Aluna de biologia molecular na Universidade da Pensilvânia, a americana Katherine Sizov pensava em fazer pós-graduação em neurociência. Navegando na internet em busca de informações sobre o futuro curso, ela “tropeçou” em um dado que a deixou alarmada: o impacto climático do desperdício de alimentos.
Todos os anos, o mundo põe fora 1,3 bilhão de toneladas de comida, responsáveis por 11% das emissões globais de gases de efeito estufa. Se fosse um país, essa montanha de lixo seria o terceiro maior poluidor do planeta, atrás apenas de China e Estados Unidos.
Como boa parte das perdas se deve a alimentos frescos passados do ponto, Katherine deixou os estudos do cérebro de lado e decidiu “ouvir” as frutas, como ela costuma dizer. Em 2018, a um ano de se formar, ela fundou a Strella Biotech, com o colega Jay Jordan. Aos 21 anos, assumiu o comando da startup.
Sob sua liderança, a empresa de Seattle desenvolveu um sensor que, baseado em inteligência artificial (IA), indica o momento exato em que a fruta está pronta para ser comercializada.
Ao longo de cinco anos, a Strella trabalhou com maçãs e peras, chegou a 85% dos fornecedores americanos e salvou cerca de 9,5 mil toneladas desses alimentos do lixo. Agora, Katherine que ser “porta-voz” das bananas.
Já que o processo de maturação é semelhante para todas as frutas, a equipe de biólogos, engenheiros e cientistas da informação da Strella não precisou fazer grandes alterações no hardware. Mas, como cada espécie tem um tempo de amadurecimento, mudaram os algoritmos.
Antes de entender como a tecnologia da Strella funciona, é preciso saber: na imensa maioria dos casos, depois de colhidas, as frutas ficam estocadas em câmaras de atmosfera controlada, para evitar que apodreçam. Esse controle, porém, não é rigoroso.
E é aí que o sistema da Strella faz a diferença. Do tamanho de um telefone celular, o equipamento faz a medição de oito parâmetros.
Além da temperatura e umidade, o sensor avalia a concentração no ambiente de etileno, oxigênio e gás carbônico, compostos emitidos pelas frutas à medida em que amadurecem.
A delicadeza da banana
A IA faz então a análise desses dados, sugere ajustes e indica as frutas que estão no ponto ou indica se há necessidade de fazer algum ajuste para o momento exato em que as maçãs, as peras e agora as bananas estão prontas para chegar às gôndolas dos supermercados. Nem antes, nem depois, no ponto certo – o que evita o desperdício no varejo, serviços de alimentação e residências.
A precisão conferida pelas ferramentas emergentes, como machine learning e internet das coisas (IoT), é especialmente bem-vinda entre as bananas. Delicadíssimo, o gerenciamento da maturação da fruta é uma “arte”, como define Katherine, em comunicado. E um grande desafio para a indústria.
Diferente da maçã, por exemplo, a banana é colhida ainda verde. Se o amadurecimento não for muito bem controlado, em um piscar de olhos a fruta antes de verde se transforma em uma pasta amarronzada, envolta por uma casca molenga e manchada. Seu destino? Lixo.
Fruta mais popular do mundo, a banana está também entre as mais desperdiçadas. No Brasil, cerca de 370 milhões de cachos são postos fora, todos os anos - o equivalente a cerca de 60% da produção. Na casa dos consumidores, o índice chega a 20%.
Com a banana apodrecida, não se perde apenas comida, mas recursos naturais. Para a produção de um quilo da fruta são necessários 500 litros de água.
Há ainda os prejuízos financeiros. Para ser ter ideia do tamanho do rombo, bastar dar uma olhada no volume de dinheiro movimentado pela fruta, em todo o mundo.
Quarta cultura alimentar mais importante, depois do trigo, arroz e milho, a banana deve fechar 2023 em US$ 139,72 bilhões – e bater os US$ 145,4 bilhões, em 2028, informa a consultoria Mordor Intelligence.
A Índia é o maior produtor, com cerca de 26,3% da produção global, e o Equador, o principal exportador, respondendo por 26% do comércio, lê-se em relatório da FAO, a agência para alimentação e agricultura da Organização das Nações Unidas (ONU).
Logística complicada
A distância entre comerciantes e consumidores e a delicadeza exigida no manejo da fruta são, sem dúvida nenhuma, um complicador logístico. A biotech de Katherine acena com a possibilidade de um futuro de bananas maduras. Perfeitas para serem levadas à mesa.
Com maçãs e peras, a tecnologia da Strella, funcionou. E atraiu quase US$ 12 milhões em investimentos, junto a onze fundos de venture capital. Entre eles, o Yamaha Motor Ventures e o GV, antes conhecido como Google Ventures.