Depois de “comerem poeira” na corrida para o desenvolvimento de carros elétricos, Nissan e Honda estão se unindo para melhorarem suas capacidades nessa frente. Mas esta parceria tem boas chances de se tornar uma aliança profunda entre as duas concorrentes.
As duas companhias anunciaram na quinta-feira, 1º de agosto, que assinaram um memorando de entendimentos para desenvolver softwares para veículos elétricos e fornecerem mutuamente baterias para esses carros, além de desenvolverem um modelo até o fim da década. A parceria inclui ainda a Mitsubishi Motors, montadora em que a Nissan detém uma participação de 34%.
“Nos campos de eletrificação, a velocidade das mudanças está bem além do que esperávamos”, disse o CEO da Honda, Toshihiro Mibe, segundo o jornal Financial Times (FT). “Se não nos mexermos, não conseguiremos alcançar [a concorrência].”
Segundo o FT, os executivos-chefes da Honda e da Nissan não descartaram uma associação de capital no futuro, acrescentando que a colaboração entre as partes pode não se limitar ao desenvolvimento de carros elétricos.
O CEO da Nissan, Makoto Uchida, afirmou que a companhia pretende manter sua atual aliança com a Renault na Europa, enquanto o acordo com a Honda é voltado para outros mercados. A aliança franco-japonesa já foi fundamental para as ambições globais da Nissan, mas perdeu força desde o escândalo envolvendo o brasileiro Carlos Ghosn.
“Me perguntam o tempo todo se isso significa o fim das nossas relações com a Renault, mas definitivamente não é o caso”, disse Uchida. “Mas a Nissan ainda tem muitos desafios para competir globalmente, por isso estamos em parceria com a Honda para expandir o nosso crescimento.”
No caso específico da colaboração na parte de carros elétricos, o acordo entre Honda e Nissan visa a aplacar as preocupações demonstradas pelos investidores das partes, que questionam se ambas têm escala e os recursos financeiros necessários para competir nesse novo mercado, em que a China tem avançado de forma acelerada.
Os chineses tomaram a liderança em carros elétricos e no desenvolvimento de baterias, graças ao apoio maciço de Pequim. A BYD, montadora que conta com o apoio da Berkshire Hathaway, do bilionário Warren Buffett, disputa o título de maior montadora do mundo em termos de venda com a Tesla, de Elon Musk.
O anúncio da parceria vem num momento em que muitas montadoras estão “recalculando a rota” dos investimentos em carros elétricos, diante de uma demanda abaixo do esperado dos consumidores por esse tipo de veículo, que vem preferindo modelos híbridos.
Um levantamento da consultoria Motor Intelligence mostra que as vendas de carros híbridos nos Estados Unidos somaram 128 mil unidades no primeiro trimestre, alta de 43% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já as vendas de automóveis elétricos cresceram apenas 2,7%.
Em 2023, as vendas de híbridos superaram a de elétricos nos Estados Unidos, com volumes de 1,4 milhão e 1,1 milhão de veículos, respectivamente, de acordo com a plataforma Edmunds. No período, o primeiro segmento cresceu 63%, enquanto o segundo avançou 51%.