Nos últimos 14 meses, Eduardo Sirotsky Melzer dedicou uma boa parte do seu tempo a uma agenda específica da eB Capital, gestora de investimentos alternativos que tem ainda como sócios Pedro Parente, Luciana Antonini Ribeiro e Marcelo Claure - o nome mais recente a ingressar nesse quadro.
Sua rotina no período não ficou restrita à Faria Lima, avenida em São Paulo que abriga a sede da gestora e que é a fonte de uma imensa parcela dos investimentos feitos no Brasil. Intensa, a jornada foi muito além desses metros quadrados, com escalas no Sul e no Centro-Oeste, entre outros rincões do País.
O resultado dessa peregrinação será conhecido nesta segunda-feira, 4 de março. Com R$ 5 bilhões em ativos sob gestão, a eB Capital está estreando, via crédito, no agronegócio, com a eB Crédito Agro. E seu primeiro passo para colocar definitivamente o “pé no barro” é uma captação de até R$ 400 milhões, mas a meta é chegar a R$ 2 bilhões sob gestão em dois anos.
“O agronegócio sempre nos entusiasmou muito” diz Melzer, cofundador e CEO da eB Capital, em entrevista exclusiva ao NeoFeed. “Mas, como somos muitos hands on e acreditamos em execução, não conseguíamos enxergar um ângulo que nos desse um diferencial para participar e ganhar no setor.”
Ao gastar sola do sapato, a gestora encontrou, porém, o que procurava. “Se o agronegócio é o motor da economia, o crédito é o motor do agronegócio”, afirma Melzer. “Nós podemos contribuir para o crescimento dessas companhias a partir do balanço delas. Esse é o melhor caminho de entrada.”
A busca pelo nome que lideraria a nova área foi outra missão nesse trajeto. A escolha recaiu sobre Paulo Fleury, que chega à gestora como sócio da nova vertical. Ele traz na bagagem 12 anos na área de crédito, o que inclui a fundação da Solis Investimentos e passagens por FG/A, Valora e Petra Asset.
“Em cada reunião, toda vez que eu pedia uma referência, invariavelmente, o nome do Paulo aparecia”, conta Melzer. “E isso não aconteceu apenas nos bancos na Faria Lima, mas em todo o ecossistema. E ele pensa como dono, é um sócio pra valer. Já entrou no time jogando e ajudou a refinar a nossa tese.”
A partir dessas credenciais, Fleury resume os planos da eB Crédito Agro. “Conheço bem quem é o tomador no setor, quem tem condições de pagar e o que o investidor está buscando”, afirma. “Temos uma avenida para construir e nosso plano é ser uma vertical completa de crédito para o agro.”
Ele irá comandar uma equipe dedicada, a princípio, de oito profissionais na área, que contará ainda com o suporte do back office da eB Capital. E, em linha com a pegada de execução da gestora, a ideia é que esse time passe boa parte do seu tempo, literalmente, em campo.
“Eu brinco que não queremos nem ver essas pessoas no escritório”, afirma Fleury. “Elas vão estar no campo, vendo as safras e trazendo boas oportunidades para ampliar o retorno para o investidor.”
O ponto de partida nesse percurso envolve a oferta de um primeiro Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagro), com o plano de captar até R$ 400 milhões. Batizado de eB Fiagro I, o veículo está em fase de estruturação. Um dos pontos em avaliação é o aporte mínimo, que deve ficar entre R$ 1 mil e R$ 10 mil.
Finalizada essa etapa, a previsão é de que o roadshow e o lançamento da oferta aconteçam em pouco mais de um mês. Mas, conforme apurou o NeoFeed com fontes de mercado, o fundo já nasce com uma ancoragem de R$ 120 milhões.
Como parte da tese que embala a entrada da eB Capital no segmento, na ponta dos tomadores do crédito, a operação vai se concentrar em empresas com faturamento acima de R$ 150 milhões, que tenham balanços auditados e um certo nível de governança.
Diante do escopo amplo do agronegócio, o plano é distribuir 40% dos recursos captados no eB Fiagro I para o setor sucroenergético; 25% para defensivos agrícolas e insumos em geral; 25% para maquinários; e 10% para revendas, sob a condição de que essas últimas operações tenham marcas próprias.
Porteira aberta
A escolha de um Fiagro para abrir essa porteira em direção a esses recursos se justifica por duas premissas. A primeira delas é o fato de que, apesar de ainda recente, essa modalidade já acumula números bastante representativos em pouco mais de dois anos no mercado de capitais.
Segundo dados mais recentes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), relativos a janeiro de 2024, os Fiagros alcançaram um patrimônio líquido de R$ 34,4 bilhões, o que representou uma alta de 42,1% sobre igual período, um ano antes.
“Foi um ramp-up muito forte, mas ainda é pouco perto do que estamos enxergando”, observa Fleury. “As linhas subsidiadas pelo governo, o Plano Safra, já não são suficientes para bancar as demandas do agro, que, cada vez mais, vai ter que recorrer também ao crédito privado e a outros instrumentos.”
Esse avanço, em tão pouco tempo, aconteceu mesmo sob a ausência de uma regulamentação específica para essa oferta. Nesse intervalo, essas operações foram baseadas na lei dos fundos imobiliários, que, sem considerar as especificidades da modalidade, acabou por limitar parte do seu crescimento.
A decisão da eB Crédito Agro de fazer sua estreia no agronegócio via Fiagros também se explica por Fleury ter sido um dos nomes que desbravaram esses fundos no mercado.
“O Paulo foi um dos precursores do Fiagro”, diz Melzer. “Estamos entrando ainda no início de algo que é muito novo e que já tem uma onda de alto crescimento. E temos a convicção de que trouxemos o melhor sócio para ter um market share relevante.”
Fleury, por sua vez, destaca que o cenário ganha um caráter ainda mais favorável à medida que, após uma consulta pública realizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e finalizada em janeiro, a expectativa no mercado é de que os Fiagros ganhem um regramento próprio e definitivo em breve.
“Uma das opções na mesa é um Fiagro híbrido, onde você poderá ter três estratégias – seja uma terra, um recebível ou uma dívida corporativa, em um único veículo”, explica Fleury. “Hoje, você tem o custo e a complexidade de estruturar três fundos para aproveitar essas oportunidades.”
Os planos da eB Crédito Agro não estarão restritos, porém, aos Fiagros. Fleury não revela detalhes, mas ressalta que, além de novos fundos nessa modalidade, a operação vai encorpar sua oferta com uma safra de produtos específicos para determinados segmentos do agronegócio.
A ideia é que a operação não se limite ao crédito e dialogue com outras linhas da eB Capital. A principal delas, a de private equity, em que a gestora mantém um portfólio com ativos como Alloha Fibra, Proz, Hilab, Blue Health, Green PCR e Proz, entre outros.
“O nosso negócio é muito vinculado à informação e o fato de entrarmos pelo balanço nos dá a possibilidade de conhecê-las a fundo e abre portas para outras interações, inclusive, de equity”, diz Melzer. “Sinergicamente, é sensacional, pois, na prática, é um super due diligence.”