O Grupo Primo surgiu como uma companhia de conteúdo digital e educação financeira. Mas, aos poucos, está se transformando em uma empresa de investimentos.
Agora, a companhia fundada pelos influenciadores digitais Thiago Nigro (Primo Rico) e Bruno Perini está dando mais um passo para se consolidar como uma empresa de investimento.
No fim deste mês, o Grupo Primo vai inaugurar um escritório de 800 m² na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, no Itaim Bibi, em São Paulo, que será a nova casa da consultoria Portfel e da gestora Grão.
Essas duas empresas mais que dobraram de tamanho no ano passado e atingiram quase R$ 9 bilhões sob consultoria e gestão. Com isso, a frente de investimentos passou a ser sua maior fonte de receita, que chegou a R$ 250 milhões, um salto de 2,5 vezes ao resultado de quatro anos atrás. O objetivo é terminar com R$ 20 bilhões em 2025.
Até então, a área de investimentos do Grupo Primo ficava em uma sala no mesmo prédio do estúdio de produção de conteúdo, em Barueri (SP). No coração do mercado financeiro, a companhia pretende conquistar mais share of wallet e bolsos ainda maiores.
"Nossa captação acontece na internet e os clientes querem conhecer onde os vídeos são filmados”, afirma Fernando Vasconcellos, CEO do Grupo Primo, ao NeoFeed. “Mas é importante o cliente criar uma rotina com o seu consultor de investimento e ter reuniões periódicas. E ir a Barueri é um entrave para essa dinâmica.”
A gestora Grão, focada em produtos de previdência e adquirida em outubro de 2022, captou R$ 650 milhões no ano passado. Com isso, chegou a R$ 1,3 bilhão sob gestão. Por trás desse resultado estão profissionais experientes do mercado financeiro. Entre eles, o diretor de gestão Guilherme Sá, ex- managing director da tesouraria do Banco Santander.
Já a consultoria de investimentos Portfel, adquirida em 2022 com R$ 100 milhões sob consultoria, quase triplicou de tamanho, saltando de R$ 2,6 bilhões para R$ 7,4 bilhões, atendendo cerca de 12 mil clientes.
“Demos esse salto plugando as empresas no nosso ecossistema com uma partnership muito alinhada. Entendemos qual é o nosso modelo de negócios e, agora, é só escalar”, afirma Thiago Nigro, fundador do Grupo Primo.
O que o Grupo Primo consegue fazer é unir os “alunos” de seus cursos com seus serviços de wealth management. Para se ter uma ideia, a companhia tem uma audiência mensal média de 40 milhões de pessoas. A Finclass, sua plataforma de educação, já possui 120 mil assinantes.
“Fomos sendo procurados por alunos do nosso curso para que a gente cuidasse do dinheiro deles e não mais somente ensinar a como fazer isso”, diz Bruno Perini, sócio e fundador do Grupo Primo. “E faz todo sentido. Médicos e advogados, por exemplo, bem remunerados, têm que gastar o tempo ganhando dinheiro e se aprimorando. Não acompanhando mercado e investindo”.
O modelo de negócio da consultoria Portfel é entregar um serviço de wealth management para o varejo alta renda, com o tíquete mínimo de R$ 100 mil. Mas o tíquete médio já beira os R$ 500 mil - e há parcela relevante de clientes milionários.
O modelo de remuneração é o fee based (taxa fixa), cujo custo é em média de 1% ao ano sob o total sob consultoria que pode estar em qualquer plataforma de investimento. As comissões dos produtos (chamados rebates) são repassadas para os clientes, de forma que, em média, segundo a Portfel, a taxa líquida anual é de 0,5%. A consolidação dos portfólios é feita com uma empresa especializada parceira.
Outro ponto da estratégia do Grupo Primo é que a empresa forma os seus consultores, através da TopInvest, que comprou em 2022. Hoje, já são 450 consultores cadastrados e serão necessários muito mais para atender ao crescimento esperado.
A TopInvest é responsável por cerca de 60% das certificações no mercado financeiro - como CPA-10, CPA-20, CEA, da Anbima -, da certificação da Ancord, para ser assessor de investimentos, além de outros mais sofisticados, como CFP, CNPI e CGA. Ela também lançou uma graduação voltada para o mercado financeiro. Esses dois negócios já têm mais de 210 mil alunos.
“Um grande gargalo desse mercado é mão de obra qualificada e disposta a trabalhar com clientes menores. Nós resolvemos isso criando o maior celeiro de profissionais com a nossa área de educação”, diz Nigro.
Segundo ele, há, no momento, 300 consultores em formação. Para trabalhar na Portfel é preciso ter todas as certificações, fazer o MBA da casa e depois ainda passar por um treinamento na empresa.
Dessa forma, os braços de conteúdo e de educação financeira são o suporte para alimentar o wealth management com profissionais e clientes. O crescimento da consultoria ajuda a impulsionar a asset, que também capta diretamente com o marketing massivo e gratuito do grupo.
Para Nigro esse não é um jeito ‘particular’ de fazer wealth management, e sim o futuro da indústria no seu processo de democratização do serviço de wealth, antes disponível apenas para o público private (R$ 10 milhões).
O crescimento da indústria de consultoria no Brasil
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) separa os atuantes na indústria de wealth management em três funções distintas, que não podem existir em uma mesma empresa.
O primeiro deles é o gestor de investimentos, que atua de forma discricionária e por meio de fundos, fazendo a gestão do portfólio dos clientes - a forma legal que a maioria dos Multi Family Offices atuam.
Depois, há os assessores de investimento e consultores de investimento, que atuam de forma não-discricionária (necessitando do consentimento do cliente para executar a estratégia).
Após a CVM 178, os dois podem recomendar investimentos, mas enquanto o assessor está ligado a uma corretora (e em geral atua no modelo comissionado), o consultor é independente e consolida a portfólio do cliente de diversas plataformas e cobra por fee based.
Quando as corretoras independentes digitais emergiram usaram os assessores de investimento como soldados da guerra contra os bancos. O que revolucionou a profissão de assessores de investimento e assim o mercado de investimento, com as plataformas se transformando em um supermercado de produtos.
O resultado foi o surgimento de empresas de assessoria gigantes como a Fami Capital, com cerca de R$ 75 bilhões sob custódia, e a Blue3, com cerca de R$ 30 bilhões. Ou mesmo o caso da EQI e da Monte Bravo, que optaram por virar corretoras.
Já a indústria de consultoria ficou estagnada – até agora. Antes usada por alguns Multi Family Offices para gerir recursos de patrimônios acima de R$ 10 milhões, nos últimos anos foram surgindo consultorias focadas para o público alta renda, com entre R$ 200 mil a R$ 10 milhões. Entre elas a Nord Wealth, Clube do Valor, Eleva Invest e a Portfel, que já é a maior delas.
O Grupo Primo acredita que o mercado de wealth management está passando por uma transformação. Se antes os clientes saíram dos bancos e foram para corretoras e assessorias de investimento com muito mais opção de produtos, agora o produto virou uma commodity e os investidores estão em busca de serviço patrimonial mais completo e sem conflito de interesses.