A retomada do mercado imobiliário em São Paulo trouxe algumas dúvidas sobre a sustentabilidade dessa recuperação. Pelo segundo ano consecutivo, a cidade viu os preços dos imóveis aumentarem em termos reais ajustados pela inflação.

Um estudo do UBS Wealth Management (WM) mostra que, pelo menos por enquanto, a situação não preocupa. A capital paulista ocupa a última posição do UBS Global Real Estate Bubble Index 2024, índice que mede o risco de bolhas de imóveis residenciais em 25 grandes cidades ao redor do mundo.

Segundo o UBS WM, mesmo com os preços dos imóveis subindo por dois anos seguidos em São Paulo, os preços reais permanecem mais de 20% abaixo do pico registrado em 2014. O estudo aponta ainda que, considerando as altas taxas de juros, o aluguel continuou sendo financeiramente mais atraente do que ter casa própria. O estudo aponta que os aluguéis subiram quase 10% nos últimos quatro trimestres.

A situação dos preços dos imóveis residenciais de São Paulo está alinhada com a tendência apurada pelo estudo do UBS WM, de que os riscos de bolhas imobiliárias nas 25 cidades estão baixos, tendo diminuído, em média, pelo segundo ano consecutivo.

No UBS Global Real Estate Bubble Index 2024, Milão, Varsóvia e Estocolmo são cidades que também apresentam risco baixo de bolhas, ao contrário de Miami, Tóquio e Zurique, onde o risco é alto.

Os preços dos imóveis, ajustados pela inflação, estão, em média, cerca de 15% mais baixos do que em meados de 2022, quando os juros começaram a subir globalmente. Em cidades como Frankfurt, Munique, Estocolmo, Hong Kong e Paris, os preços reais estão abaixo dos seus picos pós-pandemia em 20% ou mais.

“As cidades que registraram as correções de preços mais acentuadas são aquelas que apresentaram um alto risco de bolha imobiliária em anos anteriores”, diz, Claudio Saputelli, head CIO de real estate do UBS WM, em nota.

Miami em primeiro lugar

Na contramão dessa tendência, Miami ficou em primeiro lugar do índice do UBS WM de risco de bolha imobiliária. Mesmo com a situação arrefecendo por conta dos juros altos nos Estados Unidos, os preços na cidade estão quase 50% acima dos valores dos imóveis vistos no final de 2019, com um avanço de 7% dos preços nos últimos quatro trimestres, duas vezes mais forte que a média dos últimos 20 anos.

Segundo o UBS WM, o movimento é puxado pela expansão do mercado de luxo, diante da forte demanda por propriedades high end de frente para o mar. “O aumento dos preços nos últimos anos se dissociaram fortemente do aumento da renda e dos aluguéis, resultando em desequilíbrios significativos no mercado de imóveis residenciais e levando a um alto risco de bolha”, diz trecho do relatório.

A situação em Miami vem no momento em que o mercado imobiliário americano sofre com a crescente inacessibilidade, com o pagamento mensal da hipoteca, como percentual da renda familiar, estando acima do que era durante o pico da bolha imobiliária de 2006 e 2007, de acordo com o UBS WM.

Olhando para frente, a perspectiva é de uma melhora nos mercados imobiliários dessas cidades. Para o UBS WM, a queda dos juros prevista nas principais economias deve impulsionar a venda de imóveis.

“Os preços reais das moradias em muitas cidades atingiram o seu ponto mais baixo. A perspectiva econômica provavelmente determinará se os preços voltarão a subir ou se ficarão estáveis”, afirma, em nota, Matthias Holzhey, principal autor do estudo.