No começo de abril, a Grand Cru, maior distribuidora de vinhos do Brasil, enviou uma carta que causou grande apreensão no setor.
No comunicado, a Grand Cru informava que, por conta da pandemia, iria suspender temporariamente os pagamentos de seus fornecedores e solicitava que novas faturas não fossem emitidas.
Na ocasião, Agustín Blanco, CEO da Grand Cru, disse ao NeoFeed que a medida era pontual e que a companhia estava sólida econômica e financeiramente.
Mas uma semana depois de suspender pagamentos, a Grand Cru começou uma outra série de ajustes. A distribuidora demitiu 30 funcionários, aproximadamente 10% de sua força de trabalho.
Blanco confirmou as demissões ao NeoFeed, que define também como “pontuais”. “Tínhamos um plano de negócios para 2020. Como todos, fomos surpreendidos com o coronavírus e estamos nos adaptando ao novo cenário”, diz o CEO da Grand Cru.
A Grand Cru, acrescenta ele, está revendo custos, negociando aluguéis de suas lojas – são 78 lojas, entre franquias e próprias, muitas delas em shoppings centers – e monitorando o caixa diariamente.
As demissões foram feitas pelos chefes diretos dos funcionários. Depois, em e-mail, Blanco agradeceu o trabalho de cada um dos empregados e dizia que esperava que a crise passasse rápido. “A empresa diz que está sólida, mas demite. Isso causa estranheza”, diz o vendedor de vinhos Davi Ferreira, que trabalhava há dez anos na empresa e foi um dos desligados.
A afirmação de Ferreira faz coro com a de outro demitido, Joaslei Marques Dourado, que era sommelier da loja da Grand Cru em Moema, bairro nobre de São Paulo.
“Disseram que era um corte de salário, um ajuste da companhia. Acho que eles aproveitaram a crise para se capitalizarem. Sei que sou um bom funcionário, com vendas entre R$ 140 mil e R$ 150 mil por mês. No Natal, vendi R$ 330 mil em vinhos”, conta Dourado, que já foi contratado por uma outra importadora.
Aposta online
No meio desta crise, a Grand Cru está também remanejando investimentos para os canais de venda, que estão se mostrando mais eficientes neste período de quarentena
Neste momento, as vendas online têm tido um bom desempenho. A distribuidora está fazendo também vendas por telefone. Os pedidos são feitos para os funcionários das lojas e o frete é grátis.
Restaurantes e bares estão parados. Antes da pandemia, os restaurantes respondiam por 30% das vendas da Grand Cru. Este espaço está sendo ocupado pelos supermercados.
Mas a diferença, lamenta Blanco, está no tíquete médio da compra. Sem citar os números, o executivo conta que os vinhos vendidos no varejo são de valores muito mais baixo do que os comercializados nos restaurantes.
Por isso, Blanco prevê também um remanejamento de linhas de produtos nos próximos pedidos para as vinícolas. “O portfólio está mudando. Ainda não sei como ficará”, afirma o executivo.
Do lado dos franqueados, mesmo com lojas fechadas, as vendas continuam. “Estou acima do volume de vendas do ano passado. Em março, vendemos 12% mais, comparado com o ano anterior, e em abril, até agora, 4% mais”, afirma Ronaldo Carvalho, que tem duas franquias da Grand Cru, no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro.
Ele diz que a importadora vem se mostrando parceira e faz promoções agressivas, para as vendas, o que tem lhe ajudado bastante.