O iFood Pago, o banco digital da plataforma de entrega controlada pela Prosus, está fazendo o seu primeiro delivery. No ano fiscal que termina em março deste ano, o braço financeiro do iFood chegará à receita de R$ 1,2 bilhão, um resultado 20% acima das previsões iniciais.
Mas esse não é o único item de seu cardápio. Para mais do que dobrar a receita em 2025 (a meta é alcançar um faturamento de R$ 2,5 bilhões), o iFood Pago está preparando um cartão de crédito exclusivo, cuja bandeira ainda é mantida sob sigilo, para pessoas jurídicas, especialmente aos restaurantes conectados à plataforma de entrega.
“Um cartão de crédito comum tem milhas e vários outros benefícios. Esse vai ser destinado para garantir vantagens aos empreendedores. Ele vai poder acumular pontos que irão se transformar em insumos mais baratos para seus restaurantes”, diz Bruno Henriques, CEO do iFood Pago, em entrevista ao NeoFeed.
Oficialmente, o iFood Pago foi criado em junho do ano passado, embora bem antes a empresa já contava com verticais que atuavam como soluções financeiras aos donos de restaurantes. “De lá para cá, estamos crescendo muito. Foi um business que nasceu rentável.”
Dos 400 mil estabelecimentos cadastrados no iFood, 175 mil hoje estão conectados com serviços financeiros do iFood Pago, especialmente na conta digital, o equivalente a 43,5% do total. A meta de Henriques é de que esse número chegue a mais de 90% da base de restaurantes do iFood.
Pelos restaurantes cadastrados no iFood foram transacionados R$ 83 bilhões em pedidos de clientes entre janeiro e dezembro de 2024. A meta é passar de R$ 100 bilhões em 2025. “É o banco que vai suportar o crescimento da nossa plataforma.”
Um exemplo é que o faturamento do banco digital do iFood já representa 15% da receita total do iFood, que está na casa dos R$ 10 bilhões. Mas o plano é que o iFood Pago corresponda a metade da receita da companhia em cinco anos.
Entre as áreas que devem ajudar a atingir essa meta é o setor de crédito. Desde o início das operações, o iFood Pago já concedeu R$ 2 bilhões. O objetivo é chegar a março de 2026 com repasses de R$ 3,5 bilhões nesse segmento. Hoje o tíquete médio dos empréstimos é de R$ 200 mil por empreendedor.
Em um momento de juros altos - o que deve forçar os bancos a serem mais conservadores e rigorosos na hora de conceder crédito -, o iFood Pago tem grande parte das informações financeiras dos estabelecimentos, o que deve minimizar a inadimplência. “Pelas informações que já temos, conseguimos oferecer uma proposta melhor para cada restaurante, que inclui taxa de juros, prazo e carência”, afirma o CEO do iFood Pago.
Outro ponto em que o iFood Pago tem investido é na ampliação das máquinas de pagamento, que são chamadas de ‘maquinonas’. Em janeiro deste ano, o iFood Pago já contava com 1.580 devices ativos em comércios. Em março, segundo o executivo, a tecnologia, que foi lançada em setembro do ano passado, será responsável por R$ 100 milhões em TPVs [Total Payment Volume] somente em São Paulo.
“Não é só um aparelho para realizar pagamentos. É uma plataforma de CRM [Customer Relationship Management] que o dono do restaurante tem na mão”, diz. Com isso, é possível atrair para o delivery do iFood, com ativações e promoções, aquele cliente do restaurante mais acostumado a frequentar o salão do estabelecimento.
A área de benefícios será outra vertente importante para o banco digital. Hoje, ela corresponde a 20% da receita do iFood Pago, o que representa aproximadamente R$ 240 milhões.
Nessa vertical, que atua com um cartão pré-pago, a empresa tem uma base de 800 mil usuários e deve fechar em um milhão até março. A expectativa é de que, ao fim do próximo ano fiscal, em março de 2026, conte com dois milhões de funcionários de empresas ligadas ao setor de benefícios do grupo.
A estratégia de ser um superapp
O iFood Pago caminha em uma avenida que já tem o Mercado Pago, banco digital do Mercado Livre, como uma fintech consolidada para pequenos varejistas e microempreendedores desde 2004, ainda que não especificamente para donos de restaurantes.
No terceiro trimestre de 2024, a área financeira do marketplace alcançou US$ 6 bilhões no portfólio de crédito, segundo balanço divulgado pelo Mercado Livre, com alta de 77% sobre sobre o mesmo período do ano anterior. O Mercado Pago representa 26% da receita total do grupo.
“Quando o cliente entra no Mercado Livre e paga, o valor entra via Mercado Pago. Fazendo uma analogia, é esse o nosso caminho. E o banco é muito relevante no faturamento do Mercado Livre. O que a gente quer é que o iFood Pago sustente esse avanço”, diz Henriques.
Para Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), o modelo de crescimento dos dois bancos digitais ligados a plataformas de vendas é similar, ainda que tenham características diferentes do negócio.
“O iFood tem uma clara estratégia de se tornar um ecossistema, baseado no ativo da frequência da base de clientes e na capacidade de agregar serviços”, diz Serrentino. “Eles estão diversificando os produtos e se tornando um superapp, que envolve a vertical de serviços financeiros de pagamentos, hoje muito relevante no caso do Mercado Livre.”