O “fenômeno Ozempic” tem feito mais do que livrar as pessoas dos quilos em excesso e impactar a economia global. Conforme aumenta a popularidade dos medicamentos com ação no hormônio da saciedade GLP-1 e cresce a incidência dos casos de diabetes tipo 2, mais e mais gente começa dar atenção às próprias taxas de açúcar no sangue.
Na confluência entre saúde e alimentação, o novo cenário abre uma série de oportunidades de negócios. Do desenvolvimento de comidas e bebidas capazes de imitar o GLP-1 à criação de tecnologias para avaliar o impacto da dieta no sobe e desce diário da glicose sanguínea.
Nessa corrida, a americana January AI é uma das startups a largar na frente.
Fundada em 2017, em Menlo Park, Califórnia, pela empreendedora Noosheen Hashemi e pelo geneticista Michael Snyder, professor da Universidade Stanford, a empresa acaba de lançar o primeiro aplicativo do mundo destinado a prever como os alimentos afetarão as quantidades de açúcar no organismo.
Baseado em inteligência artificial (IA), o sistema faz a análise por meio de imagens. Basta ao usuário tirar uma foto da refeição para receber imediatamente os resultados da avaliação. Se for o caso, a tecnologia informa as alternativas mais saudáveis ao prato fotografado.
Nos últimos sete anos, a January AI já amealhou quase US$ 43 milhões, em quatro rodadas de financiamento.
Entre os dez investidores da startup estão pesos-pesados da indústria de tecnologia, como Marc Benioff, cofundador e CEO da Salesforce, Steve Chen, um dos criadores do YouTube, e Marisa Mayer, ex-CEO do Yahoo!
Dicas personalizadas
Gratuito, o aplicativo da January AI está baseado em uma biblioteca gigantesca de dados epidemiológicos, nutricionais e demográficos. A startup consegue fazer a análise preditivas da influência de 32 milhões de alimentos na glicemia do usuário.
Por US$ 288 no primeiro mês, a versão paga da tecnologia combina essas informações com insights personalizados acerca da prática de atividade física e da qualidade do sono, por exemplo.
“Seu café da manhã provavelmente aumentará sua glicose. Caminhe por 19 minutos para se manter dentro dos parâmetros adequados”, pode ser uma das sugestões da IA da January AI. Ou: “Com base em seu horário tradicional de dormir, você deve parara de comer às 21:10”.
Orientações como essa são imprescindíveis em um mundo onde o diabetes tipo 2 só faz crescer. Caracterizada pelo excesso de açúcar no sangue, a doença afeta 540 milhões de pessoas, no mundo. Até 2050, a previsão é a de que o número de vítimas cresça 46%.
Atualmente, metade dos doentes desconhece sua condição – o que é um perigo. Fator de risco para doenças cardiovasculares, renais e oculares, entre outros, deixado a seu próprio curso, o diabetes pode matar. São quase 7 milhões de óbitos anuais, no mundo.
Equilíbrio preciso e delicado
Associado aos piores hábitos da vida contemporânea, como dietas inadequadas e sedentarismo, a doença está diretamente associada à obesidade. Quando nos alimentamos, a glicemia naturalmente sobe. Produzido pelos intestinos, o GLP-1 estimula a produção de insulina pelo pâncreas. O hormônio funciona como uma chave, abrindo a porta das células para a entrada da glicose, onde o açúcar é então convertido em energia.
O equilíbrio desse maquinário é preciso e delicado. Alguns alimentos, coms os ricos em fibras e proteínas, têm o poder de diminuir a glicemia e outros, como os carboidratos simples, de aumentá-las. O excesso de células adiposas torna o organismo mais resistente à ação da insulina. Resultado: acúmulo de açúcar na corrente sanguínea.
Conforme estudos divulgados pela January AI, em quatro meses, os usuários do aplicativo comem 16,2% menos calorias, perdem quase dois quilos e aumentam a ingestão de proteínas e fibras em 11,6% e 22,8%, respectivamente. No mesmo período, consomem 22,8% menos carboidratos.
Como dizem os fundadores Noosheen e Snyder, eles pretendem ajudar o “mundo a comer de maneira mais inteligente”.