O pouso forçado na produção de todos os aviões Boeing modelo 737 MAX, anunciado na última segunda-feira, 16 de dezembro, lançou a General Electric (GE) contra fortes turbulências financeiras - mais uma vez.

Isso porque a gigante americana, que atua nas mais diversas áreas, de transporte a energia, era responsável, em uma joint venture com a francesa Safran, por fornecer as turbinas das aeronaves, cuja fabricação será interrompida em janeiro, sem prazo para ser retomada. 

Essa mudança brusca de rota por parte da Boeing impacta duramente o fluxo de caixa da GE, que vem desde 2016 enfrentando uma série de dificuldades.

Em abril deste ano, o fluxo de caixa da GE caiu US$ 400 milhões por conta da Boeing. Na época, a fabricante americana de aeronaves reduziu de 52 para 42 ao mês o número de aviões 737 MAX fabricados.

Foi uma atitude drástica, mas necessária, depois que voos da aeronave foram suspensos em decorrência de dois acidentes envolvendo este mesmo modelo, vitimando 346 pessoas.

Agora, com essa "novidade", o fluxo de caixa da GE deve despencar em até US $ 1,4 bilhão em 2019. Analistas acreditam que, caso a suspensão se estenda, o estrago pode ser ainda maior.

O analista da William Blair & Co., Nick Heymann, projetou que a suspensão da Boeing poderia reduzir o fluxo de caixa da GE em mais de US $ 2 bilhões, dificultando a vida da companhia que, desde outubro de 2016 experimenta um lento e constante declínio.

A centenária GE, considerada um símbolo do capitalismo americano, já foi a empresa mais valiosa do planeta. Hoje, está avaliada em US$ 97 bilhões, bem distante da Apple, cuja capitalização é de US$ 1,2 trilhão.

A GE já foi a empresa mais valiosa do planeta. Hoje, está avaliada em US$ 97 bilhões, bem distante da Apple, cuja capitalização é de US$ 1,2 trilhão

Os papéis da GE estão negociados a pouco mais de US$ 11, valor muito inferior à sua máxima histórica de US$ 55,59, conquistados em julho de 2000. Mas eles estão acima de US$ 7,28, cravados em outubro do ano passado, quando atingiram o fundo do poço. Nesta terça-feira, 17 de dezembro, as ações da companhia fecharam em queda de 0,81%. 

Todas esses obstáculos não chegam a ser exatamente uma surpresa. No último relatório publicado pela GE havia um capítulo dedicado a "precauções relativas aos próximos relatórios", que já mencionava que "algumas incertezas em particular poderiam afetar as previsões para um futuro próximo". Ali constava, entre outros desafios, o acordo com a Boeing.

Por conta dessa situação, que pode ficar ainda pior com a crise da Boeing, a  companhia já estava se desfazendo de ativos para reduzir sua dívida, que era de US$ 108 bilhões no fim de 2018.

De acordo com reportagem publicada pelo jornal The Wall Street Journal, a companhia espera receber US$ 21 bilhões com a venda de ativos biofarmacêuticos. A GE ainda contava com US$ 20 bilhões em linhas de crédito junto a 36 bancos – acordo que expira em 2021. 

Em comunicado oficial, a empresa afirmou que mantém conversa com clientes e fornecedores "para minimizar o impacto da paralisação temporária de fabricação do 737 MAX, enquanto protege a capacidade da empresa de acelerar sua produção conforme necessário no futuro".

Todo empenho é necessário e compreensível, já que a aviação representa o maior negócio da GE em receita. Segundo a Melius Research a área de turbinas para aviões comerciais traria quase US$ 26 bilhões em receita no próximo ano, respondendo por 28% da receita total da GE. A projeção é que a receita da GE Aviation, em 2020, chegue a US$ 35 bilhões.

Mas enquanto os 737 Max continuarem no chão, a receita da divisão da GE terá dificuldade para decolar.

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