Em linha com o script cumprido em seus últimos resultados, a Usiminas voltou a desagradar os investidores com o seu balanço referente ao primeiro trimestre de 2024, divulgado na manhã desta terça-feira, 23 de abril, antes da abertura do pregão.
Dessa vez, porém, a reação negativa do mercado veio de maneira muito mais intensa. As ações preferenciais da empresa abriram as negociações com um recuo de mais de 2% e lideraram as perdas no Ibovespa durante toda a manhã na B3.
Por volta das 12h30, os papéis despencavam 11,26%, cotados a R$ 9,38, dando à empresa de siderurgia brasileira um valor de mercado de R$ 11,1 bilhões. No ano, as ações acumulam uma valorização de 2,7%.
“O ano de 2024 começou com um cenário desafiador, com forte pressão das importações e das condições absolutamente desleais de competição”, afirmou Marcelo Chara, CEO da Usiminas, em conferência com analistas sobre o resultado apurado no período.
Em mais de uma oportunidade, o executivo citou os impactos da importação do aço, em especial com origem na China, sobre todo o setor. Essa tem sido uma pauta recorrente no segmento, que vem cobrando do governo federal a elevação das tarifas sobre os produtos vindos do exterior.
“Toda a cadeia vem sofrendo com o volume de importações desleais, em muitos casos, com preços abaixo do custo”, disse Chara. “O Chile, os Estados Unidos, a Europa, todo mundo está colocando mecanismos para evitar essa prática e confio que o Brasil possa evoluir na direção correta.”
Sob esse contexto, mais que o resultado divulgado nessa terça-feira, o que parece ter influenciado na reação extremamente negativa do mercado foram as sinalizações de um patamar estável nos volumes e preços do aço para o segundo trimestre de 2024.
“Acreditamos que as expectativas da empresa de um desempenho sequencialmente estável na divisão de aço no segundo trimestre podem ser uma decepção para os investidores que estavam mais otimistas com as perspectivas de uma recuperação mais forte”, ressaltou o Itaú BBA, em relatório.
Com recomendação outperform e preço-alvo de R$ 12 para a ação, o banco também destacou os volumes de vendas de aço reportados no primeiro trimestre, que vieram mais fracos do que os indicadores do setor, na casa de 5%. A Usiminas registrou alta de 1%, para 1,04 milhão de toneladas.
O Itaú BBA pontuou ainda que as projeções de estabilidade se estendem ao segmento de mineração, cujos resultados foram afetados por preços realizados mais baixos e volumes mais fracos. No primeiro trimestre, a divisão reportou vendas de 1,96 milhão de toneladas, alta de 4% em base anual.
Já a XP, que reiterou a recomendação neutra para a ação e ressaltou os resultados abaixo do esperado no trimestre, foi mais uma a adotar um viés menos favorável para a companhia a partir do balanço e, principalmente, das projeções para esse trimestre.
“Esperamos uma perspectiva cautelosa para o segundo trimestre, após as indicações da empresa de volumes e preços de aço estáveis no próximo trimestre, com o custo de produção vendida por tonelada (CPV/t) como a principal surpresa negativa”, escreveram os analistas Lucas Laghi e Guilherme Nippes.
A dupla observou ainda que, com o capital de giro mais próximo dos níveis normalizados e sem a visibilidade de aumentos nos preços do aço em um futuro próximo, enxerga um espaço limitado para melhorias no fluxo de caixa livre da empresa ao longo de 2024.
Sobre a indicação de estabilidade nos custos de produção de aço no segundo trimestre, Thiago Rodrigues, CFO da Usiminas, apontou que os avanços em produtividade com a reforma do alto-forno 3 estão sendo “ofuscados”, em parte, pelos preços das placas de aço compradas de terceiros.
“Houve um aumento significativo nos preços entre o fim de 2023 e o início de 2024, e esse efeito começa a ser sentido no próximo trimestre”, afirmou o executivo. “Além disso, as negociações são realizadas em dólares, então, a desvalorização do câmbio também impacta nessa linha.”
A desvalorização do real também foi uma das questões que impactaram o resultado no primeiro trimestre. Entre janeiro e março, a Usiminas apurou um lucro líquido de R$ 36 milhões, queda de 93% sobre igual período, um ano antes. A receita líquida recuou 14%, para R$ 6,2 bilhões.
No trimestre, a companhia reportou um volume de vendas de aço de 1,04 milhão de toneladas, alta de 1% sobre o patamar registrado no mesmo intervalo de 2023. Já o volume de vendas de minério cresceu 4%, para 1,96 milhão de toneladas.
A Usiminas encerrou o período com um Ebitda ajustado de R$ 416 milhões, queda de 47%. A margem Ebitda ajustada teve uma retração de 4 pontos percentuais, para 7%, e a companhia somou R$ 5,7 bilhões em caixa e equivalentes de caixa.
Já a dívida líquida foi de R$ 310 milhões, um crescimento de 9% em base anual. Enquanto a alavancagem da operação, medida pela relação dívida líquida/Ebitda saiu de 0,07 vez, há um ano, para 0,22 vez.