A euforia do mercado de ações dos Estados Unidos com o desempenho das empresas de tecnologia envolvidas no desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial (IA) deverá impulsionar o índice S&P 500 em mais 27% antes de atingir o pico, no próximo ano, seguido do estouro da bolha.

A previsão faz parte de um estudo da Capital Economics, empresa de consultoria americana. De acordo com Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics, esse crescimento de dois dígitos do S&P previsto levaria o índice de referência a atingir o pico de 7.000 pontos em 2025 - hoje o indicador está pouco acima de 5.500 pontos.

A rigor, a previsão está em linha com o atual desempenho das ações das empresas tech – que levaram o S&P a quebrar 30 recordes apenas este ano. Shearing, porém, adverte que esse rally se trata de uma bolha destinada a estourar, mas que continuará a inflar até que isso aconteça.

“Se estivermos certos ao pensar que uma bolha nos preços dos ativos está crescendo em torno da IA – tal como inflou em torno de outras tecnologias inovadoras –, então é provável que inflacione ainda mais antes de rebentar”, disse ele, ao citar a previsão de mais 27% de aumento até o próximo ano. "E vai estourar. É um fato imutável nos mercados que as bolhas vêm e vão."

Embora o atual rally em torno das ações das gigantes tech tenha atraído comparações com a bolha pontocom de 2000, muitos analistas rejeitam a analogia, argumentando que as empresas desenvolvedoras de IA não estão tão sobrevalorizadas como as pioneiras da internet no início do século.

“Acho que continuaremos a obter um avanço sólido dos lucros dessas empresas, mas o entusiasmo dos investidores talvez supere esse crescimento”, disse Shearing, dando a entender que o mercado está otimista demais com a IA.

Embora seja inegável o peso das empresas tech americanas na valorização do S&P 500, o fato é que o mercado de ações das principais economias globais conseguiu se recuperar da crise causada pela pandemia.

De 2019 até 1º de julho, o índice Nikkei, do Japão, liderou o ranking dos principais mercados de ações, registrando taxa de retorno de cinco anos de 105%, seguido do S&P (86%) e MSCI World (79%) - o índice do Morgan Stanley formado por ações de empresas de médio e grande porte com atuação global.

As bolsas francesa (55%), alemã (47%) e inglesa (32%) também obtiveram bons índices de retorno desde o início da pandemia. Apesar de o índice Nikkei ter valorizado mais, rendeu menos em dólares, devido à desvalorização do iene.

Um dado, porém, reforça o peso das ações tech americanas no desempenho do S&P 500 no período. As pequenas capitalizações dos EUA, por exemplo, conforme medidas pelo Russell 2000 (índice que mede o desempenho de empresas desse segmento), têm um desempenho significativamente inferior ao da França e da Alemanha, e mal superam o desempenho da Grã-Bretanha devastada pelo Brexit.

O fato desses mercados globais de ações terem obtido retornos de cinco anos após mergulharem na recessão mais acentuada desde a década de 1930 não deixa de ser uma boa notícia num cenário marcado pela desglobalização.