IA. Quase três quartos dos participantes acreditam que a adoção da tecnologia vai aumentar quando os herdeiros assumirem o comando do family office. Em paralelo, o estudo aponta que essa mesma transição tende a trazer mais alocação em alternativos, reforçando o movimento já visível hoje nas carteiras.