A Bluebell Capital Partners voltou à carga contra Larry Fink, da BlackRock. Depois de pedir a sua renúncia no fim de 2022, a gestora ativista britânica quer agora separar os cargos de chairman e CEO, ambos ocupados por Fink desde que ele cofundou a empresa, em 1988.
Segundo o jornal The Wall Street Journal, a Bluebell apresentou uma proposta para mudar o estatuto da maior gestora de recursos do mundo, com cerca de US$ 10 trilhões em ativos sob sua administração, para fazer com que a presidência do conselho de administração seja ocupado por um diretor independente, diante do risco de conflito de interesse.
A Bluebell argumenta que o conselho da BlackRock, composto por 17 membros, é muito grande e não é independente o suficiente para supervisionar Fink. Para a gestora, é preciso tomar medidas para “corrigir sua função de supervisão, que está mal executada”.
A proposta aponta ainda que a falta de supervisão resultou em “diversas contradições e inconsistências entre a estratégia ESG da BlackRock e sua implementação”. Apesar do pedido de separação dos cargos, a Bluebell afirma que a proposta não representa um voto de desconfiança contra Fink.
A questão do ESG foi um tema na campanha lançada pela Bluebell contra Fink, em 2022. Na ocasião, os sócios fundadores da gestora, Giuseppe Bivona e Marco Taricco, chamaram a iniciativa do CEO nesta frente de “hipocrisia” e que ela trazia “risco reputacional” para a BlackRock.
Eles destacaram a possibilidade de a BlackRock ser acusada de greenwashing, citando que a gestora era a principal acionista de empresas com alto risco de sustentabilidade, como produtoras de petróleo e gás e termelétricas movidas a carvão. Não há informações públicas sobre o tamanho do portfólio da Bluebell.
Por anos, Fink advogou que fundos de investimento e empresas levassem em conta em suas estratégias fatores ambientais, sociais e de governança corporativa. Avançando para 2024, porém, o CEO da BlackRock parou de mencionar a sigla em cartas e comentários públicos.
Além de uma reação de especialistas conservadores contra o chamado “capitalismo woke”, críticos afirmaram que a defesa pelo ESG ia além do dever fiduciário da BlackRock, de maximizar os retornos financeiros dos clientes. Diante disso, a gestora passou a focar em “investimentos de transição”, sem pressionar por mudanças no comportamento empresarial.
A grande questão é saber se a Bluebell terá sucesso em implementar a mudança que está propondo agora. Com uma participação de apenas 0,01% na BlackRock, cujo valor de mercado soma US$ 120 bilhões, a gestora britânica precisará trazer para o seu lado grandes investidores.
O maior acionista, a Vanguard, tem uma participação de 8,65%. Quem também consta na base é a Temasek, com 3,42%, e o Bank of America Corporation, com 3,40%.
Em resposta à proposta da Bluebell, a BlackRock afirmou que o conselho considerou a medida, mas entendeu que ela não atende aos interesses dos acionistas. “O conselho considerou novamente neste ano que o serviço de Fink como CEO e presidente do conselho de administração representa a estrutura de liderança mais apropriada e efetiva”, diz trecho da carta.
Pode ser difícil, mas a Bluebell conta com uma vitória relevante no currículo. Em 2021, a gestora esteve por trás da derrubada de Emmanuel Faber da liderança da gigante alimentícia Danone, em 2021, diante das críticas de que o desempenho da companhia estava aquém do esperado, com queda nas vendas desde o início da pandemia.