A Sequoia conseguiu atingir os objetivos da sua reengenharia financeira. Na terça-feira, 17 de outubro, a liquidação das debêntures séries A e B da companhia de logística mostrou que a primeira série, que era uma troca entre títulos antigos por novos, atingiu R$ 241,5 milhões de um total de R$ 300 milhões. E a segunda série, que coloca dinheiro novo no caixa da empresa, teve a sua totalidade de R$ 100 milhões subscrita.
O NeoFeed apurou que o sucesso dessa operação tem nome: Jive Investments, a gestora de ativos alternativos especializada em distressed assets com R$ 19 bilhões sob gestão.
Fontes que estiveram envolvidas com a negociação afirmam que a Jive garantiu R$ 80 milhões dessa nova debênture, o que assegura uma sobrevida financeira para a Sequoia. Os R$ 20 milhões restantes vieram de Armando Marchesan Neto, CEO, e Eric Fonseca, da Newfoundland Capital Management. Ambos são acionistas de referência da empresa.
“O Armando atendeu todo mundo, colocou o patrimônio dele à disposição e pagou contas ‘na física’ em uma empresa que é corporation. Certamente outros empreendedores no lugar dele teriam corrido”, diz uma pessoa envolvida na negociação. “Por isso, foi bonito ver essa transparência e a conscientização dos credores pela reestruturação.”
A principal característica dessas novas debêntures é que elas podem ser convertidas em ações em um período de até 12 meses (o prazo do lock up). No entanto, a Jive não vai esperar esse tempo todo e deve se tornar acionista já nas próximas semanas. Essa decisão se encaixa no estilo de gestão da empresa, que gosta de estar próxima ao management das investidas.
Com a entrada da Jive, o número de gestoras com participação relevante na Sequoia fica maior. Capitânia, BB Asset e Riza detinham quase 55% dos títulos da dívida da empresa e foram as líderes desse processo de reestruturação.
Mas a Jive, que já vinha adquirindo as antigas debêntures no mercado secundário em razão da abertura da curva de juros, exigiu algumas condições para aportar esses R$ 80 milhões, informam pessoas próximas.
A primeira condição era que dois terços das antigas debêntures fossem convertidas para a série A. A adesão dos debenturistas atingiu 77,5% e satisfez a Jive. Porém, a segunda era mais delicada e demandou uma longa negociação com os bancos credores.
A Jive não queria correr o risco de aportar esse montante milionário e no dia seguinte as instituições financeiras executarem as dívidas. Com R$ 400 milhões de endividamento bancário, o Banco ABC e o Santander são os principais credores, com quase 60% desse montante.
Até a manhã do encerramento do bookbuilding, na terça, 10 de outubro, as condições ainda estavam abertas. Mensagens eram trocadas entre todos os lados - debenturistas, bancos, empresa e Jive - para se ter a certeza de que todas as pontas estavam bem amarradas.
No fim daquele dia, a Jive recebeu a informação de que o Santander e o Banco ABC aprovaram uma reestruturação semelhante ao que foi feita com os debenturistas, ou seja, a conversão de parte da dívida bancária em ações e o alongamento do prazo para até sete anos do restante do endividamento.
Pela apuração do NeoFeed, o Santander topou converter 100% em ações e o ABC, em torno de 50%. Os demais bancos seguiram a decisão dos maiores credores e enviaram cartas de intenção.
O escritório Machado Meyer assessorou a Sequoia e o Mattos Filho, o Santander. O fechamento dessa operação com as instituições financeiras deve acontecer até o fim de outubro.
Uma nova empresa
A Sequoia era uma empresa no fim do primeiro semestre deste ano sem muitas perspectivas de chegar a 2024. De janeiro a junho, o consumo de caixa foi de R$ 63,3 milhões e o prejuízo chegou a R$ 181,7 milhões. O endividamento atingiu R$ 700 milhões e a alavancagem chegou a 7,6 vezes a relação dívida líquida sobre Ebitda.
Agora, o endividamento vai cair para a faixa de R$ 200 milhões a R$ 250 milhões, com prazo bastante alongado. A alavancagem ficará próxima de uma vez a geração de caixa.
“A Sequoia conseguiu uma desalavancagem de quase R$ 500 milhões sem recorrer a uma recuperação judicial, que era o óbvio. E em um mercado ainda machucado por Americanas e Light”, diz uma fonte que pediu anonimato. “Às vezes, é preciso apenas boa vontade.”
Com a reengenharia financeira, a Sequoia entra no que o mercado chama de fresh start. Além disso, ganha uma nova chance de consertar os erros cometidos no passado recente. O principal deles foram as aquisições que desviaram o foco da companhia de entregar o que ela faz melhor: logística para pequenas e médias empresas.
A expectativa é que a Sequoia acerte os seus passivos mais importantes nos próximos dias - principalmente a conta com fornecedores - e consiga capturar parte das entregas que serão feitas na Black Friday e nas festas de fim de ano.
Mas não se pode esperar que essa transformação apareça no balanço do 3º trimestre, que será divulgado na segunda-feira, 13 de novembro, com dados até 30 de setembro. A perspectiva é que nos próximos 15 meses a 18 meses a Sequoia já esteja com a governança corporativa reajustada e a estratégia pronta para voltar ao faturamento de R$ 1 bilhão.
A ação da Sequoia acumula queda de 84,3% em 2023, até 17 de outubro. Em 12 meses, a desvalorização é de 91,7%. O valor de mercado da empresa é de R$ 95,2 milhões.
Procuradas pelo NeoFeed, Sequoia e Jive não quiseram se pronunciar.