Enquanto os concorrentes ainda têm de lidar com os legados negativos do excesso de concessão de crédito durante a pandemia, o Itaú Unibanco mostra que o assunto é passado. Na apresentação dos resultados do terceiro trimestre, novamente o banco liderado por Milton Maluhy Filho apresentou um bom desempenho e registrou o maior lucro líquido contábil da história em nove meses entre bancos listados na B3.
O Itaú atingiu a marca de R$ 24,2 bilhões no acumulado do ano até setembro, superando o recorde anterior, registrado pelo Banco do Brasil em 2022, que totalizou R$ 22,3 bilhões, segundo levantamento feito pelo consultor Einar Rivero. Em termos recorrentes, o lucro líquido subiu 12% no terceiro trimestre, em base anual, para R$ 9 bilhões, e avançou 13,4% em nove meses, a R$ 26,2 bilhões.
Isso não quer dizer que o banco não tenha suas questões. Mas uma delas pode ser interpretada como uma dor de cabeça “boa”. No caso, o que fazer com o excesso de capital que tem acumulado no balanço. E a resposta pode ser bem positiva aos acionistas.
“Existe uma expectativa de aumento de dividendo ou alternativas, que a gente está discutindo”, disse o CEO do banco, Maluhy Filho, na terça-feira, 7 novembro, em entrevista coletiva. “Sempre tem alternativas para como conduzir quando se tem excesso de capital, e a minha expectativa é, no mês de novembro, ter essa discussão no conselho de administração do banco.”
Segundo Maluhy, o banco está operando com um Índice de Capital Principal (Common Equity Tier I) - Basileia 3 de cerca de 1,6 ponto acima do que o banco gostaria de operar. No terceiro trimestre, esse indicador ficou em 13,1%.
A questão é que o Itaú ainda está aguardando o Banco Central (BC) definir detalhes da regulação para o capital Basileia 3 para os próximos anos. A expectativa é de que a questão seja resolvida neste mês, segundo Maluhy. “Essa é a informação mais importante que precisamos receber para definir o planejamento de capital”, afirmou.
Maluhy disse que a distribuição desse excesso pode ocorrer através de uma combinação de mecanismos, desde aumento do dividendo até recompra de ações.
“A gente não quer reter capital excedente, esse não é o objetivo, mas o excedente precisa ser discutido à luz do que virá pela frente”, afirmou o CEO. “O que tiver de espaço e aquilo que a gente entender que o banco não tem condição de alocar, porque tem capital mais do que suficiente para o crescimento que virá, além da própria geração de capital, a ideia é distribuir ao acionista de alguma forma.”
Em relatório divulgado em setembro, quando o assunto começou a surgir, o Bradesco BBI estimou que o Itaú pode fazer um pagamento extra de R$ 6 bilhões em dividendos aos acionistas neste ano.
Crédito
A discussão mostra o conforto que o Itaú vive no momento. A inadimplência foi mantida sob controle e apresentou um retorno recorrente sobre o patrimônio líquido médio anualizado (ROE) de 21,1%, ponto que seus pares estão começando a focar – o Santander apresentou no período uma rentabilidade de 13,1%.
Parte disso vem de uma atenção maior à carteira de crédito, buscando crescer em segmentos e produtos considerados mais rentáveis e seguros. No terceiro trimestre, a carteira de crédito cresceu 4,7% em base anual e 1% na trimestral, para R$ 1,16 trilhão. Já o índice de inadimplência aumentou em 0,2 ponto percentual em base anual, mas ficou estável ante o segundo trimestre, atingindo 3%.
Segundo Alexsandro Broedel, diretor financeiro do Itaú, o banco apresentou um crescimento de 6% da carteira de crédito para pessoas físicas, em base anual, com expansão nos segmento considerados target, no caso, os clientes de alta renda nas categorias Uniclass e Personnalité. Nesses dois, a carteira de crédito apresentou um aumento de 17,5% em base anual.
O plano do banco é continuar com esta estratégia em 2024, diante dos resultados que vem trazendo até o momento. “São esses segmentos que temos por objetivo um crescimento maior”, afirmou Broedel.
Um ponto levantado foi em relação ao ritmo das concessões, que pode ser insuficiente para o Itaú cumprir com o guidance estabelecido. O banco espera um crescimento de 5,7% a 8,7% da carteira de crédito total, projeção que foi ajustada para considerar o efeito da venda das operações na Argentina, em agosto.
Questionado sobre uma possível aceleração para atingir as metas, Maluhy afirmou que o banco espera que o quarto trimestre mantenha as características históricas, de maior atividade para crédito. “A gente costuma ver um crescimento maior de carteira no quarto trimestre, maior demanda”, afirmou.
Por volta de 11h45, as ações preferenciais do Itaú subiam 2,02%, a R$ 28,76. No acumulado do ano, os papéis registram alta de 15%, levando o valor de mercado do banco a R$ 255,1 bilhões.