Algumas dezenas de bilhões de dólares separam as fortunas de Bill Gates e de Eric Schmidt. Enquanto o cofundador da Microsoft tem um patrimônio estimado de US$ 105 bilhões, o ex-CEO do Google e hoje conselheiro técnico da Alphabet tem US$ 15 bilhões de patrimônio.

Uma questão, no entanto, aproxima os dois colegas do Vale do Silício e resume uma característica de outros bilionários da indústria de tecnologia: a destinação de recursos para financiar projetos e pesquisas ligadas a temas como como sustentabilidade, saúde e desigualdade social.

Em tempos de Covid-19, a dupla tem se mostrado ainda mais ativa. E essa postura veio novamente à tona em uma iniciativa anunciada recentemente: a criação da The Pandemic Action Network (PAN), que reúne empresários, companhias e entidades com o objetivo de apoiar ações de combate ao coronavírus e futuras pandemias.

Lançado no fim de abril, com um aporte inicial de US$ 1,5 milhão, o movimento tem Gates e Schmidt entre seus membros, por meio de suas fundações, a Bill & Melinda Gates Foundation e a Schmidt Futures.

As primeiras iniciativas da rede já estão atraindo políticos e celebridades. Nesta semana, Hillary Clinton usou seus perfis no Instagram e Twitter para impulsionar a campanha #MaskingForAFriend, primeira iniciativa criada pela PAN, com o objetivo de reforçar a necessidade do uso de máscaras como medida de proteção. O ator ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, foi mais uma personalidade que aderiu à campanha em suas mídias sociais.

O grupo conta ainda com empresas como a Johnson & Johnson e entidades, a exemplo da Gordon and Betty Moore Foundation. Além do apoio de outros nomes do setor de tecnologia, como Dustin Moskovitz, cofundador do Facebook, que, por sua vez, é um dos empreendedores por trás da Open Philanthrophy, fundação dedicada a financiar projetos em áreas como biossegurança e combate a pandemias.

A democrata Hillary Clinton na campanha #MaskingForAFriend

Na prática, o plano da PAN é constituir uma rede global para influenciar e defender a adoção de políticas públicas junto a governos de todo o mundo, para que os países estejam melhor preparados para prevenir, detectar e responder a crises sanitárias do porte da Covid-19.

Ao mesmo tempo, no curto prazo, a ideia é que essa rede promova campanhas de comunicação para disseminar mensagens de conscientização e de informação sobre as medidas necessárias para que cada pessoa ajude a impedir a propagação do coronavírus.

“Sabemos há muitos anos que uma pandemia pode ocorrer a qualquer momento”, afirmou Gabrielle Fitzgerald, CEO e cofundadora da PAN. “Precisamos construir e manter a vontade política para garantir que medidas sejam implantadas e que haja financiamento para assegurar que todos os países estejam melhor preparados para o próximo surto.”

Uma das idealizadoras do projeto, Gabrielle atuou por dez anos na Bill & Melinda Gates Foundation. Ela também coordenou um fundo de US$ 100 milhões, da PGA Family Foundation, para combater o Ebola, em 2014. A fundação em questão foi criada por Paul Allen, cofundador da Microsoft, que faleceu em 2018.

Primeira iniciativa da PAN, a campanha digital #MaskingForAFriend está sendo lançada, inicialmente, nos Estados Unidos e na África do Sul. O grupo quer oferecer uma plataforma global de código aberto para mensagens e materiais de saúde pública a serem usados em todo o mundo. Países da América do Sul, Europa e África estão no radar das próximas ações.

Além das iniciativas nessa frente, a rede planeja estruturar ações em busca de recursos para financiar os projetos de pesquisa, desenvolvimento e acesso a inovações para combater ameaças emergentes de pandemia.

Nessa última vertente, um dos prováveis destinos do financiamento é a Coalização de Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI), fundada por Gates e dedicada ao desenvolvimento de vacinas e tratamentos contra surtos dessa magnitude.

Na ativa

À parte da PAN, Gates e Schmidt tem desenvolvido outras iniciativas relacionadas à Covid-19. Entre outras ações, a Bill & Melinda Gates Foundation anunciou um aporte de US$ 125 milhões em um fundo para financiar testes e pesquisas sobre o coronavírus, em uma parceria com a Mastercard e a entidade britânica Wellcome.

Gates tem sido também uma das vozes mais ativas nesse cenário. Por meio de artigos e entrevistas, ele vem se manifestando de forma recorrente sobre o tema. Seja ao tecer críticas sobre as respostas dadas pelo governo de Donald Trump à crise ou ao propor caminhos para enfrentar e superar a pandemia.

As críticas ao governo americano também unem Gates a Schmidt. Em uma live recente, o executivo de 64 anos, atacou a atuação de Washington no combate ao coronavírus e enalteceu o papel que vem sendo cumprido pelas empresas de tecnologia.

Ao mesmo tempo, no mês passado, Schmidt organizou uma videoconferência com cerca de 150 executivos do setor, filantropos e capitalistas de risco, com o objetivo de explorar potenciais projetos de pesquisa ligadas ao vírus.

Nesta semana, a dupla encontrou outro ponto em comum. Na terça-feira, 5 de maio, Andrew Cuomo, governador de Nova York, anunciou que a Bill & Melinda Gates Foundation e a Schmidt Futures vão colaborar com o desenvolvimento de um plano para repensar a educação no pós-Covid-19.

Gates e Schmidt estão colaborando com Andrew Cuomo, governador de Nova York, para repensar questões como a educação e a medicina no pós-crise

Entre outros aspectos, a ideia é entender como a tecnologia pode ser aplicada para reduzir a desigualdade educacional e identificar ferramentas que possam ser implementadas no ensino, a partir de conceitos como o aprendizado imersivo em salas de aula virtuais.

No dia seguinte, Cuomo também divulgou que Schmidt vai liderar um comitê destinado a planejar algumas iniciativas para o estado de Nova York passada a crise. Como prioridades, Schmidt elencou a telemedicina, a educação a distância e a infraestrutura de internet.

“Estamos trabalhando com alguns dos maiores líderes empresariais do país para garantir que possamos pensar fora da caixa para melhorar e modernizar os nossos sistemas para o futuro”, afirmou Cuomo, durante o anúncio.

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