Nenhuma classe de fundos cresceu proporcionalmente tanto quanto os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), que no ano passado ultrapassaram, pela primeira vez, o montante sob gestão dos fundos de ações.
De olho nesse mercado aquecido, a gestora Ouro Preto Investimentos decidiu abrir para captação o FIDC que administra há dois anos em parceria com a fintech HR Digital, especializada em serviços financeiros para condomínios.
Desde que a Ouro Preto e a HR lançaram o FIDC, já foram realizadas 5.500 operações de recebíveis, utilizando o aporte inicial de R$ 38 milhões feito com recursos próprios de ambas as empresas. Agora, o objetivo é captar mais R$ 100 milhões neste ano e atingir a marca de R$ 1 bilhão até 2029.
O fundo apresenta retornos acumulados de 170% do CDI ao ano para a cota sênior, menos exposta ao risco de inadimplência. Já a cota júnior, mais vulnerável a eventuais prejuízos da carteira, registrou uma rentabilidade anual entre 25% e 27%. Devido à maior exposição ao risco, a cota júnior será mantida exclusivamente entre a Ouro Preto e a HR.
“Até agora, tratamos como um projeto piloto para testar a operação de crédito”, afirma João Baptista Peixoto Neto, CEO da Ouro Preto Investimentos. O FIDC é lastreado em certificados de recebíveis dos empréstimos concedidos pela HR Digital aos condomínios. Durante o período de teste, segundo Neto, não houve registro de inadimplência.
Alexander Alves Pires, CFO da HR Digital, explica que o risco de inadimplência é mitigado pelo serviço de garantia de receita oferecido pela fintech.
“Garantimos toda a arrecadação do condomínio, mesmo que alguns condôminos não paguem suas taxas. Posteriormente, cobramos os inadimplentes com os encargos devidos, mas o condomínio fica desonerado dessa responsabilidade, inclusive de ajuizar ações de cobrança”, afirma ele.
A taxa pelo serviço de garantia varia conforme o risco de crédito, avaliado com base em dados do condomínio e de seus moradores. “A inadimplência gira em torno de 10%, mas entra na esteira de cobrança administrativa e judicial. Quando ajuizamos, o condômino geralmente paga rapidamente, temendo perder o imóvel. A eficiência da cobrança é muito alta”, acrescenta Pires.
O serviço é oferecido para os 1.000 condomínios atendidos pela fintech. Contudo, o direito creditório sobre a taxa paga pelos condôminos não compõe a estrutura do FIDC, que mantém apenas os recebíveis atrelados às dívidas dos condomínios. Além disso, a HR deduz os custos dos empréstimos diretamente dos repasses aos condomínios, o que reduz o risco de inadimplência no fundo.
Com a abertura do FIDC para captação, a HR planeja ampliar significativamente sua oferta de crédito. Pires calcula um mercado potencial de 100 mil a 200 mil condomínios, mas também enxerga oportunidades em segmentos relacionados.
“Estamos desenvolvendo novos produtos, como empréstimos consignados para funcionários dos condomínios e home equity para os moradores”, diz o CFO.
Inicialmente, os esforços da Ouro Preto estarão focados no público institucional. “É onde está o grosso do dinheiro. Mas também distribuiremos nas plataformas de investimentos”, diz Peixoto Neto.
Futuramente, ele pretende ofertar as cotas sêniores, menos arriscadas, para investidores de varejo. “Já é um fundo com histórico de performance. Precisamos apenas adequar o regulamento à Instrução 175. Não será difícil, é uma questão comercial."