A farmacêutica brasileira EMS vai começar a vender nas redes varejistas, a partir da primeira semana de agosto, a primeira caneta para emagrecimento genérica do Brasil. O lançamento ocorre sete meses após a companhia obter autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), dada em dezembro do ano passado, para produção do medicamento à base de liraglutida.
O nome comercial do medicamento aprovado para obesidade será Olire. Além dessa, a empresa também começa a produção do Lirux, com mesmo princípio ativo, mas, neste caso, o medicamento é destinado ao controle de diabetes. Até o fim de 2026, os dois medicamentos devem gerar receita de R$ 100 milhões à farmacêutica.
“Já começamos a fase de visitação médica e vamos começar a abastecer as farmácias. Nosso desejo é de que as canetas emagrecedoras representem 25% do faturamento da companhia dois anos após os lançamentos”, diz Marcus Sanchez, vice-presidente da EMS, em entrevista exclusiva ao NeoFeed.
A empresa deve fechar 2025 com receita de cerca de R$ 10 bilhões, segundo Sanchez. Isso significaria R$ 2,5 bilhões vindo somente dessa nova linha.
A liraglutida é a primeira das moléculas análogas de GLP-1 que a EMS pretende colocar no mercado. A empresa também se prepara para comercializar o genérico da semaglutida, a partir do segundo semestre de 2026, quando expira a patente do medicamento no País.
A exemplo da liraglutida (que tem o nome comercial de Saxenda), antes da extinção da exclusividade, a patente da semaglutida (comercializada com o nome de Ozempic) pertence à dinamarquesa Novo Nordisk. Além da EMS, companhias brasileiras como Biomm e Cimed já demonstram interesse na produção do genérico do Ozempic.
Em média, o preço da caixa do Saxenda, com três canetas, nas farmácias é de R$ 788. Segundo a EMS, a liraglutida genérica será comercializada a um valor 20% abaixo (R$ 630).
Diferentemente da semaglutida, que é usado uma vez por semana, a liraglutida de primeira geração, que é a que será lançada, é de utilização diária. Se for usada na dosagem máxima, dura seis dias. Já o Ozempic, também na mesma proporção, dura quatro semanas.
Meio milhão de canetas em 12 meses
No primeiro lote, a empresa produziu 100 mil canetas (50 mil de Olire e 50 mil de Lirux). Até o fim do ano, a perspectiva é de abastecer demanda com mais de 250 mil unidades. Em 12 meses, a expectativa da EMS é de vender 500 mil canetas.
Com o pioneirismo no lançamento, a EMS pretende capturar parte significativa do mercado nacional de produtos para obesidade no Brasil, que hoje gira em torno de R$ 3,3 bilhões.
As canetas de liraglutida começaram efetivamente a serem produzidas nos últimos 30 dias em um parque fabril anexo à unidade principal da companhia, em Hortolândia, no interior de São Paulo. Hoje, a capacidade produtiva total da EMS é de mais de um bilhão de caixas de medicamentos por ano, somando todos os produtos.
A fábrica teve investimentos da ordem de R$ 500 milhões nos últimos 10 anos, levando-se em conta a construção em si e os custos de produção e desenvolvimento. Com a chegada da semaglutida, Sanchez avalia que serão aportados, até o próximo ano, mais R$ 100 milhões.
“Normalmente, reinvestimos cerca de 6% de nosso faturamento e vamos aumentando. Também estamos crescendo nosso time de técnicos especializados e repatriando brasileiros que se formaram no exterior”, afirma Sanchez, que participa, neste sábado, 7 de junho, de painel do Fórum Esfera, no Guarujá.
Os novos produtos da EMS já chegam ao mercado com a nova determinação da Anvisa em vigor, que obriga a retenção da receita para a compra dos medicamentos. Antes da resolução, não era necessário, o que contribuiu, em parte, para o grande volume de vendas de Ozempic no Brasil.
“Acredito que pode haver um pequeno impacto inicial, até o paciente ir ao médico e obter a receita. Mas o mercado se adequa. Temos históricos de outros produtos com receita retida e o fluxo se normalizou rápido”, diz o vice-presidente.
O interesse da companhia dirigida por Sanchez não está apenas no mercado brasileiro. Ainda neste ano, a empresa pretende exportar a liraglutida para os Estados Unidos, por meio de parceria com uma distribuidora local.
“Nos Estados Unidos, a liraglutida tem um mercado muito maior do que o Brasil e é mais disseminado por médicos e pacientes. A gente prevê que, por lá, a gente consiga alcançar US$ 1 bilhão nos próximos dois anos somente com essas canetas. Mas vamos entender, nos próximos meses, qual será a penetração internacional”, afirma Sanchez.