O BTG Pactual anunciou recentemente a compra do banco FIS Privatbank, de Luxemburgo, por 21,3 milhões de euros. E, até o fim do ano, a instituição financeira deverá ser chamada de BTG Europe. Mais do que uma aquisição pontual, foi um movimento estratégico do banco de André Esteves para aumentar a sua fatia na gestão de patrimônio dos latino-americanos com mais de US$ 5 milhões.

O avanço no exterior, entretanto, não deve parar por aí. O BTG avalia comprar um banco também nos Estados Unidos e trazer mais patrimônio sob gestão para todas as regiões. Em três anos, a meta é sair dos atuais 4 bilhões de euros na Europa e Reino Unido e alcançar 10 bilhões de euros. Nos EUA e Cayman, saltar dos atuais US$ 20 bilhões para US$ 30 bilhões.

“É uma meta conservadora”, diz Rogério Pessoa, sócio e head global de wealth management do BTG Pactual, ao NeoFeed. E complementa. “Foi-se o tempo em que o mundo ia ter grandes bancos globais ou powerhouses globais. Acreditamos em campeões regionais e queremos ser o investment banking champion da América Latina.” Atualmente, o BTG administra R$ 1,4 trilhão.

Essa estratégia passou a ganhar mais corpo nos últimos três anos com o banco fincando seus pés em vários países. Em 2020, abriu um escritório em Portugal. No pós-pandemia, no Reino Unido, e, em outubro próximo, vai abrir um escritório em Madri. O objetivo é operar em vários países para onde os brasileiros e latinos estão migrando.

Virar banco na Europa, por exemplo, fará toda a diferença na operação do BTG. “Luxemburgo é um divisor de águas porque vamos fazer custódia, crédito estruturado. O latino será o nosso foco, mas temos capacidade de atender europeus e vamos ganhar escala nisso”, diz Ricardo Borgerth, sócio e head de wealth management do BTG na Europa, ao NeoFeed.

“Todas as verticais que hoje o BTG tem no Brasil, teremos na Europa a partir de Luxemburgo”, diz Pessoa. O apetite pelo mercado é tão grande que o número de funcionários próprios do banco na região saltou de três, em 2020, para quase 90 atualmente. Do total de clientes, 82% são brasileiros e latinos e 18% de europeus.

“Viemos para cá pautados pelo fluxo migratório de brasileiros e entendemos que montar escritório aqui e trazer gente com o nosso DNA e cultura faria toda a diferença”, diz Borgerth. “E, no fim do dia, olhamos o cliente de forma macro, pode estar no Brasil, na Europa, nos EUA, em qualquer lugar.” Isso explica a expansão do BTG para outros países.

Como está no Brasil, Chile, México, Peru, Argentina e Colômbia atendendo grandes clientes, passou a ver uma enorme quantidade deles saindo de seus países, sobretudo por conta de instabilidades políticas. “Madri, por exemplo, tem recebido mais latinos até que Miami”, diz Pessoa.

São argentinos, chilenos, colombianos. “A poupança do argentino, por exemplo, está fora da Argentina há muito tempo.” E, dada a situação do país, com a economia em frangalhos, isso tem crescido. A tendência é o banco acompanhar esse fluxo para onde os clientes forem. Exatamente por isso a base do BTG na Europa é, por enquanto, Portugal.

De acordo com o Serviço de Fronteiras e Serviços de Portugal, o número de estrangeiros residindo no país chegou a 781.915 em 2022 – o que marcou sete anos consecutivos de crescimento no índice. Desse total, 30,7% são brasileiros. O mesmo movimento, mesmo em menor grau, tem acontecido na Espanha, na Itália e outros países da Europa.

“Escolhemos Luxemburgo porque queríamos estar em toda a Comunidade Europeia e é mais fácil operar por lá”, diz Pessoa. Ele explica que, dependendo da movimentação, mais escritórios podem ser abertos em outros países da Europa, com tudo centralizado em Luxemburgo. “Fica mais fácil transitar e fazer negócios ali.”

O BTG não é o único a buscar esse cliente. O Bradesco, por exemplo, tem um banco em Luxemburgo e também nos Estados Unidos, o Bradesco Bank. O Itaú Unibanco, por sua vez, tem sua bandeira fincada na Suíça e nos Estados Unidos, principalmente de olho nos clientes private.

Ao marcar presença na região, abre-se também um leque de oportunidades que antes não eram capturadas. A chegada na Europa posicionou o banco, principalmente em Portugal, onde tem participado de novos deals e investimentos alternativos.

No ano passado, o BTG anunciou a compra do Eden Hotel Estoril, em Cascais. O plano é investir 100 milhões de euros para renovar os quartos de hotel e também criar apartamentos residenciais para venda – principalmente para brasileiros em busca de visto permanente.

Além disso, ao lado do empresário Renato Rique, um dos grandes nomes do mercado de shopping-centers do Brasil, criou um fundo para consolidar o mercado de pequenos e médios centros de compras em Portugal. “Hoje, em Portugal, já viramos referência para grandes deals e os próprios portugueses nos procuram”, diz Borgerth.