Depois de um desempenho no quarto trimestre que “não desceu redondo” entre analistas e investidores, a Ambev busca apontar que começa este ano de forma positiva, com sinais de expansão no volume de vendas no Brasil.

Em teleconferência para tratar dos resultados do quarto trimestre, o CEO da Ambev, Jean Jereissati Neto, vê a possibilidade de acelerar as vendas, especialmente de cerveja no Brasil, calcada nas marcas premium. O volume de vendas de cerveja caiu 1,1% no quarto trimestre sobre uma base de comparação difícil devido à Copa do Mundo, mas a receita subiu 6,1%.

“Embora o Brasil apresente um dos maiores consumo per capita de cerveja do mundo, vemos oportunidades de continuar crescendo, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde as marcas premium estão crescendo, mas ainda estão sub posicionadas”, disse Jereissati Neto.

Segundo ele, os primeiros dados sobre vendas no primeiro trimestre são positivos, puxados pelo desempenho visto no Carnaval. “Entramos no primeiro trimestre com bastante momentum, com uma indústria forte e bem posicionados no mercado”, afirmou o CEO.

No entanto, questões que já vinham preocupando os investidores não devem sair do foco tão cedo. E nem mesmo a notícia de uma menor pressão de custos está ajudando a melhorar o humor dos investidores, que castigavam as ações da Ambev na quinta-feira, 29 de fevereiro.

Por volta das 16h40, as ações da Ambev recuavam 6,39%, a R$ 12,59. No ano, elas acumulam queda de 8,3%, levando o valor de mercado a R$ 198 bilhões.

Se o cenário se mostra positivo dentro de casa, no vizinho, a situação da Ambev permanece complexa. A desvalorização cambial na Argentina foi o destaque negativo do desempenho da empresa no quarto trimestre, com a hiperinflação nos hermanos resultando numa despesa financeira sem efeito caixa de R$ 362,5 milhões, além de custos de de carrego de hedge relacionados à exposição cambial na Argentina.

E o cenário não deve ser favorável, pelo menos no curto prazo. Segundo a Ambev, após a desvalorização do peso argentino em dezembro, a expectativa é de um início de ano difícil, uma vez que a economia se ajusta a um ambiente inflacionário mais alto. “Vamos buscar sermos ágeis e bastante disciplinados [para lidar com a situação], buscando entender como ficarão os volumes”, disse Jereissati.

Outro ponto que vem pesando sobre o humor dos investidores quanto à Ambev é a questão dos efeitos da Reforma Tributária. Tema já recorrente em diversos relatórios de analistas que acompanham a empresa, a legislação promulgada em dezembro, com efeito a partir de janeiro de 2024, alterou as regras relacionadas à dedutibilidade para fins de imposto de renda do juros sobre capital próprio (JCP) e de subvenções governamentais de ICMS.

Segundo Lucas Lira, CFO da Ambev, a companhia ainda está buscando entender as mudanças e vendo como as regras ficarão, considerando que alguns pontos estão sendo questionados, caso da constitucionalidade das alterações a respeito das subvenções governamentais de ICMS.

Mas sobre o ponto do JCP, ele diz que a Ambev avalia compensar as mudanças através do uso de créditos tributários que a companhia detém. Questionado sobre mudanças na estrutura de capital, ele disse que esse é um assunto para um segundo momento. “Nenhuma decisão foi tomada sobre este tema porque temos créditos para utilizar”, afirmou.

Custos

Junto com o balanço, a Ambev apresentou um guidance para o CPV por hectolitro, métrica de custos para bebidas. Custos, por sinal, sempre foi um tema que a Ambev buscou controlar, como parte da cultura colocada por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.

Segundo a companhia, a expectativa é de uma diminuição de 0,5% e 3,0% no ano. O que deveria ser boa notícia, no fim, representou uma decepção aos analistas. O Itaú BBA classificou a projeção como “conservadora”. “As estimativas do buyside estavam mais próximas de uma deflação entre 5% e 9%, enquanto nós esperávamos uma queda de 8%”, diz trecho do relatório.

O ponto também foi levantado pelo BTG Pactual, que destacou que o número resultará numa revisão de projeções. “Considerar o novo guidance de custos reduziria cerca de 4% nossa projeção para o lucro em 2024”, diz trecho do relatório.

Sobre o tema, a Ambev destacou apenas que a composição do CPV por hectolitro levou em conta os ventos favoráveis das commodities e do câmbio, parcialmente compensados pelo mix de produtos e por ajuste de contas a pagar a valor justo, em razão de menor taxa de juros no Brasil.

A Ambev fechou o quarto trimestre com um lucro líquido de R$ 4,5 bilhões, queda de 11% em base anual. No ano, a companhia registrou um ganho de R$ 15 bilhões, aumento de 0,5%.

A receita líquida caiu 12% no trimestre, para R$ 19,9 bilhões, e ficou praticamente estável em 2023, em R$ 79,7 bilhões. O Ebitda ajustado teve aumento de 0,6% no quarto trimestre, para R$ 7,1 bilhões, e avançou 7,1% em 2023, para R$ 25,4 bilhões.