A Dasa, controlada pela família Bueno, confirmou, em fato relevante, o que já vinha sendo ventilado no mercado: o grupo tem duas propostas de fusão na mesa, como parte da busca de alternativas para recuperar a sua saúde financeira.
A primeira envolve negociações em curso e em “estágio avançado” para uma união com a Amil no segmento de hospitais. No estágio atual das conversas, cada empresa teria 50% do capital da Ímpar, operação da Dasa no setor, que passaria a ter 12 unidades da companhia e outras 9 da “nova sócia” - ficariam de fora os dois hospitais da Amil no Nordeste.
Os termos que estão sendo discutidos – e que foram antecipados, em parte, pelo jornal Valor Econômico – também incluem a transferência de pelo menos R$ 3 bilhões da dívida da Dasa para a Ímpar, sua operação no setor, sendo R$ 3,85 bilhões o valor atual das conversas.
“Para a dívida, o negócio com a Amil é ótimo, mas para o equity é mais difícil”, avalia um gestor que está posicionado no segmento de saúde. “Dinheiro nunca foi um problema para a Dasa, que sempre teve capital disponível. É o modelo de negócio que precisa mudar.”
Já a segunda opção passa pelo recebimento, por meio do BTG Pactual, que está assessorando a Dasa nesses processos, de um documento do empresário Nelson Tanure, controlador da Alliança (ex-Alliar), grupo de medicina diagnóstica, propondo a combinação das duas operações.
Segundo o fato relevante, a transação, cuja proposta foi antecipada pelo Broadcast, serviço de notícias do jornal O Estado de S. Paulo, envolveria um aumento de capital, em dinheiro, da Dasa, e não incluiria uma aquisição do controle da companhia.
Tanure pediu ao BTG até dois dias para enviar uma contraproposta. Mas, pessoas a par da negociação, disseram ao NeoFeed que esse documento já está na mesa da Dasa.
A intenção de Tanure, que recentemente aumentou sua posição na Oncoclínicas, é conter o avanço da Amil no segmento oncológico. Ele e Bruno Ferrari, CEO da Oncoclínicas, têm interesse no negócio de oncologia da Dasa, mas se a fusão com a Amil for adiante, não só a concorrente aumenta a sua carteira no segmento como encerra a possibilidade de um deal para a Oncoclínicas.
Mas, ao longo do dia, uma terceira opção entrou no radar da Dasa e aparece como uma alternativa caso os M&As naufraguem. A venda de uma participação minoritária para a americana Quest Diagnostics passou a ser uma possibilidade mais concreta, disseram fontes a par da negociação para o NeoFeed.
A entrada da Quest, que projeta uma receita entre US$ 9,4 bilhões e US$ 9,48 bilhões para o ano de 2024, seria uma injeção de capital a mais na Dasa além do R$ 1,5 bilhão comprometido pela família Bueno. E, além de aliviar o endividamento, manteria a empresa independente.
Amil na dianteira
Conforme apurou o NeoFeed, diante dessas três escolhas, quem está mais avançada no páreo é a Amil. Entre outras questões, essa proposta desponta como favorita pelo fato de a empresa manter um ponto relevante em comum com a Dasa.
"O setor de saúde continua mal e os gestores continuam não olhando para Dasa. Mas, além da família Bueno, o BTG também tem interesse na fusão porque emprestou dinheiro para os dois lados", diz um gestor que já foi comprado no papel.
Em uma parte dessa equação, a Dasa levantou R$ 1,5 bilhão em um follow on realizado em abril de 2023. Desse total, R$ 1 bilhão foi aportado pelo clã Bueno e outros R$ 500 milhões foram injetados pelo BTG Pactual.
Já em dezembro do mesmo ano, o BTG foi um dos bancos que financiaram a aquisição da Amil por José Seripieri Junior. Mais conhecido no setor como Junior, o empresário assinou um “cheque” de R$ 11 bilhões para comprar a empresa da UnitedHealthGroup.
A agenda que aproxima as duas empresas não está limitada, porém, a essas datas e operações. Um outro ponto que reforça esse possível laço é o fato de a proposta envolver a transferência de uma parcela considerável da dívida líquida da Dasa, hoje na casa de R$ 9,6 bilhões, para a nova companhia.
Esse eventual alívio no balanço se conectaria com o anúncio feito no último mês de maio pela Dasa de uma injeção de recursos de R$ 1,5 bilhão da família Bueno, como um adiantamento para um futuro aumento de capital.
Na oportunidade, ao grupo informou que o aumento de capital será realizado em 31 de dezembro de 2024 ou antes desse prazo, caso a companhia consiga concretizar qualquer transação que resulte na redução da sua dívida líquida em pelo menos R$ 2,5 bilhões.
“O maior problema da Dasa hoje é o endividamento”, diz Harold Takahashi, sócio da boutique de M&A Fortezza Partners. “E a Amil é uma empresa mais estabelecida, com um modelo de negócios mais robusto e um endividamento mais controlado que a Alliança. É um porto mais seguro.”
Nessa visão, a Alliança traz em sua proposta o peso de uma dívida líquida de R$ 831,1 milhões no rimeiro trimestre de 2024. A cifra é menor do que o montante de R$ 873,3 milhões no fim de dezembro. Mas, nesse intervalo, a alavancagem da operação saiu de 3,72 vezes para 3,80 vezes.
Ao mesmo tempo, o fato de a Alliança operar, basicamente, no segmento de medicina diagnóstica por imagem também é visto como um elemento que reduz o seu poder de barganha. A Amil, por sua vez, além dos hospitais, traria uma operadora de planos de saúde para a conta da Dasa.
Esse novo braço, que já foi alvo de especulações sobre um possível movimento da Dasa no passado, inclusive com a Amil, posicionaria o grupo em um modelo próximo de rivais como a Rede D’Or, que, em fevereiro de 2022, anunciou a compra da SulAmérica, em uma transação avaliada em R$ 15 bilhões.
Outros movimentos mais recentes também reforçam essa aproximação entre os hospitais e os planos de saúde. Em maio, a própria Rede D’Or e a Bradesco Seguros se uniram para criar a nova rede de hospitais Atlântica D’Or.
Antes, em dezembro de 2023, a Mater Dei anunciou uma joint venture também com a Bradesco Seguros para erguer, a princípio, um hospital em Santana, na Zona Norte de São Paulo, o que vai marcar a entrada da rede mineira no mercado paulista.
Em contrapartida, apesar de uma tendência em fortalecimento no segmento da saúde, essa combinação entre operadoras de planos de saúde e hospitais também esconde alguns riscos, como já foi observado, em particular, no caso de Rede D’Or e SulAmérica. E com Dasa e Amil não seria diferente.
“A Dasa tem, por exemplo, atende a Bradesco Seguros, a SulAmérica, a Porto e as Unimeds em planos de saúde”, observa Takahashi. “Essas operadoras podem optar por não fortalecer a empresa em uma eventual associação com uma concorrente, no caso, a Amil.”
Outro componente que surge como um possível desafio na associação passa pelas mudanças recentes nas gestões das duas companhias. Enquanto Junior assumiu recentemente a Amil, na Dasa, Licio Cintra substituiu, em janeiro desse ano, Pedro Bueno como CEO da Dasa.
“Se fossem empresas com gestores há bastante tempo no negócio, já seria um deal desafiador”, diz Takahashi. “Nesse caso, então, juntar duas culturas e duas lideranças que estão sendo construídas torna-se ainda mais difícil.”
Essa é, porém, mais uma frente em que a Alliança não leva vantagem, dado que o grupo também mudou seu quadro recentemente. Em fevereiro, Isabella Tanure, filha de Nelson Tanure, assumiu como CEO interina, em substituição a Pedro Thompson, cujo mandato ia até agosto de 2025.
Na B3, no reflexo das confirmações feitas pela Dasa, as ações da companhia, avaliada em R$ 3,04 bilhões, encerraram o pregão com alta de 4,62%, cotadas a R$ 4,08. Já os papéis da Alliança fecharam o dia em queda de 3,22%, cotados a R$ 10,22. A empresa está avaliada em R$ 1,2 bilhão.