A Éxes está nos trâmites finais para listar seu primeiro fundo de infraestrutura na B3. Ainda sem uma data definida, a expectativa é que a estreia ocorra ainda em fevereiro, sob o ticker EXIF11. Com R$ 1,4 bilhão sob gestão, a casa já tem outros dois fundos na bolsa: um imobiliário (EXES11) e outro voltado ao agronegócio (AGRX11).

O EXIF11 nasce com R$ 40 milhões investidos e o compromisso de chegar a R$ 100 milhões, caso surjam novas oportunidades. O primeiro negócio do fundo foi a alocação em debêntures incentivadas de projeto voltado à geração distribuída de energia – uma operação estruturada integralmente pela própria Éxes.

"Diferentemente da maioria dos fundos, que compram papéis já disponíveis no mercado, buscamos a originação direta, estruturando operações de forma independente", diz Artur Carneiro, fundador da gestora, ao NeoFeed.

A estratégia tem raízes na trajetória de Carneiro, que ajudou a estruturar a área de Project Finance do BTG Pactual, onde construiu relações próximas com os principais agentes do setor.

"Infraestrutura sempre esteve no nosso radar, mas era preciso ter mais escala. Agora, a ideia é resgatar esses contatos e aplicar na Éxes a lógica das operações diretas que fazíamos no mercado bancário."

Essa abordagem se torna ainda mais relevante diante do aperto dos spreads das debêntures incentivadas, que seguem próximos da mínima histórica – em alguns casos, com retornos abaixo da NTN-B.

"Nossa tese é ‘beber água limpa’: encontrar boas oportunidades e estruturar operações do jeito que acreditamos. Assim, conseguimos uma relação risco-retorno mais interessante, algo que ficou raro desde o ano passado", diz Carneiro.

Primeiro negócio

A primeira debênture do fundo foi originada a IPCA + 10,60%, até 300 pontos-base acima do retorno oferecido pelos melhores emissores. O título, com vencimento em 2037, financia um projeto de energia solar em Sorriso (MT), voltado à geração distribuída.

O diferencial está na estrutura da operação. A debênture conta com terras agrícolas como garantia – um ativo atípico nesse tipo de transação. São 2.130 hectares de áreas de cultivo de soja e milho na região de Sorriso, um espaço maior que São Caetano do Sul.

Artur Carneiro, fundador da Éxes
Artur Carneiro, fundador da Éxes

"Essa garantia fortalece a estrutura da dívida. O terreno pertence ao mesmo grupo econômico da emissora, ligada a uma família tradicional do agronegócio no Mato Grosso, com quem já tínhamos relações desde 2018. Isso facilita nossa análise de crédito", diz Carneiro.

A primeira tranche da debênture foi de R$ 27 milhões, com aportes adicionais de até R$ 150 milhões, dependendo da qualidade dos contratos de venda de energia que forem firmados.

"Estamos buscando off-takers que se encaixem no nosso equilíbrio de risco e garantam um nível de preço que traga gordura para o fluxo de caixa do projeto."

Próximos alvos e o foco em originação

Com o EXIF11 rodando, a Éxes já busca novos projetos, com atenção especial ao setor rodoviário. "Esse mercado tem apresentado boas oportunidades, especialmente em operações menores e em Parcerias Público-Privadas (PPPs). Mas a emissão de debêntures para PPPs ainda é muito tímida. Há um espaço grande para transações interessantes", afirma Carneiro.

Outros setores no radar incluem saneamento, iluminação pública e irrigação – segmentos que ainda não são recorrentes no mercado de debêntures incentivadas, mas que, segundo ele, têm potencial latente.

A estratégia da casa é originar debêntures e carregá-las até o vencimento, mas o fundo pode vender papéis se o mercado oferecer um prêmio interessante.

"Se o mercado enxergar uma relação risco-retorno tão boa que passe a negociar nossas operações em outro nível de taxa, não há problema algum em vender e reaplicar o dinheiro em novas oportunidades. Continuaremos originando."

Sendo fechado e listado na bolsa, o EXIF11 oferece liquidez ao investidor sem a necessidade de venda de ativos para honrar resgates.

"Investimos em ativos de longo prazo, que nem sempre têm liquidez imediata. Se tivéssemos um passivo de curto prazo, isso poderia gerar problemas. Com a listagem, resolvemos essa equação."

Com cotas e dividendos isentos de IR, os FI-Infras têm atraído cada vez mais investidores e gestoras. Em 2023, o número de fundos listados mais que dobrou, saltando de 13 para 28, com a entrada de players como Patria e JiveMauá.

Agora, a Éxes se junta a essa onda, apostando na originação independente para buscar retornos diferenciados.