A expectativa de alterações tanto na questão dos juros sobre o capital próprio (JCP) como no ICMS somada às dificuldades econômicas da Argentina fizeram os analistas do Itaú BBA revisarem para baixo as estimativas para o desempenho da Ambev em 2024.

Mesmo reconhecendo que a companhia conseguiu superar as dificuldades apresentadas na parte de custos, o que deve ser um fator positivo em 2024, a abordagem mais conservadora em relação às subvenções fiscais e as questões econômicas na Argentina fizeram os analistas decidirem pela redução do preço-alvo das ações, de R$ 17 para R$ 15 - o papel tem sido negociado em torno de R$ 13. A recomendação permanece em neutra.

“Mantemos nossa postura cautelosa no curto prazo, mas reconhecemos que diversas questões não operacionais já foram precificadas na tese de investimento da companhia nos últimos 18 meses”, diz trecho do relatório assinado pelos analistas Gustavo Troyano, Bruno Tomazetto, Daniel Sasson e Larissa Pérez.

“Enquanto o pior momento parece ter ficado para trás, continuamos a não ver nenhuma assimetria suficientemente grande para produzir retornos acima do nosso de custo de capital próprio”, complementam os analistas.

O Itaú BBA incorporou em suas estimativas a possibilidade de redução da dedutibilidade fiscal do novo entendimento do JCP sendo estudado pela equipe econômica do governo. Segundo os analistas, a medida deve gerar um impacto negativo de 15% na previsão de lucro por ação em 2024.

O cenário inclui ainda a questão das subvenções de ICMS na base tributária, tema em discussão desde o ano passado, após a edição da Medida Provisória (MP) 1185, que fecha brechas para grandes empresas pagarem menos impostos. Esta medida deve ter um impacto negativo de 7% no resultado final, segundo os analistas do Itaú BBA.

Estes dois fatores, combinados com a abordagem mais conservadora quanto ao câmbio argentino na divisão América Latina Sul da empresa, resultaram numa redução de 11% nas estimativas para o lucro líquido ajustado. A expectativa agora é de um resultado positivo de R$ 13,7 bilhões ao final de 2024.

“Avaliamos que as externalidades não operacionais até agora ofuscaram o momento operacional positivo no segmento Cerveja Brasil, mas o fluxo adicional de notícias relacionadas provavelmente terá um impacto mais suave na tese de investimento daqui para frente”, diz trecho do relatório.

No caso do segmento de cerveja no Brasil, os analistas do Itaú BBA destacaram que após 14 anos de custos unitários sequencialmente altos, a Ambev deve finalmente se beneficiar com uma tendência de custos benigna, um efeito positivo sobre as margens.

A projeção para a margem Ebitda ajustada passou de 31,9% para 34%, enquanto a margem bruta subiu 1,1 ponto percentual, para 53,1%. “Esperamos que a Ambev repasse preços próximos da inflação, buscando capturar o spread da deflação de custos e convertê-lo em lucratividade”, diz trecho do relatório.

Sobre a falta de assimetria, o relatório indica que as ações da Ambev devem ser negociadas a um P/L de de 15 vezes e 14 vezes para 2024 e 2025, respectivamente. Do lado positivo, os analistas afirmam que está no radar deles a maioria dos desafios que a empresa poderá enfrentar. No entanto, eles continuam assumindo um retorno total de 13% para os próximos dois anos, ligeiramente abaixo do custo de capital que projetam.

Por volta das 12h45, as ações da Ambev caíam perto de 1%, a R$ 12,97. No ano, elas acumulam queda de 5,75%, levando o valor de mercado a R$ 203,8 bilhões.