A partir deste ano, os investidores de fundos exclusivos fechados terão de pagar come-cotas semestralmente, em maio e em novembro, perdendo o benefício do diferimento fiscal. Com a mudança, as famílias donas de grandes fortunas estão revisando suas estruturas para torná-las o mais eficiente possível. E os wealth managers estão analisando como fazer isso.
“Na primeira análise temos que olhar o que existe dentro desses fundos que faria sentido a gente tirar e automaticamente voltar a ter o benefício fiscal da não tributação. O que é fundo de ações, FDICs e FIPs. Essas alocações não fazem mais sentido em fundo multimercado exclusivo que será taxado semestralmente”, afirma Ricardo Lopes, head do family office da Monte Bravo, ao Wealth Point, do NeoFeed.
Por conta disso, muitos fundos exclusivos multimercado, que tinham grande alocações em renda variável, se transformaram em fundos de ações (FIA, que precisa ter 67% em ações) para fugir da tributação no novo enquadramento. Mas isso não significa que a alocação em renda variável aumentou, apenas que outros ativos saíram de lá.
“Imagina um investidor que tenha um fundo de R$ 100 milhões, dos quais metade está em ações. Para se enquadrar como FIA, ele tinha duas opções: aumentar um pouco a parcela de renda variável ou resgatar outros investimentos, como incentivados. E a maioria tem optado pela segunda opção, porque o apetite pela bolsa, apesar de ela estar descontada, ainda está baixo”, diz Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha Investimentos.
O que não está nessas classes está sendo pensado em outras estruturas, como carteiras administradas, ideal para ativos isentos para pessoa física, e fundos de previdência, cuja alíquota de imposto é reduzida a 10% depois de 10 anos.
“A previdência é um excelente instrumento, não só pelo benefício fiscal como pela eficiência na sucessão, que não era usado pelo mercado e agora ganha mais relevância, assim como as carteiras administradas”, afirma Lopes.
Apesar de novos instrumentos estarem ganhando espaço, o fundo exclusivo continua sendo um veículo eficiente para sucessão de patrimônio. Mas para quem ainda estava estudando montar o fundo mais com o intuito fiscal, já não faz sentido.
“A gente tem visto, de fato, alguns investidores perdendo o incentivo de montar o fundo exclusivo pois estavam em busca do diferimento. E há outros instrumentos agora melhores para se fazer isso. Agora, a gestão ficou mais complexa para otimizar sucessão, retorno e imposto”, disse Marcatti.
E alguns detentores de fundos exclusivos estão desmontando suas estruturas, mas por outro motivo: medo de um novo leão fiscal atacar, com uma elevação do imposto de transmissão causa mortis e doação (ITCMD).
“Hoje, o Brasil tem um dos menores impostos de herança do mundo, com limite de 8% pelo governo federal. E na tendência de aumentar as arrecadações, especulasse que essa alíquota pode aumentar. Pelo risco, alguns estão antecipando doações”, explica Lopes.
“Com esse risco já eminente, alguns investidores estão preferindo desmontar uma parcela do fundo, dando liquidez e antecipando essa herança e garantindo a alíquota atual”, complementa Marcatti.
Entre tantas novas variáveis, os wealth managers, que estavam acostumados com o fundo exclusivo resolvendo quase tudo, agora terão de escolher, entre diversos instrumentos, quais são os mais eficazes para determinado objetivo e perfil de alocação. O fundo exclusivo, no entanto, continua sendo um deles.