As novidades anunciadas pela Apple na segunda-feira, 10 de junho, na Conferência Anual de Desenvolvedores (WWDC) fizeram com que os analistas do Itaú BBA ficassem otimistas com a tese de investimento da companhia fundada por Steve Jobs (1955-2011).
Não só eles, mas o mercado como um todo, como se nota do comportamento das ações da Apple nesta terça-feira, 11 de junho. Por volta das 13h26, os papéis subiam 5,77%, a US$ 204,26, maior patamar da história, superando o recorde estabelecido em dezembro.
Apesar disso, o que foi apresentado não foi suficiente para os analistas Thiago Alves Kapulskis e Cristian Faria mudarem a recomendação para as ações neste momento. Mesmo afirmando que essa foi “a mais excitante WWDC em cinco anos”, a ponto de esperarem uma “aceleração do ciclo de substituição [de produtos]”, eles decidiram manter a recomendação neutra para o papel, com preço-alvo de US$ 188.
Para a dupla, a grande questão é que as ações da Apple negociam a um múltiplo P/E para o ano fiscal de 2025 de 26 vezes, um valor muito elevado, considerando a perspectiva de crescimento de até 10% do lucro por ação para os próximos três anos. Essa avaliação, porém, pode mudar, considerando o que a companhia apresentou no WWDC.
“Nós acreditamos que a Apple fez o melhor trabalho em muitos anos em trazer inovações a seus dispositivos”, diz trecho do relatório. “Nós consideramos ter sido o melhor evento desde o WWDC 2020, quando a Apple revelou o iPhone 5G.”
A grande novidade foi o anúncio da parceria com a OpenAI para incorporar a tecnologia do ChatGPT no sistema operacional do iPhone, trazendo a tecnologia de IA generativa aos smartphones Apple.
Na corrida das big techs para se posicionarem em IA, a Apple estava bem atrás, a ponto de ser questionada por investidores, desenvolvedores e fãs. O tema ficou ainda mais relevante depois de a companhia registrar queda de receita em cinco dos últimos seis trimestres.
Para os analistas do Itaú BBA, a introdução da IA da OpenAI deve ajudar a retomar as vendas de iPhones. Segundo eles, o ciclo de substituição dos smartphones da Apple se estendeu significativamente, devido a vendas lentas nos últimos 18 a 24 meses. A chegada de aparelhos com IA pode mudar isso.
“Parecem existir incentivos suficientes para os usuários comprarem novos iPhones”, diz um trecho do relatório. “Os recursos de IA serão limitados aos modelos iPhone 15 Pro e superiores, incentivando os usuários a atualizarem seus telefones.”
Essa possibilidade fez os analistas mudarem a postura em relação às ações da Apple, deixando de estar em “compasso de espera”, avaliando que os resultados podem melhorar à medida que os iPhones dotados de IA chegam ao mercado, calculando a possibilidade de um crescimento do lucro por ação acima de 10%, entre 11% e 15%.
“Acreditamos agora que existe uma chance real de um ‘superciclo’, que pode prejudicar os investidores que estão completamente fora da Apple”, diz trecho do relatório. “Neste cenário, o P/E para o ano fiscal de 2025 parece ser um múltiplo justo.”
Os analistas do Itaú BBA vem apresentando há tempos uma postura cautelosa em relação à Apple, citando valuation esticado e falta de crescimento da empresa. Em 2022, enquanto 23 de 28 casas de research tinham recomendação de compra para as ações, o banco sugeria a venda dos papéis.
Em maio, os analistas elevaram a recomendação para neutro. Ainda assim, eles permanecem entre os poucos com esta postura – segundo o site TipRanks, entre 34 casas que analisaram a companhia nos últimos três meses, a maioria (23 no total) possui recomendação de compra, enquanto dez recomendam um posicionamento neutro e apenas uma diz para vender.
No ano, as ações da Apple registram alta de 6,2%, com o valor de mercado somando US$ 3,1 trilhões.