A gestora sistemática Cartesius Capital, que trabalha com modelos preditivos, operou um fundo multimercado durante um ano em fase de teste com R$ 20 milhões de capital próprio.  Neste período, conseguiu um retorno de 17,5% e uma volatilidade de 5%.

Agora, a Cartesius Capital está abrindo o fundo ao mercado com o objetivo de captar até R$ 300 milhões sob gestão até o fim deste ano. O público-alvo são gestores de patrimônio, como multifamily offices, mas já há contratos de distribuição fechados com BTG, Genial e Terra. E outros estão em negociação, como Itaú e outros bancos.

A gestora usa o modelo sistemático para montar sua carteira de investimento, idealizado por Guilherme Rafare. Ele foi professor assistente de Direito na USP e também atuou como professor de derivativos no programa de MBA Executivo da PUC-Rio. Além disso, possui experiência no mercado financeiro, com passagens por Adam Capital, FRAM Capital, Banco Boavista, Credit Suisse e Santander.

“O modelo atua como uma previsão do tempo, pegando os dados disponíveis para mostrar as probabilidades de algo acontecer nos próximos dias. Mas é imprescindível a sensibilidade de um gestor independente para fazer ajustes e tomar a decisão”, explica Guilherme Rafare, sócio fundador da Cartesius Capital, em entrevista ao NeoFeed.

Dessa forma, a gestão não é feita apenas pelos robozinhos. A decisão final dos investimentos é sempre do gestor, Eduardo Kemmelmeier. Com 25 anos de experiencia em gestão de recursos de terceiros, Kemmelmeier atuou na Vinci Partners, na Flag Asset Management, na Opus e no BTG Pactual.

“Não somos uma gestora quantitativa, porque os nossos sistemas reaprendem todo dia com os inputs que colocamos. E nós não queremos seguir uma tendência, como uma estratégia trend following, mais difundida entre os sistemáticos. Mas sim antecipá-la”, afirma Rafare.

A inspiração de Rafare veio do gestor americano Jim Simons, fundador da Renaissance Technologies, gestora do fundo Medallion, que rendeu cerca de 60% ao ano em média durante três décadas. O sistema capta diariamente dados de ativos líquidos e usa a tecnologia de transformer preditiva, presente no chatGPT, de inteligência artificial, para prever o que vai acontecer nos próximos dias e assim se antecipar tomando uma posição.

A gestora conta atualmente com 28 profissionais de diversas áreas de atuação, sendo que 20 estão voltados para a área de pesquisa e tecnologia. No momento, atua apenas com ativos custodiados no Brasil, mas até o fim do semestre já conseguirá operar diretamente pelos Estados Unidos.

 Os sócios da Cartesius Capital: Guilherme Rafare (à esq.) e Eduardo Kemmelmeier
O sócio da Cartesius Capital Guilherme Rafare (à esq.) e o gestor Eduardo Kemmelmeier

“Temos visto grande receptividade pela estratégia, pois ela é complementar e descorrelacionada com o mercado. Hoje os fundos multimercado pensam muito parecido. Mas os juros altos ainda estão afastando os alocadores do risco”, afirma Julia Sabina, diretora de RI da Cartesius.

Apesar do cenário desafiador para captação, a gestora está confiante que consegue alcançar R$ 300 milhões sob gestão até o fim do ano, e poderá arrancar um crescimento maior em 2025, inclusive com o lançamento de novos fundos com níveis diferentes de volatilidade.

“As estratégias sistemáticas têm crescido no Brasil, mas ainda são muito incipientes. Cada vez mais aparecerão novas abordagens e o investidor mais sofisticado vai entender o valor de a ter na composição do portfólio”, diz Rafare.