Mais leve, menos alavancada e mais conservadora. Essa é a MRV que a diretoria prometeu entregar aos acionistas na reunião anual com investidores realizada na quarta-feira, 16 de abril. Em um tom de "mea culpa" com o mercado, o CEO Rafael Menin reconheceu os erros do ciclo de expansão iniciado em 2019 e reafirmou o compromisso de reduzir o endividamento com a venda de ativos.
O plano traçado pela gestão prevê uma drástica redução do banco de terrenos da empresa e uma reconfiguração das operações da Resia, subsidiária americana que, no ano passado, queimou US$ 88 milhões em caixa.
A diretoria estuda um eventual spin-off da operação nos Estados Unidos, embora também não descarte mantê-la sob o guarda-chuva da MRV. Antes de bater o martelo, a companhia pretende acelerar a venda de terrenos e propriedades na América do Norte. A meta é levantar US$ 800 milhões até 2027. A empresa admite, porém, que a pressa pode comprometer a precificação.
“A digestão do legado da Resia legado será positiva, mas vai ter custo no DRE [demonstração de resultado do exercício]. Vamos deixar dinheiro na mesa, mas isso faz parte do plano para ganhar velocidade de desalavancagem”, afirmou Menin.
A alavancagem, herança da tentativa de expansão dos últimos anos, tem cobrado um preço alto diante da elevação das taxas de juros. A MRV encerrou 2024 com dívida líquida de R$ 6,252 bilhões, um aumento de 24% em relação ao ano anterior. O prejuízo financeiro foi de R$ 767 milhões, 435% maior que em 2023.
O plano de venda de ativos teve início em 2023, mas deve ganhar tração em 2025, diante do custo crescente da dívida. Para este ano, a companhia projeta uma geração de caixa líquida de US$ 270 milhões, somando venda de ativos, receita com aluguéis, despesas financeiras e investimentos. Considerando as vendas de US$ 800 milhões entre 2025 e 2026, a geração de caixa prevista chega a US$ 480 milhões.
As vendas envolvem terrenos e imóveis multifamily, ativos frequentemente adquiridos por fundos imobiliários nos EUA. A Resia também enxugou sua presença geográfica e opera atualmente com apenas dois canteiros de obras no mercado americano.
No Brasil, a MRV também pretende reduzir significativamente seu banco de terrenos, hoje avaliado em R$ 2,387 bilhões — considerado excessivo pela empresa.
“Uma coisa que me tira o sono é esse estoque de terreno”, disse Raphael Albuquerque, diretor executivo de desenvolvimento imobiliário. “Tem terreno que a gente comprou há bastante tempo, que ainda estamos pagando. Uma forma de equilibrar isso, além de usar mais permuta, é vender terreno.”
O objetivo é reduzir esse volume para R$ 1 bilhão até o fim de 2029. Além das vendas ativas, Albuquerque projeta uma forte desaceleração nas novas aquisições — “salvo alguma exceção muito fora da curva, que gere muito valor no curto prazo”.
“A gente não cumpriu com o que prometeu nos últimos anos, e isso foi frustrante. Mas agora é diferente: temos um plano claro, metas objetivas e estamos totalmente comprometidos em entregar. A prioridade é desalavancar", diz Menin.
"Minha Casa, Minha Vida"
Os executivos também demonstraram otimismo com as mudanças anunciadas esta semana no programa Minha Casa, Minha Vida. “Grande parte dos projetos que a gente ia lançar no SBPE se encaixa perfeitamente no Faixa 4. Vamos migrar esses produtos para dentro da Faixa 4”, afirmou Thiago Ely, diretor comercial e de marketing. “Nessa faixa, o cliente pode financiar direto com a Caixa. Isso tira pressão do Flex e reduz nossa necessidade de fazer carteira.”
Mas a alteração mais impactante para a empresa, segundo os executivos, foi o aumento do teto das faixas 1 e 2. No caso da Faixa 1, o estoque aderente da MRV quintuplicou, mesmo sem mudanças nos preços ou subsídios, apenas com a nova configuração dos limites do programa. Na Faixa 2, a combinação de tetos mais altos e juros menores aumentou significativamente o poder de compra dos clientes.
“O programa já estava na sua melhor fase desde que foi lançado — e agora ficou ainda melhor com essa nova revisão que saiu ontem. É esperado, sim, que possibilite aumento de VSO, redução do pró-soluto e maior capacidade de compra do cliente. O resultado disso é extremamente positivo”, disse Ricardo Paixão, CFO da MRV.
Na B3, a ação da MRV acumula 2,1% de queda em 2025. O valor de mercado da companhia é de R$ 2,9 bilhões.