Em 10 de março deste ano, o Grupo Primo deu um novo passo em sua estratégia de diversificação para ir além da figura do seu fundador Thiago Nigro, mais conhecido como Primo Rico. Na época, a compra da fintech Grão abriu uma perspectiva concreta para que a empresa colocasse os pés em produtos financeiros.

Passados exatos sete meses, o primeiro fruto após a incorporação da startup está chegando ao mercado. A Grão lança oficialmente nesta segunda-feira, 10 de outubro, o Arca Grão, fundo de previdência privada que marca a estreia da fintech como gestora de investimentos e do Grupo Primo na arena financeira.

Disponível a partir de hoje no aplicativo da Grão e única oferta dessa modalidade que será ofertada na plataforma da fintech, o novo fundo é resultado de uma parceria com a Icatu, seguradora que tem cerca de R$ 60 bilhões sob gestão e que fechou o primeiro semestre com R$ 48 bilhões em reservas de previdência.

“Hoje, existem cerca de R$ 1 trilhão investidos em previdência no Brasil e 91% do capital de previdência privada está nos grandes bancos, com produtos cujos rendimentos não batem o CDI”, diz Nigro, fundador e CEO do Grupo Primo, ao NeoFeed. “Há muito espaço para players como a Grão nesse mercado e pouca concorrência no que diz respeito ao que vamos oferecer.”

Nessa largada, além da sua própria plataforma, a Arca Grão poderá ser acessado em outros canais. “Já fechamos acordos com XP, Rico, BTG Pactual, banco Inter, Modalmais, Órama, Warren, Genial e Empiricus”, conta Mônica Saccarelli, cofundadora e CEO da Grão. O Nubank é outra empresa que deve reforçar, em breve, esse pacote.

“Praticamente, quem ficou de fora foram os grandes bancos, que foram procurados”, afirma Bruno Perini, sócio do Grupo Primo. Ao reforçar que a ideia é justamente “roubar” parte dos recursos que hoje está alocada com essas grandes instituições.

Uma das grandes apostas da Grão para se diferenciar e atrair clientes para a oferta é o fato de o fundo se basear em uma metodologia que vem sendo usada há anos tanto por Nigro como Perini em seus investimentos.

Essa metodologia se traduz na diversificação dos investimentos em quatro classes de ativos, cujas iniciais compõem o seu nome de batismo – Arca. A divisão se dá entre ações da bolsa brasileira, real estate, caixa ou ativos de renda fixa e ativos internacionais.

No caso do Arca Grão, a oferta estará dividida da seguinte forma: 10% dos recursos serão alocados em fundos imobiliários; 20% em ações nas bolsas americanas, em dólar; 30% em ações na B3; e 40% em ativos de renda fixa.

“Além da diversificação nessas quatro classes, vamos ter ainda a diversificação em vários gestores”, explica Guilherme Sá, gestor da Grão. “Em ações no Brasil, por exemplo, nós temos hoje alocação em aproximadamente oito fundos."

Em termos de rentabilidade, um dos parâmetros que balizam a oferta são diversas estatísticas que o Grupo Primo compilou ao aplicar a metodologia Arca em outros mercados, considerando um período de dez anos. Entre eles, países como Turquia, Alemanha, Japão, China, Estados Unidos e México.

“Na Alemanha, por exemplo, nesse período, a Arca rende 150% contra 12% da renda fixa e 24% de inflação”, observa Nigro. “No Brasil, a rentabilidade foi de 297%, contra 148% de renda fixa e uma inflação da ordem de 66%.”

Ele ressalta que a projeção é fechar 2022 com um volume entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão sob gestão nessa primeira oferta. Em relação aos eventuais próximos lançamentos da Grão, Nigro diz que o plano, no curto prazo, é consolidar esse primeiro fundo. E que outras opções, a partir de 2023, seguirão a linha de atender a demanda gerada pela audiência que consome as marcas do Grupo Primo.

A projeção é fechar 2022 com um volume entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão dentro do primeiro fundo da Grão

Curiosamente, a previdência privada foi o tema abordado no primeiro vídeo publicado por Nigro no YouTube, em fevereiro de 2016. Ele ressalta, no entanto, que, na época, o assunto não era “sexy” e, por conta disso, rendeu poucos cliques em seus passos iniciais como influenciador do mundo financeiro.

O contexto é bem diferente dos números que compõem atualmente a operação da empresa. Com cerca de 20 marcas sob o seu guarda-chuva e uma receita de R$ 130 milhões em 2021, o Grupo Primo contabiliza, por exemplo, um volume de 20 milhões de seguidores nas redes sociais de todas essas propriedades.

Além da Grão, outros ativos encorparam o portfólio da companhia nesse ano, por meio de aquisições. A lista inclui a TopInvest, companhia de educação voltada a profissionais do mercado financeiro; a Edufinance, especializada em valuations; e a Paradigma Educatoin, casa de análise voltada ao mercado de criptomoedas.

Entretanto, esse percurso não foi feito apenas de boas notícias. Segundo informações publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, o grupo promoveu duas ondas de demissões, nos meses de maio e de setembro, que totalizaram um corte de 140 funcionários.

“O número foi inferior a 100 funcionários”, diz Nigro, que atribui os cortes à consolidação da equipe a partir das aquisições realizadas e cita outros números para contrapor essas medidas. “Em setembro de 2021, nós tínhamos 135 pessoas na equipe e, agora, após essa reestruturação, temos 214 funcionários.”

Para ressaltar a “saúde” da operação, ele acrescenta que a empresa abriu mão de captar recursos: “Nós recebemos alguns term sheets que avaliaram a operação em R$ 1 bilhão e achamos que não era a hora, pois não precisamos de caixa”, diz. “O foco agora é consolidar nossas plataformas e o nosso ecossistema.”