Em um ano marcado pelas adversidades da Covid-19, o mercado de capitais brasileiro mostrou força ao atrair uma série de ofertas públicas iniciais de ações e follow ons. Na linha de frente da pandemia, o setor de saúde, no entanto, só decidiu testar o apetite dos investidores no apagar das luzes de 2020.
Apesar da “aparição tardia”, o segmento mostrou sua força. No início de dezembro, a Notre Dame Intermédica levantou R$ 3,75 bilhões em um follow on. Poucos dias depois, a Rede D’Or estreou na B3 avaliada em R$ 112,5 bilhões e captando R$ 11,39 bilhões, o maior IPO brasileiro desde 2013.
Se o fim do ano sinalizou um aquecimento, o início de 2021 mostra que o setor deve fazer soar a campainha na B3 com muito mais frequência. Nesta sexta-feira, 19 de fevereiro, a Hospital Care registrou o seu pedido de IPO na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Um dia antes, a rede de hospitais Mater Dei, com sede em Belo Horizonte (MG), também protocolou a sua oferta. O grupo tem forte presença na capital mineira, além de projetos em capitais como Salvador (BA).
Holding controlada pelos empresários Elie Horn, Julio Bozano e pelo fundo de private equity Crescera, que detém uma fatia de 46,15% na operação, a Hospital Care foi fundada em 2017 e é dona de hubs de saúde em Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP), São José do Rio Preto (SP), Curitiba (PR) e Florianópolis.
Na prática, o grupo opera no formato de sistemas únicos de saúde privado, com hospitais de grande porte e alta complexidade, e diversos negócios e estabelecimentos adjacentes conectados a essa instituição.
Essa rede foi formada a partir de uma série de aquisições, que incluiu ativos como o grupo Pilar, do Paraná, no fim de 2019, e o grupo Austa, de São José do Rio Preto, em março de 2020, já sob os primeiros efeitos da Covid-19.
Com essa estrutura e sob o comando do CEO Rogério Melzi, a Hospital Care reportou uma receita líquida de R$ 983,7 milhões em 2020, contra R$ 774 milhões, um ano antes. No período, o lucro líquido ficou em R$ 12 milhões, contra um prejuízo líquido de R$ 24 milhões em 2019.
De acordo com o prospecto preliminar protocolado hoje, a oferta pública, que está sendo coordenada pelo Itaú BBA, BTG Pactual, Bank of America e XP, envolverá emissões primárias e secundárias. No documento, a empresa sinaliza a destinação dos recursos que irão entrar diretamente no seu caixa.
Os investimentos serão feitos em quatro frentes: expansão e desenvolvimento de unidades que já compõem o portfólio; ampliação da participação societária em ativos comprados pela companhia; sistemas, inovação e tecnologia; e a compra de novos ativos.
Assim como a movimentação na B3, o crescimento inorgânico tem sido outra tônica do setor, que passa por uma onda de consolidação liderada por diversos atores. Entre eles, a Rede D’Or, que, desde o IPO, viu suas ações subirem mais de 24% e seu valor de mercado chegar a R$ 141 bilhões.
Essa tendência também envolve possíveis acordos entre empresas já listadas e que também vêm mostrando forte apetite por aquisições. Esse é o caso da Hapvida e da Notre Dame Intermédica que avaliam uma fusão de suas operações.
Em janeiro, a Hapvida fez uma proposta de união das suas operações com a Notre Dame. Se aprovado, o negócio criaria uma gigante dos planos de saúde, com 13,5 milhões de beneficiários, uma receita de R$ 18,2 bilhões, uma rede própria de 84 hospitais, 280 clínicas e 257 unidades de diagnóstico e, levando-se em conta os patamares atuais, um valor de mercado próximo de R$ 120 bilhões.
Outro destaque de um eventual acordo é a complementaridade das duas companhias. Enquanto a Hapvida tem maior capilaridade no Nordeste, Norte, Centro-Oeste e interior paulista, a NotreDame marca presença em estados como Rio de Janeiro, Paraná e na região metropolitana de São Paulo.
Ainda no mapa do setor, outra grande empresa já listada que promete novidades em breve é o grupo Dasa, de medicina diagnóstica. A empresa avalia a realização de um re-IPO, com uma nova oferta pública de ações e o ingresso no Novo Mercado da B3.
Essa possibilidade foi divulgada, inicialmente, em dezembro, pelo jornal Valor Econômico. Segundo o jornal, a companhia ampliar a fatia atual de 2,5% de ações em circulação para 10%. E captar, nesse processo, cerca de R$ 6 bilhões.
O plano foi confirmado, posteriormente, em fato relevante pela empresa que, em janeiro, divulgou ainda que está em processo de “seleção e engajamento” de instituições financeiras para coordenar a operação.