Após anos cobrando preços baixos por seus serviços, gerando bilhões de dólares em prejuízos, as empresas de streaming passaram o último ano reajustando para cima os planos, seguindo o mantra que tomou conta do mundo das startups, em que rentabilidade passou a contar mais que crescimento.
Numa primeira análise, a estratégia parecia arriscada, diante da possibilidade de redução da base de assinantes. Mas a escalada de preços não parece estar afastando os consumidores do mundo dos streamings.
Um levantamento feito pelo Bank of America (BofA) aponta que os consumidores estão assinando e gastando cada vez mais com esses serviços - pelo menos nos Estados Unidos.
De acordo com relatório do banco publicado pelo site Marketwatch, os gastos dos americanos com streaming em janeiro deste ano subiram mais de 70% em relação a 2021, com a quantidade de lares pagando mais de US$ 100 por mês nesses serviços (é mais que o dobro na mesma base de comparação). Já a quantidade de famílias gastando menos de US$ 20 caiu cerca de 16%, no mesmo período.
Para o BofA, o movimento é puxado pelas gerações mais novas, numa demonstração da perda de força da indústria de televisão tradicional e de TV a cabo entre os mais jovens.
“Os Millennials e a Geração X estão pagando mais pelo streaming, uma vez que eles pagam por diversas assinaturas”, diz trecho do relatório. “Esses grupos também registram os maiores aumentos de participação entre o total de assinantes de streaming nos últimos três anos.”
A situação acaba abrindo caminho para que as empresas de streaming possam aumentar os preços, sem temer uma piora do churn, métrica utilizada para mostrar o número de clientes que cancelam serviço em um determinado período de tempo. A aposta é de que os consumidores aceitarão os reajustes ou migrarão para opções mais baratas, com veiculação de propaganda.
Um levantamento divulgado pelo The Wall Street Journal em agosto do ano passado mostrou que o custo médio dos planos sem publicidade cresceu quase 25% nos Estados Unidos, em uma comparação de 12 meses.
Em meio a um cenário mais favorável para reajustes, a expectativa é de que novos reajustes venham por aí. Depois de aumentar os preços do plano básico nos Estados Unidos em outubro, de US$ 9,99 para US$ 11,99 ao mês, a Netflix deve fazer um novo repasse de preços em 2024.
Essa é a visão do UBS. Em relatório divulgado em 27 de fevereiro, a equipe de research banco suíço afirma que a medida, junto com a perspectiva de aumento da receita vindo do plano com propaganda e de ganho de assinantes, deve levar a um crescimento de 15% da receita em 2024. Em 2023, a receita da Netflix cresceu 6,6%, para US$ 33,7 bilhões.
No Brasil, quem recentemente anunciou reajuste no preço dos streaming foi a Amazon. A partir de 8 de março, a assinatura mensal passará de R$ 14,90 para R$ 19,90, segundo anuncio feito em 8 de fevereiro. O plano anual subirá de R$ 119 para R$ 166,80.