O ano está difícil para os fundos de ações. Até outubro, o total de resgates passa de R$ 40,5 bilhões. Muitos mal estão batendo o Ibovespa muito menos o CDI. Entre as (poucas) gestoras que estão conseguindo se destacar, uma chama a atenção por estar distante do "mainstream" da Faria Lima: a gaúcha Vokin Investimentos.
Enquanto a indústria de fundos de ações sofre, a gestora fundada em 2011 na cidade de Porto Alegre captou cerca de R$ 350 milhões líquidos neste ano, o que fez o total sob gestão alcançar R$ 2,5 bilhões.
Seus dois fundos de ações entregam performances consistentes para o investidor. O Vokin GBV Aconcágua FIC FIA acumula alta de 15,7% no ano e de 41% em 36 meses, enquanto o Vokin K2 Long Biased FIA, que replica parte da estratégia do fundo principal e também faz operações de curto prazo táticas, tem alta de 16% no ano e de 53% em 36 meses. Nesse mesmo período, o Ibovespa sobe 9% e 18%, respectivamente.
“Somos value investor, mas não 'buy and hold'. Confiamos na nossa avaliação do valor das ações, e quando chega perto vendemos para capturar a alta e entrar em empresas mais descontadas”, afirma Frederico Vontobel, fundador e gestor da Vokin Investimentos, em entrevista ao NeoFeed.
Entre as posições que a gestora tomou que explicam o bom resultado está a Grendene, que chegou a subir mais de 30% até maio, com cotação a R$ 8,23. A gestora soube capturar essa alta e zerar a posição antes de a ação cair novamente para cerca de R$ 6.
Outros exemplos de entradas e saídas em bons momentos foram JBS e Alpargatas. Outros papéis que ajudaram na performance, continuam na carteira da gestora, são Banrisul, que sobe 18% no ano, e Ser Educacional, com alta de 37% em 2023.
Entre as novas apostas estão Carrefour, Assaí e Pague Menos, que são empresas consideradas muito descontadas pelo mercado.
“O Carrefour está caindo mais de 40% em 12 meses e valendo apenas 20% da sua receita. Entendemos que está muito descontado e que a operação do Big está sendo ajustada. Gostamos da tese de atacarejo, que é o segmento que mais cresce no Brasil”, diz Vontobel.
Essas posições mostram o olhar fora do maintream da indústria, que em geral fica concentrado nas grandes empresas. E essa diferença explica bastante o desempenho diferenciado dos fundos da Vokin em comparação aos seus pares.
“Nossa correlação com o mercado é baixa. Vemos que no Rio e em São Paulo 60% da carteira das assets têm os mesmos nomes. Pode ser medo de errar sozinho. Mas, para nós, se todo mundo está em uma ação, ela obviamente já está cara”, conta o gestor da Vokin.
Atrativo para os fundos de pensão
A boa performance dos fundos da Vokin também vem com baixa volatilidade. O Aconcágua tem sharpe de 0,23 em 3 anos. O que agrada bastante os fundos de pensão, grandes responsáveis pelo crescimento de 25% da gestora em total sob gestão no ano. Hoje, cerca de 50% do seu passivo é de Entidades Fechadas de Previdência Complementar.
“Nós não temos um grande esforço de distribuição, mas costumamos dizer que performance consistente é o que traz investidor", afirma Guilherme Macedo, diretor de relações com investidores da gestora. "Temos recebido vários fundos de pensão interessados em nos conhecer. Hoje, já temos 14”.
O retorno em 2023 atrai a atenção do institucional, mas é a performance acumulada que mostra para esse investidor a capacidade do time de gestão. O Vokin K2 Long Biased FIA, por exemplo, rende 177,6% desde o início, em 2012. O Ibovespa entregou 88,1% no mesmo período.
Com 12 anos de mercado, a Vokin só aderiu às plataformas de distribuição em 2019. Atualmente, ela está plugada em 14 distribuidores, como XP, BTG, Inter, Andbank e Warren.
Na visão de Vontobel, o ano de 2024 tem tudo para ser ainda melhor, com queda de juros no Brasil. “Há uma fuga ao risco no mundo, mas sempre há oportunidades e a bolsa brasileira está barata depois de um ano muito difícil. Não faltarão oportunidades”.