Enquanto o Brasil se vê às voltas com o aumento das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), o novo governo da Alemanha vai na direção contrária, anunciando na quarta-feira, 4 de junho, um pacote de € 46 bilhões em incentivos fiscais para o setor corporativo, em mais um passo para reanimar a economia alemã.

O anúncio foi feito simultaneamente ao início das negociações bilaterais entre Estados Unidos e União Europeia em Paris para reduzir as tarifas “recíprocas” dos EUA de 50% sobre produtos da UE, que entrarão em vigor em 9 de julho, indicando a iniciativa alemã como uma forma de amenizar o impacto do tarifaço americano.

O ministro das Finanças, Lars Klingbeil, delineou as medidas durante uma reunião de gabinete. Os incentivos fiscais, que incluem deduções para novos equipamentos e veículos elétricos, vão se estender até 2029, quando o mandato da coalizão liderada pelo chanceler (chefe de governo) Friedrich Merz deve expirar.

A partir de 1º de julho, as empresas poderão deduzir 30% do custo de novas máquinas e outros equipamentos de suas contas de impostos anualmente entre 2025 e 2027. A partir de 2028, a alíquota federal do imposto corporativo de 15% diminuiria em um ponto percentual a cada ano, para 10%.

As empresas também poderão depreciar 75% do preço de compra de veículos elétricos novos no primeiro ano, reduzindo assim sua renda tributável.

“As medidas visam enviar um sinal forte para a competitividade da Alemanha como local de negócios a curto e longo prazo”, afirmou Klingbeil. O pacote de redução de impostos corporativos é a segunda medida de peso do governo Merz para estimular a economia alemã, que vem acumulando indicadores pífios.

Logo após tomar posse, Merz anunciou um enorme plano de gastos públicos de mais de € 1 trilhão no longo prazo para modernizar as forças armadas e a infraestrutura obsoleta da Alemanha — o ponto central dos esforços do governo para reanimar a economia.

Merz, que havia feito campanha com uma plataforma pró-empresas, também prometeu subsidiar os custos de eletricidade da indústria manufatureira do país, que enfrenta dificuldades. Um ministério foi criado para reduzir a burocracia e acelerar a digitalização da administração.

Impacto das tarifas

As duas medidas devem ajudar a Alemanha a atenuar o impacto da elevação de tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump ao bloco europeu, que afeta diretamente o país.

Enquanto a política tarifária agressiva de Trump lança uma sombra sobre a perspectiva econômica global, a economia alemã, que depende mais do setor manufatureiro do que outros países da região, continua vulnerável à fraqueza persistente na produção.

A economia do país contraiu 0,2% em 2024 em comparação com o ano anterior. Foi o segundo ano consecutivo de contração, com o aumento da concorrência com a China e problemas estruturais freando a economia.

Em abril, o governo reduziu sua previsão de crescimento para este ano, anunciada anteriormente em 0,3%, para zero devido ao impacto das tensões comerciais globais após as políticas de Trump.

No terceiro trimestre de 2024, os investimentos corporativos da Alemanha em plantas, máquinas e veículos ficaram 9% abaixo do nível pré-pandemia, de acordo com o banco de desenvolvimento alemão KFW. Eles foram 11,5% maiores nos EUA e 1% maiores na UE como um todo no mesmo período.

O anúncio alemão de corte de impostos corporativos e o início das negociações comerciais entre os EUA e a União Europeia, em Paris, porém, foram ofuscados pelo anúncio de Trump, na noite de terça-feira, de dobrar as tarifas sobre aço e alumínio, de 25% para 50%, visando a proteger os produtores nacionais, impactando vários países, incluindo o Brasil.

A maioria das exportações da UE, no valor de € 380 bilhões por ano, já estão sujeitas a tarifas de 10%, com carros e peças a 25%. Quando Trump aumentou o nível ameaçado para 50% no mês passado, a UE concordou em acelerar as negociações.

“As negociações comerciais com os EUA avançam na direção certa”, indicou o Comissário Europeu de Comércio, Maros Sefcovic, em uma publicação nas redes sociais na quarta-feira.

Sefcovic e o Representante Comercial dos EUA, Jamieson Greer, “tiveram uma discussão produtiva e construtiva”, disse Sefcovic depois que os dois se encontraram à margem da reunião do Conselho Ministerial da OCDE, em Paris.