A taxa Selic a 15% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas, é um dos grandes vetores que moldam as decisões de investimento neste momento. E o cenário, segundo a equipe econômica do Banco do Brasil, não deve mudar tão cedo: a expectativa é que os juros sigam elevados até o fim de 2025, com um ciclo de cortes apenas a partir de abril de 2026.
“Estamos assumindo também para as decisões de alocação dos nossos clientes esse gradualismo nesse corte da Selic”, afirma Julia Baulé, estrategista-chefe do Banco do Brasil Private, ao Wealth Point, programa do NeoFeed.
Segundo ela, mesmo após o início do ciclo de flexibilização, a projeção do banco é de que a Selic encerre 2026 em torno de 12,5% ao ano, mantendo os juros em patamar historicamente elevado.
Esse ambiente reforça o protagonismo da renda fixa, que se tornou prioridade na carteira dos clientes do BB Private desde a virada de 2024 para 2025.
“Seguimos entendendo o protagonismo da renda fixa, não só do ponto de vista das taxas elevadas, mas também como forma de construir um portfólio balanceado e com bom carrego para o médio e longo prazo no ambiente de instabilidade atual”, diz Baulé.
Para clientes moderados, a recomendação é manter entre 70% a 80% do portfólio em renda fixa, sendo quer cerca de 60% deste total deve estar em pós e 40% divididos entre pré e inflação. Essas classes tendem a superar o CDI em ciclos de queda da Selic – e, por isso, é estratégico montar posições antes que o mercado antecipe os cortes de juros.
“Um ponto importante é que muitos clientes ainda estão subalocados em em pré e IPCA e precisam aproveitar esse momento para fazer os ajustes aproveitando condições muito atrativas historicamente falando”, diz a estrategista.
Além da renda fixa, a estrategista-chefe do BB Private destaca o papel da renda variável, mesmo em um cenário de juros altos. Segundo ela, a Bolsa brasileira segue descontada, tanto em dólares quanto em reais, e tem sido a classe de ativo que mais performou em 2025 até agora, mesmo com a Selic a 15%.
“Para o cliente moderado, nossa recomendação é manter cerca de 10% em renda variável, garantindo diversificação e exposição a uma classe que pode capturar ganhos relevantes no médio prazo”, diz ela.
Outro ponto central nas alocações do BB Private é a diversificação internacional. A recomendação para clientes moderados gira em torno de 10% a 15% em ativos no exterior, não apenas para buscar retornos em outras geografias, mas também como forma de reduzir o risco doméstico.
“Trazer a classe de investimento no exterior para dentro do portfólio faz com que a gente trabalhe também como um amortecedor em momentos de aversão a risco local”, afirma Baulé.
Segundo ela, o momento de incerteza global, com as decisões do Fed, as tensões geopolíticas e os ciclos de política monetária ainda indefinidos, não deve afastar o investidor do exterior. Ao contrário, há oportunidades não exploraras no Brasil com a mesma facilidade em setores como tecnologia nos Estados Unidos e mercado de luxo na Europa.
E quem perdeu espaço nas carteiras para dar mais espaço a renda fixa e a alocação global foram os multimercados, que hoje tem cerca de 10% de uma carteira moderada do banco.
Por fim, Baulé reforça que a volatilidade que marca os mercados não deve ser vista apenas como um risco. “A volatilidade, por muitas vezes, são janelas de oportunidade para alocação. O que estamos tendo bastante agora. É um bom momento para investir”, diz.